Dia 8 de Julho, 2016.

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Eu me acostumei a dividir o quarto com Lauren muito rápido, não é como se nós já não passássemos boa parte dos dias juntas antes, a questão é que dividindo o quarto com ela tudo ficava obviamente mais constante. Ela é bagunceira, eu sou o contrário disso. Ela chegava da aula cansada e largava suas coisas de qualquer jeito pelo quarto, no outro dia de manhã eu a via acordar cedo para recolher a bagunça e não me incomodar. Eu já havia até me acostumado com a bagunça de Lauren, e estava mal-acostumada por causa disso.

Já fazia uma semana que ela havia saído do país para algum lugar entre o Chile e o Peru, junto com alguns outros alunos e o professor de uma matéria que eu nem sei pronunciar o nome por conta de um projeto de pesquisa da turma. E isso era algo grande para ela, eu ficava feliz por Lauren estar conquistando essas coisas. Eu só não ficava feliz com ter o quarto vazio todo só para mim.

Que saco.

Eu estava no meio de uma aula relativamente chata de teoria da comunicação onde o professor proclamava um longo discurso pacato sobre a influência das cores nos pôsteres e em toda a fotografia dos filmes. Tentei vencer o tédio que toda a situação acumulada junto a voz chata do professor jogava nos meus ombros e prestei o máximo de atenção que conseguia à aula.

O professor explicava um pouco da teoria das cores, pulando toda a parte esquisita que fala sobre como as cores são a forma com que o cérebro recebe e interpreta os sinais eletro-nervosos vindo dos olhos e blablabla. Ele chegou ao ponto da teoria que deixou de ser tão técnico e passou para um ar mais de curiosidades, em que as cores têm certos efeitos psicológicos na pessoa que as vê.

Vermelho é a excitação, a paixão, até a raiva. Amarelo é concentração. Laranja é generosidade e equilíbrio. Verde é esperança e cura. Azul é a purificação e a paz. Lilás não tem um significado certo, algumas teorias dizem que tem mais influência em emoções e humores extremos. Rosa é a amizade. Branco é a purificação transformadora. Ao explicar o preto, o professor se demorou um pouco mais, confuso no que falava, associou a cor com uma capa de aço, quase uma caixa, onde o que está dentro não sai dali, fica preso, e o que está fora não entra.

Eu ainda pensava em tudo isso quando cheguei ao dormitório no final do dia. Estava com uma dor de cabeça maldita que me doía das têmporas e latejava por todo o crânio, e logo que pisei dentro do saguão do prédio fui chamada por uma voz esganiçada que disse que havia chegado um pacote para mim. Peguei o pacote - uma caixa de papelão cheia de selos e adesivos de alpacas - e li o nome do remetente na caligrafia quase infantil de Lauren. "Camila Cabello", meu nome escrito com muito mais cuidado do que as informações do endereço. Não contive um sorriso e subi até o nosso quarto praticamente abraçando a caixa.

Só me permiti abrir o pacote quando já estava com a porta devidamente fechada atrás de mim, peguei a tesoura infantil sem ponta - que Lauren ainda usava como microfone em momentos oportunos - e abri o pacote. Dentro, uma caixinha preta com um adesivo de alpaca me encarava como se me desafiasse a abri-la logo.

Ri enquanto tirava o adesivo com o maior cuidado do mundo para não o rasgar e abri a caixinha. Tirei de lá uma pedrinha um pouco maior que o meu dedão junto de um cartão pequeno que dizia:

"Essa é uma rocha desconhecida. Pelo menos era, é como se fosse uma
mistura de lápis-lazúli com ouro, ainda não conseguimos estudar muito... Enfim,
eu descobri isso e o cataloguei primeiro, até discuti com o professor, mas dei o
seu nome a ela."

Só isso

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Só isso.

Quero dizer...

Meu Deus do céu?

Revirei a pedrinha, olhando cada milímetro possível, tentando absorver o tom de azul rajado de listras fininhas douradas. E isso agora tinha o meu nome. Lauren havia dado o meu nome a uma de suas primeiras descobertas. Esse foi um acontecimento divisor de águas. Pelo menos para mim. Não era um gesto pequeno, nem simples, nem de longe. Mas... Nossa.

Quase como se ela pressentisse que eu já havia recebido o presente, meu celular tocou avisando que eu tinha uma mensagem de Lauren. Há um bom
tempo nós havíamos pego o celular uma da outra e trocado os toques de mensagem para um som especifico apenas para os nossos contatos.

"Recebeu meu presente?"

"Acabei de abrir. Eu tô é chocada, Lauren."

"Porque? Não gostou?!"

"AMEI!! Mas como assim a rocha tem o meu nome?!"

"O nome de quem mais eu daria?"

Não consegui responder. Nada parecia suficientemente bom ou a altura.
Uma leve tremedeira também não me deixava digitar algo que o corretor
automático conseguisse identificar.

"Preciso ir, o professor vai se reunir com todo mundo agora, mas
amanhã pegamos o voo de volta."

Joguei o celular de qualquer jeito na cama atrás de mim e deitei, ainda
apertando a pedrinha na mão. Meu coração palpitava sem parar. E eu tentava
entender o porquê disso ao certo.

De Todos Os Motivos (Adaptação Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora