Capítulo 3

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TEREZA

          Chego ao prédio onde moro e um cansaço terrível toma meu corpo, daquele tipo que me deixa desanimada só de pensar que ainda tenho que pegar o elevador para finalmente chegar em casa. O dia hoje foi muito desgastante tanto física como mentalmente e tudo que quero é banho e cama, quem sabe uma garrafa de vinho no meio do processo. 

          Aperto o botão chamando o elevador e aguardo, como não tenho carro entro pela portaria, diferente da maioria dos moradores que vem pelo estacionamento. Dirigir nunca foi algo que eu goste muito de fazer, sem contar que aqui onde moro não fica longe do meu local de trabalho então é de boa ir a pé.

         As portas do elevador se abrem é um casal já esta dentro,   muito cansada até para ser simpática com as pessoas, mas me forço a dar um pequeno sorrio e os cumprimentar.

          — Boa noite — digo e eles retribuem da mesma forma.

          — Você é funcionaria da Lucy certo? Eu já vi você por lá e lembro bem, pois o seu capuchino é melhor que das outras  — O homem, que não me lembro quem é, questiona e eu balanço a cabeça em afirmativa e abro um sorriso pelo elogio ao meu trabalho. — Olha que coincidência a gente se encontrara aqui, o que você faz nesse prédio?

          — Que pergunta besta amor — a mulher dele se pronuncia antes que eu possa abrir a boca  —  A moça deve ter vindo fazer uma faxina ou algo assim — ela sussurra bem baixo no ouvido dele, mas como o espaço dentro do elevador e pequeno eu escuto.

          Apenas levanto uma sobrancelha na direção deles que pelo menos tem a decência de parecerem constrangidos.

          Sou uma mulher preta e tenho uma deficiência, já passei por coisas e já ouvi ofensas muito piores. Além do mais mesmo eu sabendo que ela usou isso com claro preconceito, falar que eu sou faxineira não tem esse efeito em mim.

         — Nós desculpe — o homem fala  envergonhado abrindo um sorriso anarelo.

          — Nunca me ofenderia  por dizerem que sou uma mulher trabalhadora, pois no final é isso as faxineiras são exemplos de mulher guerreiras. E para responder o senhor eu moro aqui nesse prédio, mas não me lembro de vocês na reunião de condomínio.

          A mulher fica vermelha não sei se de vergonha ou outra coisa. Ela abre a boca bem no exato momento que as porta do elevador se abrem e o homem sai a carregando pelo braço.

          Assim que me vejo sozinha fico pensando: duas vezes no mesmo dia? Eu só posso ter acordado com o pé esquerdo hoje pra ter que aturar gente assim duas vezes seguidas, me pergunto o que faz as pessoas acharem que podem se sentir melhor que os outros apenas por seus empregos, sua cor ou seu dinheiro?

          Muita gente na favela tem muito mais caráter que essas pessoas, que pelo visto tem tudo na vida menos educação. O mais triste e que ambas as situações partiram de outras mulheres e isso me deixa bastante indignada, pois, nós mulheres brancas ou pretas conhecemos o peso da opressão, deveríamos ser as primeiras a abominar situações como essas.

          Mas estas são questões muito profundas para se pensar com o nível de cansaço que estou sentindo, aperto botão da cobertura e enquanto a caixa de metal sobe, fecho os olhos tentando achar meu equilíbrio só volto a abri-los apenas quando escuto o sinal das portas se abrindo.

Pegou minhas chaves e entro no meu apartamento "O que eu faço aqui" eles perguntaram bom eu às vezes me pergunto a mesma coisa. Como sai do Morro do Albatroz para uma cobertura de luxo em um dos melhores edifícios do Rio de Janeiro? A resposta não é nem de longe difícil, mas os caminhos que me levaram a ela são.

          Entro e deixo minha mochila e meus sapatos ao lado da porta, vou direto para a adega e pego uma garrafa de vinho. E estranho que muitas vezes não tive nem o que comer e hoje posso abrir minha adega climatizada retirar um vinho dela. o vinho e daqueles bem vagabundos comprado no supermercado, que é só o que posso pagar. Pego uma taça na cozinha e vou para o meu quarto.

          O quarto onde durmo é perfeito, sem dúvidas a parte que mais amo no apê, é  digno de uma princesa todo em tons de branco e Rose gold, com uma cama enorme e confortável. Acoplado a ele tem um closet que com certeza vai demorar anos para eu encher de roupas e um banheiro com direito a banheira de hidromassagem e é pra lá que me encaminho.

          Ligo os registros para que a água encha a banheira enquanto isso tiro minha roupa e prendo meus cachos em um rabo de cavalo alto. Pego o celular escolho a playlist "relaxar" e coloco para tocar; levo minha mão a água e noto que a temperatura está perfeita jogo alguns sais de banho e então entro dentro da banheira  sentindo o calor gostoso da água abraçar meu corpo.

          Me recosto e fecho os olhos, não é sempre que posso ficar assim relaxada, meu dia a dia e frenético com as aulas o trabalho, a faculdade  e ainda tenho o trabalho social que faço sei que preciso diminuir o ritmo mas as contas me esperam no fim do mês. Eu poderia facilmente me render e aceita a proposta do Estêvão, mas sei lá, não acho que isso seja o certo. Já aceitei o apartamento não é correto que ainda aceite seu dinheiro. Mas também não  posso negar que gosto do que faço é bom me manter ativa.

          Eu fui criada para batalhar e ir atrás do que quero, minha avó deve ter se revirado no túmulo quando aceitei os presentes que ele me dava, mas ele insistiu tanto e ver sua cara de decepcionado quando disse o primeiro não me deixava com o coração mole, sem contar ele me falando: "es mi hija, quero te mimar",  era uma batalha perdida então eu aceitava as várias coisas que não só ele, mas também a Lorena insistiam em comprar.

          Como minha vida pode mudar tanto em apenas um ano?

          Enquanto bebo o vinho gelado deixo as lembranças me levaram de volta ao dia que mudou tudo.
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