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Quando o grande relógio do quarto anunciou ser três da manhã, um calafrio conhecido toma o meu corpo despertando-me em uma sensação conhecida

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Quando o grande relógio do quarto anunciou ser três da manhã, um calafrio conhecido toma o meu corpo despertando-me em uma sensação conhecida.

A ansiedade em vê-lo.

Cinco anos haviam se passado, mas os costumes se mantinham vivos, relembrando-me constantemente dele.

Sabia perfeitamente onde encontrá-lo, era madrugada de quarta-feira, seu sagrado dia de oração, por isso, mesmo cansada da viagem pego meu casaco, as chaves do carro e atravesso a cidade em alta velocidade entrando em Greenwood, um bairro calmo e afastado do centro.

Greenwood era respeitado por ser um lugar popular para as famílias convencionais viverem fora do caos da movimentação central, seu sistema de aceitação para morar naquela comunidade era ter uma família bonita, uma conta bancaria gorda e ser um religioso, pois aquele bairro possuía sua própria igreja católica para seus honrados fiéis frequentarem sem precisar viajar alguns quilômetros para a missa de domingo.

Estaciono algumas quadras longe da igreja de São Bonifácio, olho a imponente arquitetura e suspiro saindo do carro. A brisa gelada que me recebe faz com que aperto mais o casaco ao corpo e ando por aquele caminho que sabia de cor. Se me colocasse vendada como as inúmeras vezes em que fiquei e dissesse para seguir naquela direção, chegaria ao meu destino sem errar e completamente feliz em tê-lo feito, pois provavelmente ganharia minha recompensa de suas mãos.

Caminhando pela rua deserta e escura, empurro o medo de não ter ninguém por perto para longe. Além disso, não podia deixar que os moradores daquela comunidade soubessem o que vou fazer ali, naquele lugar e a essa hora da madrugada. Era arriscado, eu sabia. Seria punida depois com certeza, mas precisava vê-lo novamente.

A curta caminhada acabou quando sinto as pedras perfurarem meus pés descalços, nunca ia diante de sua presença usando um calçado, a menos que ordenasse. Era uma das suas inúmeras regras, que na maioria das vezes eu não me importava em obedecer ou quebrá-las.

Suspiro sentindo a brisa fria adentrar novamente o casaco fazendo meus pelos se eriçarem, fecho os olhos reprimindo um gemido em apreciação, pois ele já sabia que estava ali.

Antes de me acomodar em uma casa nova, Thomas me avisou que havia falado com Ezra antes, que estaria me esperando como sempre esteve nesses anos todos naquela igreja.

Fiz a trilha de pedras brancas segurando forte o tecido do meu casaco, algumas pontas agudas dos cascalhos perfuravam a sola do meu pé uma hora ou outra conforme caminhava, a dor ainda era superficial, mas apenas em senti-la um pouco me enchia de êxtase.

Paro em frente às altas portas de madeira escura da igreja. Os desenhos familiares nelas me transportaram para quando era mais jovem, em ocasiões onde ele me trazia para fora e contava as diversas histórias por de trás das figuras santas esculpidas perfeitamente na madeira cara, para depois me deixar polindo cada fissura com um pano e um óleo como parte de algum castigo.

TRILOGIA SANCTUM - A Tentação de Nina - LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora