Um pedido de socorro...
Eu não podia deixar minha mãe morrer. Mesmo sem confiar nele e sem saber se ele iria mesmo libertá-la após conseguir o que foi buscar, não vislumbrei outra saída.
Será que essa desesperança invadindo meu peito, é causada pelo Fantasma Profano? É por isso que sinto esse vazio me consumindo?
Estiquei o braço e segurei a chave aos pés da cabeceira. Minhas mãos se fecharam em volta do metal frio e em seguida, a estendi para ele. Pronta para o pior.
Franzi a testa e esperei. Mas algo que eu não esperava aconteceu.
De repente, ele me olhou transtornado e afastou minha mão. Tinha o rosto contorcido de dor. Falar pareceu ser um esforço:
- Eu falhei, Hannah.
- Senhor Lefrève? É você de verdade?
- Sou eu, querida. Faça o que eu digo, é sua última chance...
Balancei a cabeça com os olhos ardendo em resposta. Pude sentir a dor do Sacerdote Lefrève. Ele caiu de joelhos e murmurou palavras desconexas. Eu não quis nem imaginar, o quão doloroso seria ter uma presença imunda como a do Fantasma Profano, dominando sua consciência. Guardei a chave no sutiã.
- Rá...pi...do Hannah. Segure minha cabeça com ambas as mãos e repita: Tribuite virtutem deo.
- Tri...buite virtutem deo... – Minha voz tremeu.
- Continue, Ha...nnah: Exorcizamus te, omnis immundus spiritus.
Recitei as palavras que o Sacerdote Lefrève murmurava. Em pouco tempo comecei a transpirar. Um calor infernal preenchia o quarto. O corpo dele tremeu e caiu de costas no chão. Ajoelhei ao lado dele e não soltei sua cabeça. Continuamos murmurando. Ele falava e eu repetia. Meu corpo enfraquecendo. As pernas bambas, uma sede rasgando minha garganta. Escutei a voz maldita do Fantasma Profano em um sussurro perto dos meus ouvidos:
“Se eu partir garotinha maldita, você nunca mais encontrará sua mãe.”
Hesitei por um momento.
O Sacerdote gritou:
- Não pare Hannah! Ele está te enganando! Repita comigo, agora: Benedictus Deus, Gloria Patri. Mais alto e mais forte, use sua potência de Genuína!
Inspirei todo o ar que podia e gritei:
- Benedictus Deus, Gloria Patri! Benedictus Deus, Gloria Patri!
Um forte cheiro de enxofre fez o vômito subir na garganta. O Sacerdote não se movia mais. Caí sentada ao lado dele.
- Senhor Lefrève? O senhor está bem?
Ele não respondeu. Deitei a cabeça em seu peito e ouvi sua fraca respiração.
- Acorde senhor Lefrève! Precisamos sair daqui!
- Vá em...bo...ra Hannah. An...tes que ele vol...te. – Ele tossia sem parar.
- Não posse abandonar o senhor aqui. Por favor...
- Vá, querida. Antes que ele volte, vá. Salve sua mãe, ela está na floresta.
A menção a minha mãe foi o suficiente para me convencer. Agradeci a ele e corri para fora de casa com o plano de enviar Lucian ou Dukian para ajudá-lo.
A brisa gelada do condado de The Crow me acariciou quando cheguei a rua. O problema é que eu não fazia ideia de como voltar à floresta, já que Dukian e Lucian haviam me levado até lá quando eu estava desacordada.
Andei muito tempo pelas ruas desertas. Uma agonia sufocante atrasando meus passos, o medo do que eu poderia encontrar jogava uma descarga de adrenalina forte em meu sangue. Tropecei em uma pedra e caí de joelhos. Ignorei os arranhões e continuei a andar. A cabeça girava. As ruas escureceram diante dos meus olhos.
Força Hannah. Continua.
Apoiei as mãos nos joelhos ralados e arquejei.
- Não vou aguentar mais muito tempo. Desculpa, mãe. - Falei para a rua deserta a minha frente, com os olhos queimando pelas lágrimas teimosas.
- Hannah!
A voz de Lucian, trouxe a vida de volta ao meu corpo. Olhei para trás e por um instante, tive forças para correr em sua direção. Seus braços quentes me envolveram como se tivessem algum poder de cura. Chorei de soluçar enquanto ele me aninhava.
- Shhh. Eu estou aqui, vai ficar tudo bem.
- Mas Lucian, eles pegaram ela... Minha mãe...E o senhor Lefrève..., eu o deixei sozinho, eu não queria, mas não tive outra escolha.
- Não precisa me falar, banana. Respira fundo. Eu posso ver seus pensamentos, esqueceu?
Balancei a cabeça e esperei algum tempo os tremores passarem antes de voltar a falar. Meu batimento voltava a uma frequência normal. Suspirei.
- E o Coven Lucian? Elas foram atrás de vocês? Onde está o Dukian?
- Quando elas não apareceram, descobri o que havia acontecido com o Sacerdote Lefrève. Estranhei a insistência dele em ficar a sós com você e resolvi vir até sua casa. Dukian encontrou o esconderijo do Coven e está de vigia.
- Precisamos ir, elas estão com minha mãe.
- Hannah, eu vou ajudar você, mas preciso que confie em mim.
- Não, nada de adiar isso de novo. Não podemos perder tempo! Não sei o que farão a ela!
- Vamos Hannah, vou te levar ao esconderijo perto do riacho. Dukian está vigiando, sua mãe está bem. Lá, te explicarei tudo, você precisa me ouvir com calma antes de fazermos qualquer coisa. É importante que você saiba do que a minha mãe, Acássia, é capaz. Amanhã, começa a terceira parte do ritual, e ela com certeza estará lá.
Lucian segurou minha mão e acrescentou:
- Você pode sentir um pouco de enjoo. Teremos que ir do meu jeito.
Fechei os olhos e tentei me preparar para o que viria em seguida. Na última vez que ouvi essa frase, acabei exorcizando um padre.
Tentei não pensar na palavra que representava a próxima parte do ritual, mas as letras piscavam com a força do flash de uma câmera.
“Perda.”
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Olááá, se gostaram não esqueçam de votar e comentar! Amanhã tem mais! =)
E TOMEM CUIDADO, PORQUE A PERDA, É A PARTE MAIS DIFÍCIL...
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Olhar de Fogo
FantasyUMA HISTÓRIA DE HALLOWEEN Entre na mansão e não se incomode com o ranger da porta, apenas tome muito cuidado com seus olhos. Hannah não seguiu meu conselho e acabou pagando caro por isso... Somente ao conhecer seu misterioso vizinho, e fitar aquele...