capítulo 17: ouvindo atentamente

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Caden termina de falar, ainda me encarando, e não consigo desviar o olhar do seu rosto, que parece genuinamente sincero.

Não sei por quanto tempo chorei, e ainda estou atordoada demais para falar alguma coisa.

Tento reorganizar meus pensamentos:

Caden me ama. Sempre amou, na verdade.

Ele teria me pedido em namoro e revelado que gosta de mim se eu não tivesse sido tão burra ao ponto de mentir para Noah sobre meus sentimentos. E para meu tremendo azar, Caden escutou tudo aquela noite. Quando penso nisso, sinto vontade de vomitar e me xingo por ter sido tão idiota e, de alguma forma, ter perdido algo tão importante mesmo sem saber.

Inconscientemente eu o magoei no passado.

Caden ficou com Tamara porque queria seguir em frente, já que eu o afastei com minhas palavras naquela festa de aniversário.

Droga!

— Estou sem palavras. — respiro profundamente, encarando meu colo. Volto a olhá-lo nos olhos. — É muita informação, Caden.

— Tenho certeza que sim. — ele suspira, apertando as mãos contra o volante. O carro continua parado no mesmo lugar e sou capaz de ouvir os ruídos de nossa respiração.

Depois de ouvir todas as palavras de Caden, estou indecisa entre pular em seus braços e dizer que o amo também e fugir porque meus pensamentos estão uma bagunça.

Continuo em silêncio e ele volta a dizer.

— É muita informação, né? — questiona. Assinto, com um aperto no peito. — Minha ideia inicial ao mentir não foi com a intenção de te machucar, mas de me aproximar de você e fazê-la entender o que sinto. Eu sempre lembrava que precisava recuperar Tamara, para você não ficar desconfiada e desistir de tudo. Mas você acreditou em mim. O lance dos beijos não estava no plano, mas tomei essa decisão quando nos beijamos pela primeira vez. Aquele momento foi incrível e eu queria dá um jeito de repetir.

— Daí surgiu a ideia do treinamento. — murmuro de braços cruzados.

Ideia que você amou, não é, Nora? — ignoro meu subconsciente idiota.

— Sim. Quando eu disse que você precisava melhorar nisso, eu estava mentindo. Seu beijo foi perfeito. Eu só quis ter um pouco mais dele e fiquei feliz pra caramba quando você topou.

Lembro que nossos momentos iam muito além de beijos inocentes. O treinamento envolvia até toques íntimos, que eu não impedia, e eu devia ter percebido que realmente tinha algo a mais. Como não percebi que Caden sentia algo muito mais forte por mim? Da mesma forma que eu, ele também aproveitou aqueles momentos. Connie estava certa.

— Como foi?

— Como foi o quê? — franze o cenho.

— Como você conseguiu me enganar tão bem naquela festa? Como tudo se desenrolou no término com Tamara?

— Ah, isso... — ele recosta a cabeça contra o banco. — Bom, na escola eu te convidei, mas você negou. Tudo já estava planejado desde ali, mas como você disse que não ia, decidi recuar. Até tinha esquecido o plano, então fui à festa. Quando você apareceu lá com a sua amiga, fiquei feliz e nervoso ao mesmo tempo. Voltei a idealizar o plano anterior e pensei em uma forma de ser convincente. Levei Tamara até a cozinha e disse que precisávamos terminar. Eu já estava pensando nisso há meses e finalmente surgiu a oportunidade. Ela me xingou, chorou e saiu. Eu não a tratei mal; só disse que não dava mais certo. — faz uma pausa antes de continuar. — Depois decidi beber pra criar coragem e a bebida realmente ajudou. Como Arthur também estava na festa, eu o chamei. Pedi ajuda sobre isso e ele deu a ideia do choro.

— Meu Deus! — murmuro. Caden é mesmo um cínico. Conseguiu me enganar direitinho com aquela história de choro. — Você devia tentar a carreira de ator.

— Não fique zangada comigo, por favor. — pede, mas continuo de cara fechada. — Continuando, Arthur conseguiu uma cebola e...

— Cebola?

— É. Não achamos colírio, então foi o jeito. Tinha uma na parte de baixo da geladeira. Foi um verdadeiro sacrifício passar aquilo nos olhos, e logo depois eles começaram a arder. Arthur disse que Connie estava agarrada ao Anthony, então eu te mandei a mensagem. Sabia que viria sozinha. E você realmente veio.

— Sim, fiz papel de boba.

— Não fez. — diz, e continua. — Você só foi inocente e acreditou na minha história. O engraçado é que nunca senti ciúmes de Tamara. Não da forma como sinto quando te vejo perto de algum cara. Com você é diferente.

Tento ignorar suas palavras e me xingo por sentir uma estranha satisfação interior.

— Arthur ficou na parte de fora da cozinha, evitando que qualquer pessoa entrasse naquele momento. Depois de alguns dias, eu quis ir mais além, então propus a ideia de tentar voltar com Tamara. Mas para isso acabei propondo a ideia do namoro falso, que pra mim não tinha nada de falso e também menti sobre precisar convencer a escola de que estávamos juntos. Daí surgiu o lance dos beijos. E tudo estava bem até Tamara abrir a merda da boca.

Eu o encaro com indignação. — Então quer dizer que, se ela não tivesse me contado, você continuaria me enganando?!

— Não. Claro que não. Eu ia contar.

— Quando?

— Quando achasse coragem. Outro dia quase falei. Eu estava me sentindo mal por mentir.

Respiro fundo, cansada e ao mesmo tempo chocada com as revelações recentes.

— Preciso pensar. — aperto a maçaneta da porta.

Ele fica alarmado.

— Espera! Vai terminar nossa amizade?

— Eu poderia, afinal você quebrou minha confiança com essa mentira ao invés de ter evitado tudo isso e ter sido sincero sobre seus sentimentos.

— Eu sei que errei, mas tive um motivo para mentir. Não vai me perdoar?

— Estou muito confusa. Muita coisa aconteceu essa noite. Só preciso pensar.

— Vai me dar uma resposta quando? Quero um prazo. — ordena.

— Você não está no direito de ordenar nada, mas não sei o prazo. Preciso reorganizar meus pensamentos

— Só não termina nossa amizade, por favor. — pede nervoso.

— Tchau, Caden. — bato a porta do carro ao sair.

Como a minha casa já está à vista, sigo em sua direção. Praticamente corro, na verdade. E quando me dou conta, as lágrimas voltam a cair.



***


E aí, Nora deve perdoar Caden?

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