14.

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Nós voltamos para a festa depois daquilo, bobos como adolescentes.

Dançamos até tarde, bebemos muito mais, e fizemos amor no pouco tempo de noite que sobrou. Quando me deitei bêbada no colchão, envolvida pelos braços fortes dele, foi como se eu nunca estivesse estado em nenhum outro lugar além deste.

- Mulher, você vai me matar se continuar assim. - John ri, suspirando.

- Sei... - ri também, olhando-o diretamente nos olhos. - Talvez você quem vai acabar me matando no fim das contas.

Ele continuou rindo, mas eu fitei o teto imóvel e senti a preocupação crescer como um monstro dentro de mim, devorando-me em silêncio.

- Nunca conheci ninguém como você.  - suas mãos param em meu cabelo e ali depositam um leve afago, reconfortante. - A maioria das garotas ia me exibir como um prêmio por aí, baterem no peito com arrogância por fazerem parte da família Shelby, mas não você... 

Faço um círculo em seu peito, inalando o aroma de colônia forte que ainda exalava de sua pele.

- Por que vocês fazem esse tipo de coisa? - pergunto, não para obter informações mas sim por pura curiosidade. - A gente podia ir embora daqui, deixar tudo isso pra trás e recomeçar onde ninguém saberia quem nós somos.

- Não é tão simples assim.

A sua voz parece surpresa.

- Sabe como é vir de uma família cigana? - ele questiona, um pouco entristecido. - As pessoas nos chamam de ladrões, bastardos, imundos, ofendem nossas mães, assassinam nossos pais, deixam as nossas crianças sem nada na sarjeta. E sabe qual o motivo? Porque somos diferentes deles, só uma cultura diferente, mas ainda sim acreditam que são melhores do que nós, e é por isso que nós fazemos tudo isso. Sem a gangue, os negócios, nós só seríamos mais um bando de nadas.

Absorvo cada palavra, ciente de que eu os considerava inferiores à mim pelo exato motivo que ele descreveu antes. 

- Mas você não se cansa de viver com medo? Acha que isso tudo vale à pena? 

John ri.

- Enquanto eu puder ter exatamente o que um velho rico que se acha superior ao mundo inteiro, pode ter certeza que vai valer. - sou puxada para ficar perto da altura do rosto dele, encarando aqueles olhos cintilantes no meio da penumbra. - E se você quiser ficar ao meu lado, vai valer ainda mais.

Ele me puxa para um beijo romântico, terminando-o com um sorriso de ambas as partes.

- Eu quero sim... - sussurro, acariciando os fiapos de barba recém-nascidos que tornavam seu rosto um pouco áspero. - Quero isso como nunca quis mais nada no mundo inteiro.

Seu corpo se desgruda do meu e se equilibra na beirada da cama, vasculhando o terno em busca de algo que eu não conseguia identificar.

Quando ele se ergue, uma caixinha está em sua mão, fazendo meu corpo gelar com o que poderia acontecer naquele exato momento.

- Sei que pode ser cedo demais pra isso, mas eu já esperei tanto tempo pra te conhecer, já me envolvi com tantas pessoas erradas, eu sei que é isso que eu quero. - John revela um anel de ouro branco com um topázio gigantesco cravado em seu topo. - Você pode pensar o quanto quiser, não quero te pressionar, mas quero que saiba que eu falei sério quando disse que estou apaixonado por você.

Toco aquele anel como se fosse feito de algo mais frágil do que o mais frágil dos objetos, rodopiando-o em frente ao meu rosto.

Eu nunca tinha ganhado um presente antes... 

Não desde Mayhem.

- Acho que eu teria que estar louca pra te dizer não. - sorrio, colocando o anel.

Naquele momento eu realmente estava pronta pra esquecer tudo que eu já havia sido um dia, entregaria o caso e me doaria pra ele de corpo e alma. Talvez fosse a última chance que eu tivesse de ser feliz, e mesmo sendo cedo demais, eu queria aquilo mais do que tudo.

Bom, pelo menos é isso que a minha mente bêbada acha.

Femme Fatale: se apaixonar nunca fez parte do plano ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora