Segredos

3.7K 234 383
                                    


         Cheguei no restaurante e a a Hostess me indicou uma mesa mais ao fundo, como eu havia pedido, e já estava reservada. Olhei para o relógio e ainda faltava meia hora até o combinado. Pedi uma garrafa de vinho e uma tábua de frios. 

           Era primavera, mas as noites ainda estavam gélidas, eu vestia uma jaqueta cáqui, camisa e calça pretas. Nada muito diferente do dia a dia. Sentei-me de costas para a entrada, mas de forma que eu pudesse vê-la chegar. 

          Pontualmente meu whatsapp sinaliza e era ela. Avisto de longe uma mulher lindíssima, com os cabelos ruivos presos num coque, longos brincos cor de esmeralda, um colar de pedras também verdes. O vestido preto na altura dos joelhos, drapeado nos quadris, mostrava um decote que deixava ombros e colo nus. 

"Meus Deus ela é ainda mais bonita" 

A Hostess indicou a mesa onde eu estava, e para minha surpresa, a reação dela não foi a mais agradável. Mellanie ficou furiosa ao me ver, e ainda de pé, chamou-me de mentirosa e perguntou se era alguma brincadeira, que ela não estava ali para isso. Virando-se abruptamente para ir embora e não sem antes querer chamar atenção das poucas pessoas presentes, levantei-me e agarrei-a pelo braço. 

— Sente-se. Pois se bem se lembra, eu paguei por esse momento. – Sussurrei ao seu ouvido. 

        A contragosto ajeitou-se na mesa, servi um pouco de vinho na sua taça. Ela era ainda mais linda de cara emburrada. Mas estava visivelmente constrangida.

— Por que você fez isso? – A voz dela saiu baixa, quase rouca. 

— Porque eu não consegui parar de pensar em você desde que nos despedimos. 

— Poderia ter ido a minha casa. 

— Não posso voltar a casa de clientes sem chamado.

         Seus olhos encheram de lágrimas, mas não ousaram cair. Fiquei observando-a alguns segundos, enquanto ela tentava se recompor. Perguntou-me como a encontrei e respondi que gravei o nome que estava na marca d'água das fotos. Disse que a companhia dela tinha sido extremamente agradável e que eu não gostaria de perder a amizade.

— Mais calma agora? – Ergui a taça de vinho como se a oferecesse. 

— Na verdade não… Você é algum tipo de psicopata? Decorou um nome que fica minúsculo nas minhas fotos que você viu de relance. 

— Psicopata é algum sinônimo para apaixonada aqui no Canadá? 

   

          Mellanie ficou muda. Suas bochechas imediatamente coraram de uma forma que a deixava mais bonita. 

— Giovanna eu sou uma garota de programa…

— E o que isso muda pra mim? 

— Meu trabalho, minha vida… Não poderia te envolver nisso… 

— Podemos ser amigas? Eu conheço poucas pessoas legais aqui. Embora more nesse país desde criança.

            Ela riu um pouco do meu português. Sempre que podia eu tentava falar em minha língua materna. Adorava encontrar portugueses ou brasileiros.

            Contou-me um pouco da sua vida em Minas Gerais e de seus sonhos nos pais novo. Fazia alguns anos que eu não visitava o Brasil, mas a ideia era bem próxima após a morte de meus pais. Ao contar sobre esse episódio, Mellanie levou sua mão direita sobre a minha, acariciando de leve. 

— Bom… Mas eu superei. Saudades sim, tristeza nunca. 

         Ela não quis contar-me de seus pais, e o assunto logo fluiu para meus cães, que prometi levá-la para conhece-los em breve. Mellanie sorria a cada comentário meu. Pedimos o jantar e já não tinha mais a raiva do momento do encontro inicial.

Mellanie - A Acompanhante [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora