CAPÍTULO 5: O ÚLTIMO ATO

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Alguns dias se passaram desde que fui resgatado pelos paramédicos e levado ao hospital, meus ferimentos estavam curando rápido e isso significava que graças ao bom Deus eu ia poder ir pra casa. Não me dei conta que ia ser tão difícil passar por tudo isso tendo em vista que perderia muito pelo caminho… Claro que poderia ser qualquer pessoa e mesmo que fosse, essa pessoa também perderia e muito, não desejo isso pra ninguém. Só quero sair logo daqui e voltar para casa, preciso saber agora o que fazer da minha vida. Nunca me senti tão perdido quanto agora, sem rumo e nem nada, apenas uma grande casa vazia e algumas cicatrizes para o resto dos meus dias.
    E o que poderia ter sido tirado dessa experiência horrorosa e aterrorizante afinal de contas? o que eu ganhei tendo que passar por tudo isso só para entender a morte do meu amigo?! Bom, entendi que quando ainda se tem pendências no mundo antes de morrer, sua alma nunca vai descansar, é importante que o termo “descansar em paz” seja viável em todos os quesitos dessa nossa vida. E entendi também que determinadas pessoas só enxergam a vingança e o dinheiro e isso é um dos piores males que possa existir nesse universo ou em quaisquer outro além dele. Eu perdi minha mãe tentando resolver essa guerra toda que aconteceu contra a Eve e, perder um familiar em meio ao caos é algo difícil de esquecer e muito mais ainda de seguir em frente, embora seja o que eles gostariam que fizéssemos. A ganância e o ódio movem a maioria das pessoas e, infelizmente, isso acaba levando elas ao pior lugar que se poderia estar.
    Enfim o dia da alta chegou e finalmente me dispensaram para ir embora. A polícia foi várias vezes até o quarto onde eu estava e me encheram de perguntas sobre o ocorrido. Graças a Deus não deu nada errado e depois de horas respondendo perguntas e averiguando determinadas ações que tive, fui liberado para ir embora e mesmo podendo ir sozinho, Bruce insistiu em ir junto. Embora tudo tenha acabado bem, ainda havia um enterro que precisávamos fazer.
    Minha mãe sempre orou por mim e pela minha melhora, ela foi minha melhor amiga nos momentos mais difíceis da minha vida, nas guerras internas que eu passava, em tudo. Ainda era difícil de crer que ela partiu… Ao chegar em casa, fui até a cozinha para beber um pouco d’água e respirar antes de ir até lá. observei a mesa com atenção e notei uma carta e um lápis caído no chão. Me aproximei da mesa e peguei a carta para ler e nela, estava escrito:

“Meu filho amado...
   
    Sei que estão sendo tempos difíceis para você, toda essa conturbação e estresse está te deixando com problemas de saúde sérios e, a mãe fica triste em te ver passar por isso. Sei que não estive sempre do seu lado quando precisava e na maioria do tempo estava trabalhando e não te dei a devida atenção. Sinto muito por isso, e espero que possamos resolver isso.
    Quero que encontre seu caminho como achar melhor, mas precisa viver sua vida para você e tomar suas decisões e escolhas próprias. Economizei durante um tempo e consegui finalmente comprar a moto que sempre quis e… queria que ficasse com ela. Sempre esperei poder te dar o mundo, mas agora sei que o mundo é seu para conquistar. Agora, é hora de você ir conquistá-lo.
    Use essa moto para ir aonde quiser. Eu te amo filho, sempre irei amar e espero que não esqueça jamais disso aonde quer que for.

Te amo
Mamãe”

Lágrimas caiam do meu rosto enquanto o soluço atacava. Bruce se emocionou ao ler também e naquela hora, eu sabia o que deveria fazer.
    Então, fomos ao enterro, observando em silêncio seu caixão ser enterrado. Não vieram muitas pessoas, algumas colegas de trabalho, Bruce e eu. É por isso que as pessoas preferem ser cremadas, mas ela sempre dizia que quando morresse queria ser enterrada, pois acreditava que de alguma forma, aquilo seria um ponto de impulso para alguma coisa que só ela entendia. Nunca perguntei sobre o que era, apenas prometi que faria quando o dia chegasse.
    As horas passaram e todos haviam ido embora restando somente eu, de frente para o túmulo, como ela amava rosas vermelhas, trouxe uma para deixar ali quando for embora e, em sua lápide, escrito:  Letícia Lopes Rodrigues, Querida mãe e amiga. Pois é… aqui agora fica uma parte da minha história e antes de ir embora, falei:

"Mãe, sei que se empenhou em me ajudar e fez um bom trabalho na minha criação. Você foi tirada de mim e acabou partindo cedo demais e ainda havia muito para se fazer, mas você fez um ótimo trabalho… Pois você moldou e criou um HOMEM. Pode descansar em paz agora, mãe. Você cumpriu sua missão. Te amo… Adeus"

Não contive minhas lágrimas na hora que falei e, com essas últimas palavras, virei as costas e fui embora. O objetivo agora era seguir em frente como ela havia me pedido. Então é hora de cumprir o último pedido.
    Já em casa, arrumei minha mochila com todas as coisas que eu levaria embora. Encontrei poucas coisas que eu levaria como lembrança e uma delas é a carta que minha mãe deixou antes de morrer. Pouco do dinheiro que havia na última maleta que Eve pediu ainda estava sob minha posse, então peguei um pouco para poder sobreviver nesse tempo. Enquanto eu arrumava tudo, a campainha toca.

- Quem é? (perguntei)
- Sou eu, Mari

Atendi a porta surpreso mas nem tanto pela visita dela.

- Então… você vai mesmo? (perguntou)
- Sim (respondi), minha mãe queria que eu fizesse isso e eu já não tenho mais nada a perder. Estou onde minhas escolhas me levaram e agora preciso recomeçar (complementei)
- Eu entendo, mas… Será que… Não haveria um jeito de você ficar? (perguntou meio tímida)
- Não… até porque, não é mais o que eu quero
- Então… Você… Não pode me levar com você?

Parei por alguns minutos confuso, Mari já havia dito que não queria mais nada comigo e agora ela começa com esses papos pra cima de mim

- Mari, não sei o que você ganharia com isso (falei), mas o seu lugar é aqui, com qualquer outra pessoa que não fosse eu como você sempre disse
- Mas…
- Tá tudo bem (interrompi), sei que vai ficar bem no fim. Você é forte (elogiei)

Terminando de arrumar as coisas, levantei-me e fui para fora, em direção a moto. Fechei a casa e me despedi. Sentirei falta desse lugar com certeza, foram muitas lembranças dessa casa, da cidade e das pessoas que conheci. Vão deixar saudade.
    Subi na moto e antes de partir, virei para Mari e falei:

- Sei que fez as escolhas que precisava fazer e agradeço demais por toda a sinceridade que teve comigo em todo esse tempo. Sinto muito a gente não ter ficado junto no final, mas sempre lembrarei de você. (falei)
- Me desculpa por ter te dado problemas e dor de cabeça, depois de ver tudo o que você fez por alguém que já se foi, depois de salvar minha vida e tudo mais… Bem… Eu…
- Tudo bem (interrompendo ela), eu compreendo bem

E antes de partir, abracei-a com força dando o último adeus a uma das pessoas que eu mais amei em toda a minha vida, mas sabia bem que uma pessoa não pode continuar sacrificando sua saúde e bem estar por alguém que não sabe o que quer ou que brinque com seus sentimentos. Era hora de ir em frente e deixar tudo isso para trás.
    Liguei minha moto e fui embora… Deixando-a para trás uma vida inteira e muitas memórias ruins e boas, aventuras e muitos traumas que agora ficam para trás. Mari ainda na calçada, aos prantos, acenou se despedindo de mim, vendo-me desaparecer no horizonte com o pôr do sol desaparecendo junto a mim. E assim, segui minha vida, indo em direção aonde a estrada fosse me levar mas, sem nunca esquecer daqueles que foram importantes para eu estar aqui hoje.

- Nunca os esquecerei. (disse para mim mesmo enquanto partia)

    Enquanto isso, na casa do Bruce, ele e seu tio ainda conversavam sobre o susto que passaram e todo o perrengue que aconteceu. Estavam na cozinha nessa hora quando de repente, chega um SMS para Bruce de um número não rastreável e desconhecido:.

-   “Quem é vivo, sempre volta…”

Uma mensagem estranha e desconhecida, mas que o deixou pálido quando viu que abaixo da frase havia: “- E”.

FIM.

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⏰ Última atualização: Sep 11, 2020 ⏰

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