Ventos gelados assopravam do lado norte para o sul na pequena River Hills, uma cidade quase pacata, localizada no centro oeste do Arkansas. A cidade era rodeada por colinas, possuindo uma única saída que começava no marco zero, a catedral de Líz. A construção neogótica era muito conhecida pelos moradores, pois do seu imenso pátio dava-se início a rua que cortava toda River Hills e se alargava em uma estrada com curvas sinuosas que adentrava as colinas.Enquanto o vento forte soprava, um carro seguia na estrada, indo em direção à cidade. Dentro do automóvel uma família se encontrava, sendo eles Suzan, Richard e Sarah, a filha do casal.
- Diminui um pouco esse som!? - Disse Suzan ao marido que dirigia um Alfa Romeo.
- Está relativamente baixo, amor! - Exclamou Richard, enquanto observava Sarah no banco carona, balançando a cabeça em concordância ao pedido de Suzan.
- Se você não diminuir esse som eu vou para o banco de trás! - Exclamou Suzan, irritada com o volume alto.
- PAPAI! - Gritou Sarah, apontando para frente, já que Richard havia virado a face na direção de Suzan.
Antes que Richard pudesse virar o rosto para enxergar a pista, Suzan gritou apavorada. Na tentativa de desviar de um animal na estrada, ele jogou o carro para o canteiro, mas o automóvel derrapou até cair colina abaixo. Após a queda, somente o breu da noite e os sons do vento nas copas das árvores podiam ser ouvidos por Sarah.
- Sarah? - Perguntou uma voz masculina, mas ela não conseguia abrir os olhos.
- Querida, você está bem? - Perguntou outro timbre, dessa vez tratava-se de uma voz feminina, doce e gentil.
- Abra os olhos. - Disse a voz masculina, dessa vez com mais firmeza.
Sarah abriu seus olhos e tentou encarar a face à sua frente, mas a sua visão se encontrava embaçada demais, pois seus olhos encontravam cheios de lágrimas.
Era sempre assim, todas as vezes que passava no psicólogo. Eram sempre as mesmas lembranças, os mesmos sons e a mesma música tocando no rádio do carro. Sarah estava cansada de sempre relembrar a cara de brava da sua falecida mãe e o olhar de seu pai a observando através do reflexo do espelho. Por mais que tentasse, ela nunca conseguia se lembrar do que realmente havia na pista e essa lacuna a assombrava como se fosse uma maldição.
- Eu estou bem. - Afirmou Sarah, enxugando suas lágrimas com a manga de sua blusa roxa.
- Toma, você vai se sentir melhor! - Exclamou Amantha, a auxiliar do psicólogo que havia a ajudado a voltar de seu surto emocional e lhe oferecia um copo com água.
- Obrigado Ama. - Disse Sarah carinhosamente enquanto levantava da poltrona. Em seguida, passou as mãos em seus longos cabelos castanhos que estavam em seu rosto e os jogou para trás dos ombros. - Bem.... Eu preciso ir. - Concluiu.
- Tem certeza que você está bem? - Perguntou Amantha e enquanto Sarah acenava com a cabeça, Wilson gesticulou sutilmente com a mão esquerda para que ela deixasse a menina partir.
- Estou! Obrigada mais uma vez, nos vemos semana que vem! - Exclamou Sarah, nem um pouco constrangida já que seus surtos eram comuns durante as sessões.
Amantha levou Sarah até a recepção e lá se despediram, mas antes que pudesse virar em direção ao consultório, ela foi surpreendida por Wilson que a encarava como se fosse um cão raivoso. Amantha ficou tão sem graça com a atitude que apenas abaixou a cabeça e voltou para seu lugar, uma cadeira posta ao lado da poltrona de Wilson.
- Não podemos em hipótese alguma criar laços afetivos com nossos pacientes. - Disse Wilson, alertando-a.
- Me desculpa. Eu sei que o caso dela é difícil. Sei que estamos tentando os métodos menos convencionais, pois os convencionais já não funcionam. Também sei que você não quer desistir dela e que acha que devemos aumentar as doses dos medicamentos, mas o caso dela me deprime. - Disse Amantha triste com a situação de Sarah, pois a pancada que a jovem havia sofrido no dia do acidente a deixou com uma sequela irreversível.
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Angelaris - O Despertar
FantasíaSarah sempre foi uma menina tranquila, mas as coisas começam a se agitar a partir do momento em que uma grande tragédia muda para sempre o seu destino. Onde antes havia amor e esperança, agora restam apenas mágoas e desafetos. Cansada de viver boa...