02/11/2014 - 04:30h

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Uma morte, é definitiva?


As feridas do meu ombro se aprofundavam. A dor era absurda. Eu pensei que perderia o braço, até me concentrar na raiva e no poder vibrando dentro de mim. Tão forte. Quase vivo. Usei o último resquício de razão que ainda guardava, e fechei os olhos. Imaginei as feridas cicatrizando. Visualizei a pele voltando ao lugar e a dor indo embora. Mas piorava a cada segundo. Primeiro, eu pensei que fosse desmaiar. Depois, eu senti um alívio se espalhar por meu corpo. Ousei abrir os olhos. E fitei meu ombro. Curado.

Torci para que Acássia não tivesse notado e roubasse mais um dos meus poderes de Genuína. Eu já havia perdido a telecinésia.

Acássia me largou debaixo de um altar de pedra na parte iluminada por tochas no porão. Ela puxou os cabelos da minha nuca para trás e empurrou meu rosto para o lado.

Então eu a vi. Ali. Inerte no chão.

Passeei com os dedos no rosto dela.

Lágrimas inundaram meus olhos. A garganta queimou. O peito ardeu violentamente.

Minha mãe estava com a pele fria. Rígida. Olhei o rosto dela e pensei que nunca mais veria o seu sorriso. Nunca mais escutaria sua voz. Nunca mais fitaria seus olhos azuis.

Respirei centenas de vezes. Freneticamente. A vista embaçada de lágrimas. O peito vazio por saber que nunca mais a veria. O desespero me consumindo. Mas ouvi a voz de Acássia. A culpada por todo meu sofrimento. A maldita.

E a tristeza, deu lugar ao ódio. Havia um poder novo vibrando por mim. Ela não

poderia saber. Mas eu sim. Eu tinha certeza. Aquela era a potência da Genuína, que enfim, me livraria dela. E eu a pegaria de surpresa.

Eu mataria Acássia.

Dessa vez, ela sofreria. Da pior forma possível. E seria por suas próprias mãos.

Mas eu só teria uma chance. Porque bastaria um pequeno deslize e Acássia roubaria meu poder. Eu não permitiria que acontecesse.

Fiquei imóvel. Fitei o rosto de minha mãe e aquilo me deu forças. Todo o amor que eu sentia por ela, me nutriu. Voltei a sentir esperança. Acreditei que tudo ficaria bem. Eu duvidava que Acássia conhecesse qualquer um desses sentimentos. E se ela os desconhecia, jamais poderia derrotá-los.

Eu te amo mãe. E ela vai pagar pelo que fez a você, ao meu pai, a Lucian e a Dukian. Eu prometo.

Acássia repetiu sua ordem ao ver que eu sequer havia escutado da primeira vez:

-       Você vai ressuscitar sua mãe Hannah. E se me desobedecer, vou matar todos que você conhece. É Dorothy o nome da sua amiga não é? Pelo que sei, ela mora aqui no final da rua.

-       Para seu bem Acássia, fique longe dela.

Ela gargalhou. Aquele som repugnante me provocou arrepios, mas não foi de medo dessa vez.

Levantei do chão tentando equilibrar a fúria que ameaçava me dominar, ou eu perderia a cabeça. Pensei nos momentos felizes divididos com minha mãe, pensei no sacrifício de meu pai, no sofrimento e na vida condenada que Acássia manteve Lucian e Dukian. Suspirei antes de contar a mentira:

-       Diga o que devo fazer, Acássia. Mas antes de ressuscitá-la, eu quero que desfaça o feitiço que mantém Dukian preso no fogo e desperte Lucian.

-       Garotinha insolente. Quem pensa que é para me dar ordens? Sou a princesa do submundo. Amante do Fantasma Profano.

-       Eu sou a Genuína.

Olhar de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora