2 semanas depois do ocorrido, estava chuvoso e frio e todos estavam diante de dois túmulos intitulados pela letra B. Todos que compareceram fizeram sua parte por aqui: deixaram flores, choraram, se lamentaram por não ter proporcionado mais atenção a ambos os que se foram e assim vai. Não podem fechar seus olhos para dormir sem sentir que, talvez, foram responsáveis por não ter feito melhorar, as suas mentes suicidas e complexas. Ainda na memória de todos, os corpos estirados de mãos dadas com pílulas ao redor e a grama úmida da garrafa derrubada. Duas cartas de despedida e uma mochila escolar carregando apenas um caderno e caneta. Ninguém teve uma noite tranquila depois do ocorrido da colina, ninguém se perdoou por estar distante demais de ambos, ninguém fez nada, ninguém.
Estávamos todos de frente para os túmulos, ouvindo o padre que pronunciava as palavras de perdão para que as almas pudessem descansar. Todos em expressão vazia e ressentida, alguns em prantos e agonia interior, sem aceitar que estavam diante do túmulo de um amigo/familiar. Podia-se ver o pai de Bruno ao fundo, com os braços à frente da calça, ainda segurando a carta de despedida dele. Podia-se observar em sua face que demonstrava arrependimento e tristeza sobre sua ausência. No meio da multidão, encontrava-se o casal que se lamentava pelas brigas e desentendimentos do casamento devido a partida de Brenda, ou para quem não saberia reconhecer, os pais dela. A mãe em prantos por perder sua única filha, a mesma com quem brigava constantemente por estar procurando conforto nas canções. Agora ali, de frente para ela sob 7 palmos de terra, haveria arrependimentos? poderia ter feito melhor ou sido melhor?
Eu observava todos deixando flores para ambos os túmulos, alguns manchados por lágrimas e outros apenas murchas pelo tempo deixado ali. Depois de irem embora, fiquei ali olhando para ambos, com duas rosas negras, a favorita deles. Enquanto eu tinha a chuva caindo sobre mim, eu pensava um pouco sobre o que eu havia lido na carta de Bruno:“obrigado pelo conforto de saber que eu tinha amigos que se importavam comigo, mas minha decisão foi simplesmente sentar-me aqui neste chão frio e úmido da chuva de novembro e esperar pelo final que eu escolhi”.
Eu pensei bastante sobre isso naquele instante, pois se ele sabia que ainda haviam pessoas que se importavam, por que ainda assim preferiu esse caminho? Essa pergunta martelava minha cabeça e ainda assim, não sabia a resposta.
Deixei as rosas sob cada um dos túmulos e decidi ir embora. Havia muito o que pensar, mesmo em meu estado de luto. Peguei um táxi para ir pra casa, que me fez dormir no meio do trajeto. Eu tive um sonho enquanto estava dormindo. Eu vi o Bruno, de frente pra mim. Tudo ao redor estava em cinzas, com chuva e trovoadas, ele olhava para baixo com lágrimas de sangue, e quanto mais eu me aproximava, mais distante parecia que ele estava de mim. Eu tentei muito, e quando cai no chão, ele havia sumido. Acordei no mesmo instante, pois o taxista havia chamado para anunciar que havíamos chegado. Depois que paguei o táxi, entrei em casa e subi para o meu quarto, sem falar com minha mãe que perguntava como eu estava e se eu gostaria de alguma coisa. Ela nunca soube como reagir a um pós-enterro, e na verdade, nenhum de nós sabe.
Eu apenas entrei no meu quarto, tirei o terno e me joguei sobre a minha cama. Olhando para o teto, sem reação e nem ideia do sentido que teria o sonho que tive no táxi. Aquilo seria uma forma de pensar no que ele fez a si mesmo ou nossa amizade tinha uma forte ligação? Outra questão para pensar, o que provavelmente não vai me deixar dormir a noite.
Sentado sob a minha cama, eu me estiquei para pegar meu telefone e ligar para o Wesley, que não havia visto em lugar nenhum do enterro. Para ser sincero, não encontrei muitos conhecidos por lá, estavam somente: Shelda, a amiga distante do Bruno, Lorraine e Jéssica, que eram amigas de infância e companheiras de balada da Brenda, e eu, que era amigo de ambos.
Wesley nunca soube como dar adeus a alguém, isso nunca foi algo fácil de dizer a ninguém. Mas pensei que iria ao menos estar lá para demonstrar importância. Liguei para ele para ter uma justificativa:- Wesley?
- Fala (respondeu)
- Por que não foi ao enterro?
- [um silêncio se estabeleceu..]
- Por que não foi ao menos vê-lo pela última vez?
- Cara...
- O que? (respondi)
- [...] eu o vi no mesmo dia que ele se foi
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ANTISSOCIAIS
AcciónApós os acontecimentos de "Depressivos", acompanhamos a história de Gustavo, que precisa se adaptar a como tudo ficou e seguir com sua vida. O que ele não espera é que uma série de reviravoltas irá acontecer que precisarão colocar a prova sua integr...