Parapeito das Ilusões de um Sonho Morto

você tem essa chance que ninguém mais tem

Você tem essa chance que ninguém mais tem.

Você é bonito, carismático, inteligente. Você dá as melhores festas e as pessoas clamam por você em qualquer lugar. Elas precisam de você. Algo em que elas podem olhar e admirar; se espelharem. Você é como a inspiração que eles precisam para não ser apenas alguém, mas sim, algo inesquecível.

Mas o inesquecível é frágil. Ele se tornou o que você é. E o que ninguém mais sabia sobre você, é que você é frágil.

O inesquecível não necessariamente precisa estar morto para jamais ser esquecido. Mas você queria estar.

Você sente a brisa e seus pés tendem a vacilar enquanto estão parados, pisando no parapeito. O parapeito não tem uma largura pequena, mas é o suficiente para que um sopro de vento colidisse com você e você caísse.

Mas você não cai. Você tem essa garrafa de uísque nas mãos e você olha para a rua abaixo como uma válvula de escape. Você olha para todos esses andares que será a última coisa que você viria se você pulasse.

Você tem tudo para brilhar. Você é determinado, corajoso, você não tem medo dos seus objetivos. Você tem medo do que vem depois do objetivo alcançado. Você tem medo do fracasso. Porque você, mais do que ninguém, sabe, e sofre silenciosamente, o que é fracassar.

Você nunca fracassou. Mas você viu pessoas ao seu redor e pessoas que você ama fracassarem, e você não quer ser nenhum deles. Os passos que nós damos para o futuro são passos cegos. E quanto mais você dá passos certos, a caminho do sucesso, maior o medo do fracasso vem.

Porque você sabe que ninguém é perfeito e você sabe que todo mundo tem que errar. Você não sabe se seu próximo passo é o passo falso que irá te fazer cair.

Então você pensa que se você decidir cair por si próprio, o fracasso não irá te derrubar.

Você morrerá como uma lenda. A definição exata do Inesquecível.

Mas eu não deixaria isso acontecer. Eu não deixaria que essa chance que você tem esvaziar conforme seu corpo é jogado nesse telhado; como fumaça, algo vazio, sem corpo, um nada. Essa chance morreria com você, mas morreria com uma chance que você poderia ter escolhido antes de deixar seus ossos quebrarem e o sangue quente e viscoso escorrer no asfalto.

Você vacila, e eu resolvo interromper.

— Se você se jogar, tudo vai acabar. Você não terá outra chance — eu digo.

Você ergue a cabeça e olha para trás. Você me olha. E seus olhos estão tão vazios quanto essa garrafa de uísque que você segura nas mãos, tão forte como se isso fosse o que está te impedindo de se jogar. Mas não é verdade, você sabe que essa garrafa é apenas uma garrafa qualquer de bebida alcóolica.

Você só queria algo — ou alguém — que te segurasse e te impedisse de pular. Eu olho para você e penso que você é popular, mas você se sente sozinho. Como se ninguém realmente, realmente se importasse com você, ao ponto de te impedir de um suicídio.

Elas te impediriam, mas não pelo motivo certo. Quem seria o astro se você morresse? Provavelmente, qualquer um que tiver a sorte grande. Como um ser humano? O suicídio é apenas uma escolha. Você não seria o primeiro a pular desse telhado, de qualquer forma.

— É a única chance que eu tenho — você responde, mais para si mesmo do que para mim.

Eu compreendo. Você se sente como se quisesse acabar com tudo e, ao mesmo tempo, ter alguma esperança que não te deixasse desistir. Uma certeza que lhe sussurra que tudo irá ficar bem e você sorrir porque realmente vai.