Parapeito das Ilusões de um Sonho Morto

és minha melhor amiga

para Ana

Tão amada vida: a dádiva de ser a tua amiga.

Ainda hoje sonhei com você, na maré da madrugada, no canto da aurora, na penumbra de tudo aquilo que fomos

E hoje, não somos mais.

Ainda amanhã sonharei contigo, conto meus privilégios como infelizes que contam novas esperanças, como estrelas que ainda hão de explodir para pintar no céu

Tão amada vida: os privilégios de ser a sua amiga.

Fez-de meu corpo guardião da minha pele e da sua, casa de proteção suor e sangue; tormento, de um dia, escapar entre meus dedos, querida amiga.

Todo dia há de ser nova e derradeira, morte e renascimento, fênix solitária e livre;
a medida que vou me refazendo
vou te levando comigo, querida amiga.

Como composições químicas que juntas ao meu átomo fazem o meu DNA, há você nele, amiga, há você em cada celula.

Joga suas palavras no parapeito da garganta, pise nos calcanhares de homens que te perturbam, berre os seus desejos, faço-te mulher mais uma vez, lembrarei-te de tudo aquilo que você é: Linda, louca, pastora do tempo e do amor, selvagem dos sonhos.

Mulher, és mulher e muito mais, amiga.

És sólida, egoista, é o futuro do passado e do presente, porque és poesia e és o desejo de almas suplicantes por mudança. És sol, mas também és lua. Não é a estrela, teu nome és Via Láctea: É toda e qualquer estrela vespertina.

E que eu não lamente amanhã, amiga, no amanhecer rastejante que digas que não é mais minha melhor amiga.

Porque já não sei viver sem ti, melhor amiga.

Porque já não sei viver mais sem meu escudo
de entendimento, de compreensão pura e amor sadio.

Porque já te fiz lar, já te fiz porto, já te fiz meu coração

E já não posso mais clamar a solidão.

Sem ti, melhor amiga, hai de meditar a sofridão de quem um dia experimentou o amor mais puro e verdadeiro: o amor do melhor amigo.

Minha extensão de loucura, fuga e cólera. Carinho, e muito mais.