25 de dezembro de 2019
Ana Carolina
Luis me acordou às quatro e quarenta e cinco da manhã com um beijo na testa. Ele acendeu o abajur e pude ver que vestia uma cueca boxer e que seu cabelo estava molhado e penteado para trás.
- Eu engordei - disse ele enquanto passava a mão na barriguinha saliente.
- Eu engordei faz tempo e não tô sofrendo - falei enquanto dava um tapinha em sua barriga. - Você continua sendo o homem mais lindo do mundo.
Ele sorriu e me abraçou, enchendo meu rosto de beijos. Seu cheiro floral já se espalhava pelo quarto.
- Vou tomar banho - avisei.
Abri a janela do quarto antes de ir para o banheiro e vi que estava chovendo. Fiquei um pouco desanimada, afinal, dia de chuva significava dia de lama.
Tomei um banho rápido e me troquei. Vesti calça jeans e minha camisa mais elegante, calcei os coturnos e passei meu batom preferido. Voltei para o quarto e vi Luis observando a chuva pela janela. Seu olhar parecia perdido.
- Tá pensando em quê? - perguntei.
- No Carlinhos - ele respondeu cabisbaixo. - Hoje completam 40 anos da morte dele.
Levei a mão à boca com espanto. Eu havia me esquecido completamente. Quando percebi, estava chorando.
- Eu esqueci - falei, a voz embargada.
Luis me abraçou e ficamos chorando baixinho por alguns minutos.
- Vamos - disse ele após algum tempo. - Não podemos nos atrasar pra reunião do Conselho.
- Pra minha expulsão - falei baixinho enquanto pegava minha capa de chuva.
- Você não vai ser expulsa, meu amor - Luis fez aquele tom de voz que geralmente fazia para acalmar Núbia.
- Eu já tô velha demais pra isso - acabei falando num tom de voz ríspido demais. - Não precisa tentar me consolar com uma mentira, Luis. Você, mais do que ninguém, sabe que o Conselho não passa de um bando de velhos invejosos que nunca tiveram capacidade pra comandar isso aqui, e que agora querem tomar tudo de nós.
- Eu sei...
- Eu fico preocupada com vocês, sabe? Se eu cair, quem me garante que você e a Núbia não serão os próximos?
Observei Núbia e Dandara enquanto as duas dormiam. Como elas cresceram, pensei.
Saímos do apartamento e descemos as escadas. A rua estava lamacenta.
- A gente tem que resolver esse problema - falei, apontando para a lama.
- Um problema de cada vez, amor - Luis disse com calmaria.
Quando chegamos à sala de reuniões, todos os conselheiros já estavam lá. Luis e eu nos sentamos, enquanto todos nos encaravam. Jorge tinha aquele sorrisinho maldito no rosto.
- Qual o motivo dessa reunião? - perguntei. - Vocês não se reuniram sem mim ontem? Por que decidiram me fazer acordar de madrugada hoje?
- O motivo é simples - disse Jorge. - Você cometeu crime de traição e não merece continuar com o cargo mais alto desse grupo.
- Tá falando merda - Luis encarou Jorge. - Cadê as provas?
- Ainda bem que você perguntou - Jorge ainda estava com aquele sorrisinho maldito no rosto.
Depois disso, minha mente se esvaziou. Lembro-me de Jorge tirando um papel de uma pasta preta. Ele estava falando alguma coisa em tom acusatório e apontando para o papel. Luis começou a debater muito nervoso, mas eu não prestei muita atenção.
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Verão dos Mortos
AdventureQuando a líder de um grupo de resistência sofre um golpe, é banida e jogada numa horda de zumbis, sua filha decide ir atrás dela para salvá-la. Mas, para que isso aconteça, ela precisará da ajuda de seus amigos e sua namorada, além de estar sempre a...