27 de dezembro de 2019
Porã
E, como sempre, Núbia estava certa. A chuva nos atingiu em cheio, fazendo com que precisássemos fechar as janelas do carro.
A discussão de mais cedo com certeza surtiu efeito, pois eu me sentia um pouco mais leve por ter acertado as coisas. Porém, embora a maconha ainda estivesse fazendo um pouco de efeito, eu estava começando a me sentir uma escrota por ter falado tanta merda o dia todo. E também pelo dia anterior. Marcos provavelmente estava mal com tudo aquilo.
- Amor? - chamei-o. - Quando chegarmos lá em Peruíbe, será que podemos conversar a sós?
- Claro - ele respondeu.
- Vocês podem fingir que eu não tô aqui - disse Dandara.
- Não, prefiro conversar com ele sozinha - falei.
Vi pelo retrovisor que Dandara concordou com a cabeça e se virou para a janela. Ela passava a mão no rosto, onde Núbia havia desferido o soco. Dandara provavelmente ficaria com o rosto roxo, até porque Núbia caprichou naquele soco.
Após algum tempo na estrada, o carro da frente parou e eu freei logo em seguida. Descemos do carro, tomando aquela rajada de vento e chuva, pegamos nossas coisas e caminhamos até Núbia, Matheus e Luana.
- Chegamos? - Marcos perguntou.
- Mais ou menos - Núbia respondeu. - A gente vai ter que andar um pedaço. Acho que os carros iriam atolar nessa lama toda, tá vendo?
Observei a estrada de terra. É, não daria pra passar ali de carro.
- Mas a entrada da cidade tá logo ali - Luana apontou para o horizonte, mas eu não vi nada. - Acho que vamos andar por uns 15 minutos.
- Vinte e cinco - Matheus corrigiu-a. - Tá chovendo pra caralho, tá cheio de lama, a gente vai escorregar...
- Então vamos andando - Dandara disse e começou a caminhar.
Começamos a caminhar também. Núbia estava toda encolhida, dava para ver que ela estava tremendo de frio. Matheus estava abraçado com Luana. Até que eles seriam um belo casal, pensei.
Mas essa Luana é meio estranha. Não sei, não confio 100% nela. Ela é simpática demais, puxa muito o saco da Núbia e fica posando de mediadora quando tem algum conflito. Vou ficar de olho nela por um tempo.
Matheus escorregou e Luana tentou segurá-lo, mas também escorregou e ambos caíram, ficando sujos de lama. Ao invés de levantarem, os dois ficaram deitados e rindo.
- Vem logo, gente - falei e estendi meu braço para ajudá-los.
- Não quero sua ajuda - Matheus respondeu e bateu na minha mão.
É, ele realmente não gosta de mim.
Eles conseguiram levantar sem ajuda e voltaram a caminhar. A chuva forte lavava seus corpos, livrando-os da maior parte da lama.
Conforme caminhávamos, eu enxergava melhor a entrada da cidade. Era um portão alto, que parecia ser feito de bambu, e havia uma garota negra no alto, empunhando alguma arma. Um rifle, talvez? Ela nos observava, mas ainda não fazia menção de atirar ou nos atacar.
- Deixem que eu falo com ela - disse Núbia.
Caminhamos mais um pouco, até chegarmos a uma distância não tão segura. A garota apontou o rifle para nós, até que paramos.
- Larguem as armas! - ela gritou.
Largamos nossas armas e mochilas no chão de lama.
- Se identifiquem! - a garota continuou.
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Verão dos Mortos
AdventureQuando a líder de um grupo de resistência sofre um golpe, é banida e jogada numa horda de zumbis, sua filha decide ir atrás dela para salvá-la. Mas, para que isso aconteça, ela precisará da ajuda de seus amigos e sua namorada, além de estar sempre a...