"Há algo no vento, eu posso sentir soprando. Está chegando suavemente nas asas de uma bomba."
Change - Lana Del Rey[🍃]
Os cabelos desgrenhados, as olheiras fundas, os lábios ressecados e a aparência deveras pálida tornava possível compará-lo a um louco. As falas murmuradas enquanto a destra escrevia no papel tudo o que era dito em voz alta, os vários e vários livros espalhados pela sala e sobre a bancada da cozinha, os post-it e folhas A4 coladas nas paredes possuíam sequências importantes, como peças de um quebra cabeça.Taehyung grunhiu ao ouvir o estômago roncar pela centésima vez naquela tarde, ignorando toda e qualquer possibilidade de fazer uma pausa para se alimentar. Nem mesmo quando sentiu a cabeça latejar. Queria aproveitar o tempo que tinha antes da provável crise o pegar de jeito e, sabendo que viria, mantinha as cartelas de analgésicos por perto.
Cinco dias se passaram desde que retornou da viagem e há cinco dias estava trancado em casa completamente obcecado por seus projetos pessoais, se esquecendo de conferir as mensagens e até mesmo de atender a porta.
Jimin já estava acostumado com momentos como esse, se preparava apenas para o dia em que iria receber a mensagem de Taehyung pedindo para levar uma refeição e ajudá-lo a arrumar toda a bagunça do apartamento.
Mas Hoseok estava prestes a parir uma criança.
Por mais que Jimin insistisse em lhe dizer que não deveria se preocupar, que era melhor se acostumar logo com esse tipo de situação, tudo o que Hoseok fazia era teimar dizendo que não havia necessidades de ser tão extremo. Já ensaiava todo o sermão que daria no namorado quando o visse de novo.
Dentro do apartamento pequeno, Taehyung jogou no chão o lápis roído; o terceiro em menos de meia hora. Apertava o objeto com força contra o papel, agoniado por não conseguir completar a equação. Já havia feito e refeito tantas vezes que, ironicamente, mal podia contar. Os olhos ficavam cada vez menores à medida que a latência em sua cabeça o obrigava a fechá-los. Era nessas horas que a luz se tornava o seu maior inimigo. Respirou a todos pulmões e fechou os olhos, esfregando a ponta dos dedos nas pálpebras fechadas até apertar a raiz do nariz.
ㅡ Mas que droga! Que droga! ㅡ praguejou ao notar que seria obrigado a fazer uma pausa e não estava nem perto de resolver o problema. ㅡ Pensa, Taehyung. Pensa!
E como tantas outras vezes, se levou ao limite.
Quando deu por si, estava com o corpo reclinado sobre a bancada de mármore, gemendo de dor ao passo de que se tornou impossível manter os olhos abertos. Tateou o local onde os remédios deveriam estar, praguejando ao se dar conta de que a bagunça de papéis, livros e canetas era realmente grande. E pior ainda, a dor excruciante o impedia de lembrar onde exatamente haviam caído os comprimidos.
Sentiu os olhos se encherem quando a sensação de desespero deu o primeiro sinal, a sensação de ter um espada atravessada em sua cabeça e o coração arrítmico. Há tanto tempo não ficava de mãos atadas que agora simplesmente não sabia o que fazer, sem chance alguma de se recordar em que momento retirou os remédios de lugar.
"Sua inteligência não te serve de nada nessas horas, Taehyung." lembrou-se dos vários sermões que o pai lhe dava e desejou ardentemente que ele estivesse ali.
No fim, tudo o que Taehyung pôde fazer foi permanecer em silêncio, implorando aos céus para que essa fosse uma das raras vezes em que a crise atacava e logo depois desaparecia.
[...]
ㅡ Você não tem nem mais unha pra roer, Hobi-hyung. ㅡ Jimin avisou.
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Good Together | vhope
Fanfiction[CONCLUÍDA] A rejeição do pai levou Jung Hoseok a retornar à Coréia do Sul depois de oito anos vivendo em San Diego, na Califórnia. Assumir os negócios da família estava longe de ser uma das vontades do Jung que, assim que põe os pés em solo asiátic...