35 • Change

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"Há algo no vento, eu posso sentir soprando. Está chegando suavemente nas asas de uma bomba."
Change - Lana Del Rey

[🍃]


Os cabelos desgrenhados, as olheiras fundas, os lábios ressecados e a aparência deveras pálida tornava possível compará-lo a um louco. As falas murmuradas enquanto a destra escrevia no papel tudo o que era dito em voz alta, os vários e vários livros espalhados pela sala e sobre a bancada da cozinha, os post-it e folhas A4 coladas nas paredes possuíam sequências importantes, como peças de um quebra cabeça.

Taehyung grunhiu ao ouvir o estômago roncar pela centésima vez naquela tarde, ignorando toda e qualquer possibilidade de fazer uma pausa para se alimentar. Nem mesmo quando sentiu a cabeça latejar. Queria aproveitar o tempo que tinha antes da provável crise o pegar de jeito e, sabendo que viria, mantinha as cartelas de analgésicos por perto.

Cinco dias se passaram desde que retornou da viagem e há cinco dias estava trancado em casa completamente obcecado por seus projetos pessoais, se esquecendo de conferir as mensagens e até mesmo de atender a porta.

Jimin já estava acostumado com momentos como esse, se preparava apenas para o dia em que iria receber a mensagem de Taehyung pedindo para levar uma refeição e ajudá-lo a arrumar toda a bagunça do apartamento.

Mas Hoseok estava prestes a parir uma criança.

Por mais que Jimin insistisse em lhe dizer que não deveria se preocupar, que era melhor se acostumar logo com esse tipo de situação, tudo o que Hoseok fazia era teimar dizendo que não havia necessidades de ser tão extremo. Já ensaiava todo o sermão que daria no namorado quando o visse de novo.

Dentro do apartamento pequeno, Taehyung jogou no chão o lápis roído; o terceiro em menos de meia hora. Apertava o objeto com força contra o papel, agoniado por não conseguir completar a equação. Já havia feito e refeito tantas vezes que, ironicamente, mal podia contar. Os olhos ficavam cada vez menores à medida que a latência em sua cabeça o obrigava a fechá-los. Era nessas horas que a luz se tornava o seu maior inimigo. Respirou a todos pulmões e fechou os olhos, esfregando a ponta dos dedos nas pálpebras fechadas até apertar a raiz do nariz.

ㅡ Mas que droga! Que droga! ㅡ praguejou ao notar que seria obrigado a fazer uma pausa e não estava nem perto de resolver o problema. ㅡ Pensa, Taehyung. Pensa!

E como tantas outras vezes, se levou ao limite.

Quando deu por si, estava com o corpo reclinado sobre a bancada de mármore, gemendo de dor ao passo de que se tornou impossível manter os olhos abertos. Tateou o local onde os remédios deveriam estar, praguejando ao se dar conta de que a bagunça de papéis, livros e canetas era realmente grande. E pior ainda, a dor excruciante o impedia de lembrar onde exatamente haviam caído os comprimidos.

Sentiu os olhos se encherem quando a sensação de desespero deu o primeiro sinal, a sensação de ter um espada atravessada em sua cabeça e o coração arrítmico. Há tanto tempo não ficava de mãos atadas que agora simplesmente não sabia o que fazer, sem chance alguma de se recordar em que momento retirou os remédios de lugar.

"Sua inteligência não te serve de nada nessas horas, Taehyung." lembrou-se dos vários sermões que o pai lhe dava e desejou ardentemente que ele estivesse ali.

No fim, tudo o que Taehyung pôde fazer foi permanecer em silêncio, implorando aos céus para que essa fosse uma das raras vezes em que a crise atacava e logo depois desaparecia.

[...]


ㅡ Você não tem nem mais unha pra roer, Hobi-hyung. ㅡ Jimin avisou. 

Good Together | vhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora