Alguns dias se passaram e Perséfone se mostrou minimamente amável comigo, conviver diariamente com ela tornou-se suportável. O que o senhor Ernie tinha falado sobre fazer cortes se cumpriu, alguns produtos menos essenciais começaram a faltar, gerando reclamações dos clientes. Porém, comecei a receber uma refeição diariamente, que infelizmente era sempre torta de cereja.
O ponto alto da nossa semana foi quando uma grande feira foi anunciada na praça central, em comemoração ao aniversário da rainha. Todos falavam sobre como estava bonito, decorado, sobre a animação e o baile real. Apesar do meu desejo de ir até lá, não tinha tempo e nem dinheiro. Era impossível não fazer comentários de vez em quando.
— Eu não sei como perdem tempo com essa coisa supérflua e sem cabimento — Perséfone falou após dois clientes saírem falando da feira. Estávamos organizando as prateleiras e jogando remédios sem validade em uma caixa para o lixo.
— Não é perda de tempo. É uma diversão para o povo, além de....
— De?
— Movimentar a economia e ajudar pequenos comerciantes que montam suas barracas.
Perséfone pensou um pouco e concordou, o que me fez sorrir com satisfação.
— Está sabendo do baile?
— Esse sim é supérfluo, não serve nem pra vender tralha. Só os nobres e amigos da família real participam.
— Eu gostaria de entrar como penetra apenas para ver os vestidos, para meu futuro negócio. Devem ser maravilhosos.
— Por que não pega o dinheiro, pede um dia de folga e vai logo ver essa maldita feira?
— Oh! Eu não poderia. Uma porcentagem do que ganho no primeiro ano é para minha mãe por ter me criado. Não posso desperdiçar
Os sinos da porta tocaram, e como o senhor Ernie estava ausente, Perséfone se afastou das prateleiras e foi para trás do balcão. Um senhor fez a compra de algumas ervas, vestia roupa engraçada e uma grande cartola, indicando que viera da feira. Enquanto empacotava suas compras muito lentamente comentava sobre as maravilhas que havia lá, Perséfone ouvia tudo sem disfarçar a cara de desgosto. Percebendo isso, ele desejou bom dia e se retirou.
Minha mente passeou pela feira, pela rainha com sua bela coroa comemorando mais um ano e como seriam os salões reais luxuosos, damas e cavalheiros dançando por toda parte. Aproveitando que tinha saído do trabalho pesado, Perséfone ficou simplesmente atrás do balcão roendo as unhas; de repente deixou um palavrão escapar, me trazendo novamente para a pacata e triste vida que levava na loja.
— O que houve?
— Aquele velho tosco deixou todo o dinheiro dele aqui - respondeu me mostrando a carteira
— Temos que devolver.
— Eu não ligo. Vou deixar separado e ele pega quando voltar.
Vendo uma pequena desculpa para ir a feira, mesmo que por poucos minutos, resolvi investir naquele fato e convencer Perséfone. Ela abriu a carteira do velho e contou o dinheiro, soltando outro palavrão.
— E agora?
— Por um segundo tive esperanças de que tivesse dinheiro aqui para cobrir algum prejuízo da loja.
— Isso é horrível! Seria como roubar.
— Eu não roubei, apenas não devolvi a quem esqueceu.
— De qualquer forma acho que o correto seria procurar o dono e devolver.
— Não mesmo!
Aproximei-me ligeira e apoiei meus braços sobre o balcão, inclinando levemente a cabeça e encarando Perséfone, que se afastou apertando os olhos.
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A Sociedade Secreta dos Vilões Arrependidos | Degustação
FantasySe eu te contasse que todas as histórias de reinos e princesas que ouviu na infância são verdadeiras, você acreditaria? E pior, se soubesse que uma terrível bruxa que tanto fez mal a uma bondosa donzela se arrependeu de seus erros e tentou se redimi...