Betty (PROJETO FOLKLORE)

●Betty●

Era meu aniversário de dezesseis. Meus pais estavam felizes, minha irmã estava feliz, meus amigos estavam feliz, mas eu não estava.
Fazia cento e trinta dias, ou quatro meses, desde que Inês, até então minha melhor amiga, veio me contar que James, meu namorado, traiu-me. Briguei com ela, dizendo que era mentira dela, que a de cabelos pretos estava pregando uma peça em mim, mas tinha provas. Foi uma facada em meu coração. Havia sido traída duas vezes pelas pessoas que eu mais amava.
Marquei de meu namorado vir em casa para conversarmos e assim terminei  com tudo entre nós:
- O que você acha, Betty?
Perguntou Alyssa me mostrando a  sua conversa com seu crush, Peter. Encolhi os ombros:
- Ah, qual é, Betty, se anima.- Disse sua gêmea, Alexa- É teu aniversário de dezesseis.
Suspirei, olhei para o copo de refrigerante:
- Eu não consigo, meninas. Só quero ficar na minha cama.
Alyssa revirou os olhos:
- Você tem que esquecê-lo. Nem parece que é uma de nós.
A gêmea mais velha deu uma cotovelada em sua irmã. Olhei Ally com certo repúdio:
- Acho que vou cumprimentar o restante dos convidados.
Falei. Sai de perto das loiras, fui à mesa onde minha mãe conversava e ali fiquei por um tempo.
Para mim, aquela festa era quase um funeral cigano para alguém que estava vivo.
Subi ao meu quarto, deitei na cama, olhava o nada interessante teto, até ouvir uma pedrinha batendo contra a porta de vidro da minha sacada.
Desconfiada, andei até ela, a abri:
- Betty!- Exclamou baixo James- Já vou subir, espere.
Revirei os olhos, voltei para dentro, deixando a porta aberta.
O loiro escalou a sacada de meu quarto como se fosse o Homem-Aranha. O encarei com desgosto:
- O que quer, Panaccio?
Indaguei secamente. O garoto se levantou, se aproximou:
- Você sabe o que eu quero. Quero fazer as pazes com você, Elizabeth Mary Darling. Preciso de você.
Revirei os olhos balançando a cabeça, dei alguns passos em direção oposta a dele, segurou meu pulso. Voltei a fitá-lo:
- Eu juro que o que tive com Inês foi só um lance de verão. Acredite em mim.
Me soltei:
- James, será que você não entende?!- Passei as mãos nas têmporas- Não é questão de se foi no verão ou no outono. A questão é que você fez. Você me traiu. Você quebrou sua promessa, e o pior: Foi hipócrita de julgar o Simon quando fez isso com a Miranda. Tem ideia da gravidade da situação?
O mais alto suspirou, abaixou a cabeça:
- Eu entendo que você está brava comigo e com razão, mas compreenda-me: Eu sou um adolescente de dezessete anos começando a vida. Tenho direito a errar.
Soltei uma risada alta, bati palmas indignada, então o olhei furiosa:
- Idade significa nada, James! Nada! Você pode ter cinco anos e ser muito mais maduro que muita gente de vinte, trinta, quarentena anos. O que você não tem é maturidade! Morder a mão que te alimenta, trair é imaturidade. Não é questão de "Ah, sou jovem, portanto sei de nada".
O de olhos azuis assentiu comprimindo os lábios, logo soltou enquanto balançava a cabeça, bateu na calça:
- E o que você sabe sobre a vida, Elizabeth? Já que disse que sou imaturo, é porque tem espaço de fala no assunto.
Fiquei indignada:
- Eu sei que trair, além de errado, é uma atitude tóxica, algo horrível e cruel de fazer a quem ama você; que se traiu uma vez, é bem mais suscetível a trair novamente; que se ligasse mesmo para mim, James, você não teria me traído só porque fui passar o verão na casa dos meus avós. Teria controlado seus impulsos. Mas tudo o que você sabe fazer é cagar e pedir desculpas achando que está tudo bem. Não está tudo bem, James Matthew Panaccio! Eu te amei como nunca amei ninguém. Lutei, fiquei ao teu lado quando precisou, fui amiga e jogara fora ao ter se sujeitado a dormir com aquela boçal da Inês. Sabe quão isso nos afeta em um todo? Sabe o quão isso me afeta psicologicamente? Não consigo nem ser sua amiga, James e não tem um dia que eu não passe chorando, me sentindo mal comigo mesma, querendo deixar de existir.
O loiro pareceu ficar arrasado. Me ergui, fui até a porta:
- Eu sinto muito, Betty.
Murmurou, abaixei a cabeça:
- Também sinto, J.
Sai do quarto.