"Grandinhos"

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A Sofia era mais velha que eu. Mas só por alguns meses. Dizem que nós devemos gostar das pessoas a partir dos olhos por que eles nunca envelhecem e nem mostram idade. Acho que era assim também.
E a partir do período que crescíamos juntas, nossa amizade se tornava inquebrável. Eu ia na casa dela e ela ia na minha, como se tivéssemos duas casas. Irmãs que não brigam por que se entendem em tudo que fazem e tudo que pensam. Ter a Sofia como amiga não foi apenas uma questão de destino, mas uma pegadinha que a vida deu em mim.
Com o tempo, fiz mais algumas amigas. E como foram fiéis. Mas a Sofia tinha mais tempo. Já tinha anos a nossa amizade e as mesmas piadas de 4 anos atrás ainda nos causavam graça. Eu nunca imaginei que teria um fim.
Nos corredores do colégio do turno da manhã, do qual estudavam os mais velhos: nos mandaram pra lá. Ver minha tribo reunida e assustada assim como eu antigamente me fazia rir. Viram que não eram os maiores dali, não mandavam nem na carteira que sentavam.
E com esse conhecimento, as menininhas começaram a se achar moças adultas, enquanto eu e a Sofia observávamos quanta ingenuidade em um lugar só. E nós não ligávamos pra isso tudo. Nós sabíamos que tudo tem sua hora, e nosso tempo não era de andar de salto, mas sim de tirar o tênis pra ir brincar no parquinho.
Vieram momentos em que tivemos que aceitar que estávamos nos tornando adolescentes e misturando os fatos que havíamos vivido por toda a nossa vida com o nosso novo dia a dia. Vieram dores e doces, paixões e puxões de orelha das nossas mães, o tamanho da tribo toda só aumentava, e os pequenos donos do mundo que colocavam apelidos cresceram e viraram bons companheiros para uma sala de aula. Mas não pense que esse processo de amizade foi fácil. Teve mudanças de alunos chatos e de alunos engraçados, mas que cada um foi ficando carente com a falta que cada um fazia. E foi aí que começaram a valorizar.
E foi aí que percebi, que a menina de apelidos parecia ter perdido sua maldade. Seus olhos brilhavam enquanto conversava comigo e com a Sofia. Acreditei nela com todos os meus achares. Ela parecia ter se tornado uma pessoa melhor. Mas a maldade não se cura tão fácil assim. Me arrependo disso.

SofiaOnde histórias criam vida. Descubra agora