VI - OS AMANTES 2

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                                                       SEGREDOS ENTRE PÁGINAS


      Poeira e silêncio me recebem conforme eu entro na biblioteca. Ciscos flutuam sem rumo na luz pálida do sol. Uma mágica quentinha e familiar faz cócegas em minha pele, me convidando a entrar cada vez mais. Magia do Asra, tão clara e verdadeira como era na esmeralda.



Faust: "Encontrar."

"Você acha que tem algo aqui, Faust?"

Faust: "Encontrar."

      Antigas lições preenchem minha mente, limpando o caminho de qualquer dúvida. Se tem uma coisa que aprendi sobre magia... É o tão pouco que eu sei. Talvez tenham algumas respostas aqui, se escondendo entre páginas em desuso. Eu sinto a magia se acomodando ao meu redor, gentilmente me guiando em direção a uma estante. Dois livros se destacam do resto. Eu posso sentir o toque do meu mestre em cada lombada. Mas qual eu pego?
      Puxo então o tomo pesado de sua estante alta, cambaleando para trás devido seu peso antes de apoia-lo sobre a mesa próxima. Solidão emana das páginas negligenciadas, escapando pelo ar como um gemido cansado conforme eu o abro.

Faust: "Amigo." - A cauda de Faust se enrola em meu pulso, me arrastando para uma memória.



Muriel: "... Por favor não vá. Você está indo diretamente para a armadilha dele, Asra."
Asra: "Mmm. Lá vem você de novo com esse pessimismo. O palácio tem todos os recursos que preciso, Muriel."
Muriel: "... E quando ele arrancar seu coração fora?"
Asra: "Ele vai ter que me pegar primeiro. Ele está fraco e morrendo. O que ele pode fazer? Jogar seus remédios em mim? Ele já foi perigoso antes, eu sei, mas eu posso lidar com ele, Muriel. De verdade."

      A figura pesada levanta uma mão como se fosse tocar o ombro de Asra, hesita, e então cai novamente ao seu lado.

Muriel: "..." - Sem uma palavra, ele se vira e sai da loja, se espremendo desajeitadamente através da porta demasiado pequena.
Asra: "... Desculpe, Muriel. Algumas coisas não tem como você fugir delas."



      Outra memória. Outra visão do passado do Asra. Eu queria apenas que eu pudesse ouvi-las dele mesmo.
      Eu puxo o fino, elegante códice de seu lugar entre teorias de magia arcana e matemáticas obscuras. É leve, mas surpreendentemente denso quando aberto. Uma única samambaia prensada cai de duas de suas páginas.

Faust: "Amigo." - A cauda de Faust se enrola em minha mão uma vez mais, me levando de volta a uma memória.



Nadia: "E vê aqui? O jeito elegante que o caule cacheia em volta de si mesma? Verdadeiramente único para essa variedade em particular de samambaia." - Os lábios da Condessa se curvam suavemente em suas extremidades conforme ela passa um único dedo pelo espiral estreito da planta em sua mão.
Asra: "E então você come ela? Hmm..." - Ele leva a samambaia até sua boca, mas Nadia ri e o impede com um toque gentil, divertimento brilha em seus olhos.
Nadia: "Se você fizer isso, terá que preparar seu funeral em seguida. Elas só se tornam comestíveis depois de uma preparação muito intensa."
Asra: "Ahhh... Então elas são do tipo difícil. Elas não querem facilitar pra você. Você deve adimirar essa firmeza."
Nadia: "Sim... Alguém tem que admirar."



      Logo que volto, uma estante no canto extremo chama por mim, me atraindo cada vez mais perto com sussurros da magia de Asra. Mais dois livros chamam minha atenção, esperando por uma decisão a ser feita.



Asra: "E que tal essa aqui pra você então?" - Ele levanta uma camisa cobalto com uma gola bem aberta e levanta uma sombrancelha para mim. Lá fora posso ouvir os sons do baile de máscaras, gritos alegres e o tagarelar de uma multidão movimentada caminhando.
      Espera... Como eu estou vendo isso? Aquele é o Asra, e aquele com quem ele está falando... Sou eu?! Mas não pode ser. É como se eu estivesse assistindo pelos olhos de outra pessoa. O que está acontecendo?

Asra: "É a sua cor."
Mai do Passado: "Você diz isso sobre todas as cores."
Asra: "Não posso evitar, Mai, você fica radiante em tudo. Certo, e essa aqui?" - Uma estampa gritante e espalhafatosa invade meu campo de vista conforme ele me mostra um tipo de... Túnica arco-íris de oncinha?
Mai do Passado: "Asra! Você tá querendo que eu cegue as pessoas??"
Asra: "Já estou cego pela sua beleza."
Mai do Passado: "Asra."



      ... Eu não me lembro disso. Asra e eu nunca comparecemos ao baile juntos, disso eu tenho certeza. Nós sequer nos conheciamos quando a cidade celebrou seu último... Conheciamos?
Foi mais fácil de adentrar na memória dessa vez. Eu sinto como se estivesse me acostumando a lidar com essa mágica estranha. Com isso, pego o outro livro.



???: "Estou ficando cansado de suas falhas, seu palhaço insuportável!"
Asra: "Ele está tendo outro ataque?" - Asra para no corredor para ouvir a comoção acontecendo escadas acima, seus lábios se mexem em uma risada silenciosa.
Julian: "Se você apenas me deixasse- Oh, ah-" - Após um estrondo, Julian aparece no corredor, desconsertado. "Ahem. Asra. O que, er. O que você está fazendo aqui? Quero dizer, er. Você parece ótimo, é isso. Você sempre parece ótimo, claro, mas você está praticamente brilhando-"
Asra: "Lucio não está impressionado com seu atendimento a domicílio, Ilya?"
Lucio: "NÃO VOLTE ATÉ VOCÊ TER ALGO DE VERDADE PRA ME MOSTRAR! Servos! Alguém limpe essa bagunça!"
Julian: "Bem, eu diria que podemos declarar com certeza que isso é um não para sanguessugas."
Asra: "Chocante."



      Retorno com tanta facilidade quanto antes.
Faust: "Aqui." - Faust se esgueira até uma escrivaninha empoeirada e abandonada e olha para mim me esperando.
      Ela toca com a cabeça num último livro, um enorme tomo vermelho coberto em poeira. Eu ando até a mesa e passo minha mão sobre a capa, revelando seu título. "Compêndio sobre as Estupendências do Tecido da Forma Humana". Parece bem usado e repleto de anotações. 

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⏰ Última atualização: Sep 08, 2020 ⏰

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The Arcana - Mai e O Mago (Asra's Route)Onde histórias criam vida. Descubra agora