Tudo fica melhor com uma tigela de ramen

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Naruto abraçou o vaso de planta nervosamente, observando da escuridão do beco a pequena venda do outro lado da rua. Ayame estava de pé na entrada, os braços cruzados. Esperando.

"É cedo." Murmurou, confuso. Seus olhos vagando da garota para o fantasma atrás dela, que parecia saber exatamente onde ele estava. Os olhos, tão parecidos com os de Ayame, o olhavam em expectativa no rosto deformado pelo fogo.

Naruto desviou o rosto e se escondeu mais na escuridão, o coração acelerado no peito pequeno.

Era muito cedo, Ayame não deveria estar ali. Nos últimos meses ele havia se assegurado disso sempre que ia lá deixar uma planta na entrada do Ichiraku, no meio da madrugada. Ele nunca vinha no mesmo horário, ele nunca ficava muito tempo.

E ainda assim Ayame estava ali, esperando.

O esperando.

"Redemoinho." Sua mãe sussurrou perto do seu ouvido, os cabelos vermelhos surgindo na periferia da sua visão. "Vá falar com ela."

Naruto negou rapidamente, recuando, seus olhos indo para o fantasma, que continuava o encarando. A pele derretida, negra onde o fogo havia pegado de forma mais intensa. Os fiapos de cabelo e as roupas queimadas parecia flutuar no vento da manhã.

"Não precisa ter medo."

Ele não estava com medo dela. A maioria dos fantasmas não eram como sua Ka-chan, Izu-nii e Tobi-jiji. Se ele ignorasse o buraco no peito de sua ka-chan e o sangue em seu rosto, ela quase parecia como os outros, viva. Tobi-jiji havia morrido por exaustão de chakra. Em uma vila shinobi, fantasmas intactos eram uma raridade.

O problema não era esse. Naruto havia crescido ao redor disso, se ele tivesse medo sua vida teria sido mais complicada do que já era.

O problema era o que o fantasma representava. Sabendo o que ela sabia agora parecia tão óbvio.

"Oh, Naruto..."

Naruto havia conhecido Teuchi-jiji e Ayame quando ainda vivia no orfanato.

Naquela época, ele ainda era pequeno demais para se virar sozinho na floresta quando o deixavam fora do prédio na hora do jantar.

No começo Naruto ainda tentava sua sorte no mercado. Mesmo no orfanato, sempre que hokage-jiji-sama visitava ele deixava algum dinheiro com Naruto, assim como com os outros órfãos. Geralmente para comprar doces durante as expedições na vila que eles faziam. Naruto nunca comprava doces, por mais que quisesse. Não apenas porque era difícil alguém lhe vender algum, mesmo com o dinheiro, mas porque Ka-chan havia colocado na sua cabeça que era melhor salvar para emergências.

Ficar trancado do lado de fora era uma delas.

O problema era que as pessoas no mercado raramente lhe vendiam alguma coisa e se vendiam eles dobravam o preço.

Às vezes ele conseguia algo quando os vendedores queriam que ele saísse de perto ou encontrava alguém com pena dele, mas isso era um truque que poderia tanto dar certo como muito errado. Naruto com certeza odiava quando jogavam frutas nele.

Então, o mercado não era sempre uma opção. A área comercial de Konoha sempre havia muita gente entre as lojas, as quais a maioria ele não podia nem sequer passar na porta.

As opções acabavam sendo o distrito da luz vermelha, com as nee-chans que nunca lhe viravam as costas nessas situações, mas Naruto se sentia mal por elas perderem clientela por ele estar lá. Ou vasculhar o lixo de algum lugar, o que sempre deixava ka-chan triste e tinha o risco de ser pego também.

Havia a opção de...pegar algo que estivesse fora de vista também.

Naruto não era orgulhoso desse momento em sua vida, ele não gostava de pegar o que não era seu, mas Izu-nii lhe ensinou que na guerra se valia tudo e, de certo modo, por mais que odiasse isso, Naruto percebeu logo que ali era uma guerra. Era a vila toda contra ele e seus poucos aliados.

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