Dia 10 de Julho, 2016.

29 7 0
                                    

O voo da Lauren atrasou mais de doze horas por conta de uma chuva qualquer. Pelo menos foi isso o que ela me disse por mensagem. Já o primeiro jornal da manhã me disse que, na verdade, aquela tal chuva qualquer era uma tempestade monstruosa que atingia boa parte da América do Sul e em breve chegaria ao norte do Brasil.

A intenção dela era claramente me acalmar, mas não funcionou de jeito
nenhum, mesmo quando ela me avisou que o avião estava para sair, eu ainda me sentia gelada e tensa. Durante o dia inteiro eu me sentia uma caçamba de lixo graças à tensão.

Não conseguia prestar atenção direito em aula nenhuma e agradeci a Deus quando os professores liberaram a sala toda pelo resto do dia. O que significava que eu poderia curtir o resto daquele dia infernal sozinha debaixo das cobertas. Pelo menos até saber que Lauren havia chegado no país sã e salva.

Antes de me afundar na cama, abri o baú e tirei de lá a pedrinha que ela havia me dado e deitei. Fiquei ali por horas, rodando a pedrinha entre os dedos. Eu ainda me sentia extremamente... Não sei. Extremamente qualquer coisa entre
fascinada, lisonjeada e...

Confusa.

Eu não sabia do que chamar mais nada. Não sabia o que era, nem o que
acontecia comigo quando Lauren era o assunto. Não sabia o que era que fazia
meu coração palpitar quando ela abandonava a cama dela e resolvia que era
muito mais confortável se espremer junto comigo numa cama miúda de solteiro.
Que me fazia sentir segurança toda vez que ela me abraçava. Que me fazia sentir
como se pudesse ser qualquer coisa por que ela havia dado o meu nome para a sua primeira descoberta como pesquisadora.

Encarei o azul da pedra, me lembrando da aula de teoria das cores.

Lauren era azul, rosa, branco e vermelho ao mesmo tempo.

Melhor, ela era todo o círculo cromático. E eu era cinza. Mas quando Lauren estava por perto, eu me tornava um céu inteiro lilás, com nuvens roxas e um mar de laranja, amarelo e vermelho. O que eu sentia por ela era como a caixa de aço da cor preta, eu estava ali, e não sairia. Pelo menos não até descobrir, com todas as palavras, o que acontecia comigo por conta dela.

Eu tinha todas as ideias certas sobre Lauren, mas não tinha nenhum
conceito concreto de nós duas.

Cochilei depois de algumas horas e a única coisa que me fez acordar foi uma batida insistente no vidro da janela, logo acima da minha cama. Arregalei os olhos quando vi Lauren – ligeiramente bronzeada – com o seu sorriso de boba me encarando e acenando loucamente do lado de fora.

Escancarei a janela e olhei abismada para a escada de onde ela se apoiava.

– SEGUNDO ANDAR!! – Foi a única coisa que consegui pronunciar que não parecia com “AAAKLSJDFKL?!?”.

– Não pergunte! – Ela se apressou e cobriu a minha boca com as mãos. – Só desce e entra no carro, tá bom? Estou te levando daqui e você não tem como fugir. – Ela colocou metade do corpo para dentro do quarto e me abraçou do jeito mais desastroso possível.

– VOCÊ VAI CAIR! – Gritei, me afastando do abraço. Calcei um tênis de qualquer jeito e guardei a pedrinha no bolso da calça. – Pelo amor de deus, DESCE LOGO DAÍ! Eu já estou indo!

Corri desajeitada até a rua feito louca e a encontrei rindo encostada no
carro velho que havia ganhado da mãe no começo do ano.

– Se você tivesse caído, eu JURO que não ia nem chamar o Samu, eu ia apontar e rir.

– Você se preocupa demais, Camz. – Ela disse, usando o apelido que havia me dado no nosso último ano do ensino médio. – Tenha mais calma nessa vida, vai morrer nova de tanto se preocupar desse jeito.

De Todos Os Motivos (Adaptação Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora