capítulo 20: nem tudo é o que parece

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Eu o encontro no laboratório de química.

Não foi fácil descobrir seu paradeiro, já que ele estava me evitando, mas quem tem boca vai a Roma. E como Arthur é bem conhecido na escola, rapidamente cheguei até ele.

Enfio a cabeça no umbral da porta, encarando o laboratório cheio de alunos e uma professora entediada.

— O que deseja? Não deveria está na sua aula? — ela arqueia uma sobrancelha para mim.

— Deveria, mas preciso falar com Arthur Ohlsson. Ele é seu aluno. — murmuro, varrendo a sala com os olhos.

Percebo que Arthur está tentando se esconder atrás de uma garota.

Minhas suspeitas aumentam com sua atitude estranha. Será que ele é o admirador secreto? Provavelmente sim, ou não estaria fugindo de mim como se eu tivesse uma doença contagiosa.

— Arthur? — assinto. Ela volta os olhos para o final do laboratório. — Senhor Ohlsson, venha aqui. Atenda essa garota antes que ela atrapalhe ainda mais minha aula.

O garoto deixa seu lugar com relutância, fazendo o que ela pediu. Decido esperá-lo do lado de fora, e ele não demora a aparecer.

Depois de encostar a porta atrás de si, Arthur evita me encarar. Agradeço pelo corredor vazio. O resto do pessoal deve está em sala de aula, e sei que posso acabar levando uma advertência por estar matando aula, mas agora não me importo. Preciso resolver esse assunto ou sinto que vou enlouquecer.

— O que foi? — questiona, olhando para os sapatos.

— Por que tem me evitando? O que está escondendo? — estreito os olhos.

Ele finalmente me olha nos olhos.

— Escondendo? Não sei do que tá falando?

— Não sabe? — minha voz é irônica. — Pois vou te contar: cartas sem remetente têm aparecido nas minhas coisas desde os meus quinze anos. São especificamente de amor. Seja lá quem escreve, sempre deixa uma frase de O Grande Gatsby, como se fosse sua marca registrada.

— E onde eu entro nessa história? — questiona calmamente.

Puxo o bilhete do bolso da calça e entrego em sua mão. Ele o desdobra e lê sem esboçar reação.

— Bom, as cartas sempre aparecem aqui na escola, e eu só queria saber o que você estava fazendo na minha sala quando não temos as mesmas turmas. Isso é muito suspeito. E ultimamente você tem me evitado.

— Você acha que eu escrevo as cartas, então?

Estreito os olhos, desconfiada.

— Sim, tenho quase certeza. Eu só quero uma resposta pra tudo isso.

Ele devolve o bilhete, novamente dobrado. — Só tenho uma coisa a dizer: o cara que escreveu essa carta parece amador demais para mim. E não. Não fui eu quem escreveu.

— Por que não consigo acreditar em você?

— Porque está equivocada. — diz, sério. Nem parece o garoto brincalhão que conheci. — Não faço ideia do que está falando. E, além disso, conhece July Campbell?

Franzo o cenho.

— Sim. — lembro-me da garota da turma de geografia. Ela esteve presente nas duas vezes que o flagrei deixando a sala.

— Bom, a gente tem saído ultimamente. Talvez isso explique o fato de você ter me flagrado saindo da sala.

Sim, mas não explica suas outras atitudes suspeitas nos últimos dias... — tenho vontade de dizer, porém me calo.

Mas se não é ele, quem pode ser?

E se não é ele, acabei de revelar meu maior segredo para um amigo de Caden e isso é bem estranho. Será que ele vai espalhar?

— Hm, desculpa então. Eu realmente me equivoquei.

Para meu alívio, ele sorri.

— Tudo bem. Acontece. E Nora?

— Hm.

— Não se preocupa. Não vou espalhar o lance das cartas. Caden não me perdoaria por te magoar, além disso, você é uma boa garota. Eu não seria capaz de ser tão escroto.

— Obrigada. — murmuro. — Desculpa por atrapalhar sua aula.

— Não atrapalhou. Você só me livrou da voz irritante da senhora Allen. Ela é bem chata, não é?

— Muito. — penso na mulher rabugenta. — Tchau, Arthur. Eu vou indo.

— Tchau. — ele acena antes de voltar para o laboratório.

Com os pensamentos bagunçados, respiro fundo, antes de voltar para a minha turma.

Só espero que o professor não me advirta.


***


Depois de todas as aulas, sigo ao lado de Connie pelo corredor.

Ela está animada sobre a nova série que está assistindo, e tento fixar minha atenção em suas palavras, apesar de está com os pensamentos em um lugar distante. Ainda penso em tudo o que aconteceu hoje. Não só na ameaça direta de Larry Arnold como também na minha conversa com Arthur Ohlsson. Ele realmente tem um álibi e agora preciso entender quem é o autor das cartas.

— Como são barulhentos! — Connie reclama ao meu lado, e desvio o olhar para a pequena roda de garotos, entretidos em uma conversa que sai praticamente aos berros. Realmente são ruidosos e reconheço Arthur e o restante dos amigos de Caden.

— Ei, Ohlsson. Não se esqueça de levar as cervejas. São por sua conta. — um deles diz, afastando-se.

— Relaxa. Eu vou levar. Caden vai me ajudar a levar as bebidas no carro.

Do que eles estão falando? De outra festa?

Arthur segue os garotos pelo corredor, conversando alto. Sua mochila está entreaberta, e ele não percebe quando algo cai de dentro dela.

Sigo rapidamente em direção ao objeto.

— Ei, Arthur! Seu caderno. — chamo, mas ele não me ouve antes de dobrar em uma curva do corredor.

— Amanhã você entrega. — Connie murmura.

— Não. Acho que ainda posso alcançá-lo e entregar. — quando estou prestes a fazer isso, uma ideia maluca toma conta da minha cabeça.

Abro o caderno rapidamente.

— O que está fazendo?

Não respondo; chocada demais com o que acabei de descobrir.

Meus olhos clareiam com a compreensão quando passeiam sobre a bela e conhecida caligrafia.

E não restam dúvidas.

É a mesma letra do autor das cartas!



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Ele Não Me AmaOnde histórias criam vida. Descubra agora