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Haveria outra solução?

" Diz-me com quem andas, que eu te digo quem tu és", é o que dizem por aí...

Isto faz algum sentido.
Em toda a minha vida, a melancolia tem caminhado comigo. Lado à lado como uma esposa fiel.
Já senti tanta dor que, tornei-me parte dela. Agora, somos um só.

- Opa, já estás aí a divagar com essa tua miscelânea de poesia e filosofia do costume.

Olhei-lhe de relance e não respondi. Sentei-me novamente e recostei a cabeça na cruz, aquela cruz que parecia ser mais minha do que dela (...)

- Não te quero chatear compadre. Mas é que as pessoas já estão a dizer que não andas bem das ideias. Sabes, dizem que maluqueceste e como agora dormes no cemitério falta pouco para começares a comer no lixo.

- Não sabem o que dizem. – Respondi-lhe .

- Não te quero maldizer compadre. Mas, se estivesses mesmo em pleno gozo das tuas faculdades mentais, temerias dormir aqui. Cemitério é lugar para os mortos.

Inclinei a cabeça para baixo, para que ele não visse os meus olhos encherem-se de lágrimas e respondi:

- Então, já não é isto que eu estou? Morto... Além do mais, deixei de ter medo de cemitérios quando a pessoa que eu mais amava mudou-se para um.

- Que estás aí a dizer?

- Eu, eu a muito que já sucumbi. O que me falta é só a coragem de materializar isso.

Sou um poço infinito de tristeza.
Também, que outra solução haveria ?
Quando tudo corre mal e a vida nos é carrasca
Deixamos de acreditar, de lutar e pomos o rumo das nossas vidas à mercê do destino
Quando o azar já não precisa de bater à porta para entrar e a dor não nos larga ...
Parece que, à esse ponto, já não precisamos de analgésicos ou morfina. Deixamos de sentir a dor e passamos a ser ela mesma.
Quando a luz da esperança se apaga e nem nos lembramos se alguma vez esteve realmente acesa, aí, tornamo-nos opacos.
Quando a solidão muda-se da casa ao lado e começa a habitar em nós...

Diz-me compadre, se a este ponto nós já não sucumbimos?

Autoria de: Capeloa.
Lubango, aos 24 de Maio de 2020