Nightmares Past

03- Aquele do jantar

Any Gabrielly
Março de 2020, Edmonton, Canada

Depois de colocar Astrid para dormir, fui até o andar de baixo da casa. Lá tínhamos a sala de estar, sala de jantar, cozinha e um banheiro social.
Havia também a área de lazer, com duas piscinas, que não eram muito usadas por causa do frio absurdo do Canadá, uma churrasqueira e alguns brinquedos como balanços e um escorregador.

Encontrei Joshua na cozinha, terminando nosso jantar.
Astrid comeu na casa dos avós a pouco tempo atrás.

- Ela já dormiu? - meu marido questionou.

- Sim. - sorri. - Mais um dia de mentiras para nossa filha.

- Não é completamente uma mentira, amor. Só é incompleto. - ela acariciou minha bochecha com o polegar - Tenho certeza que ela é mais feliz assim, Any.

- Eu sei que é. Mas nosso passado me incomoda um pouco. Mesmo já fazendo 4 anos desde que tudo aconteceu. Ainda me sinto culpada pela morte de uma pessoa.

- Você e todos nós sabemos que não foi sua culpa. Aquele cara era um psicopata, Any.

- Não fale como se ele já estivesse morto, não sabemos do paradeiro dele, Josh.

- Mas torcemos que ele tenha morrido, lá em Nova Iorque, antes mesmo de termos vindo pro Canadá.

- Eu acho que isso não aconteceu. Aquela história não poderia acabar daquele jeito.

- Claro que não, mas acabou, Any. E é muito melhor que ela tenha acabado. Astrid estaria em perigo caso tivesse coisas pendentes ainda.

- Nem me fale em Astrid correr perigo. Eu não suportaria viver sem ela ou com ela em risco por minha causa.

- Isso não vai acontecer, eu estou aqui e diferente daquela época, estou bem. Você sabe que mudou minha vida, amor. Te encontrar foi a melhor coisa que fiz na vida. E Astrid também. Ela é minha obra de arte mais perfeita.

- Você não a fez sozinho! - sorri.

- Claro que não, mas ela é a minha cópia. Você a gerou, Any. Você fez a parte teórica e eu fiz a prática.

- Você é muito bobo, Joshua Beauchamp.

- Mas você me ama do mesmo jeito, Any Gabrielly Brenner-Gray Beauchamp.

- Uou, meu nome é enorme. - ele riu e me beijou.

Eram nesses momentos que tudo valia a pena.

Esconder sombras do passado, mentir pra minha filha e todas essas coisas.

Muitas coisas mudaram desde aquele ano ridículo.
Nos mudamos, terminamos as faculdades em outro país, perdi contato com alguns colegas e fui culpada pela morte de uma amiga.

Ela não mereceria ter passado por tudo o que passou, e ter tido um final tão trágico.

Taylor tinha sonhos, família, talento.

Tudo o que uma pessoa quer ter. E por minha causa, ela perdeu tudo. Inclusive sua própria vida, para me salvar.

Ok, a culpa era minha.