A chuva forte começou no instante que os irmãos desceram do ônibus prateado numa rodovia que tinha uma estreita rua até uma pequena cidade, a dupla correu pela estrada encharcada e conseguiu abrigo debaixo do toldo azul de uma floricultura fechada, Amaya se escorou na parede da construção, a camisa bege e a longa e rosada saia pregueada estavam molhadas, bem como as meias brancas e as sapatilhas castanhas, ela sacudiu a mochila rosa e pensou em jogá-la na cabeça de Hayato, que apertava a camisa escura e a calça social para tirar o excesso de água, depois sacudiu os pés encharcados apesar do coturno marrom e balançou a mochila azul-escuro.
–Por que quis vir para cá, Haya? Está anoitecendo e não tem um ser vivo além de nós– Falou Amaya, torcendo o cabelo.
–Não seja dramática fora das apresentações, Ya– Ele desconversou.
–Foram pegos pela chuva também?– Perguntou uma voz masculina aguda e alegre.
Um rapaz asiático parou ao lado dos irmãos, ele era alguns centímetros mais alto que Amaya e o quimono amarelo-escuro estava molhado nos ombros, o curto e bagunçado cabelo tinha a mesma cor âmbar dos olhos e o pequeno e redondo nariz o fazia parecer um roedor, o estranho se apoiou na parede, pois o geta (chinelo-tamanco) escorreu por causa do chão molhado.
–Está tudo bem?– Perguntou Hayato.
–Não foi nada demais, eu só peguei o chinelo errado para o dia de chuva– Ele riu. –Eu me chamo Shigeki, e vocês não são daqui, não é? Precisam de um lugar para ficar?
–Acabamos de chegar, mas a chuva atrapalhou nossos planos– Resumiu o artista.
–Então venham para a minha casa, é aqui perto– Convidou Shigeki, fechando os olhos ao sorrir.
Os irmãos concordaram e, assim que a chuva cessou, seguiram o loiro até o final da rua mal iluminada, onde uma grande casa de madeira branca com três andares se destacava pelo estilo japonês, pelo arco de madeira vermelha e topo quadrado próximo à fonte de água de forma retangular feita de pedras brancas assim como a estrada, essa ia até a varanda de madeira castanha que circulava a construção, a qual tinha o telhado escuro tinha a forma de um V invertido e se assemelhava a um chapéu por causa das beiradas levantadas. O trio entrou pela lateral da casa, o depósito tinha bancadas e prateleiras de madeira escura à esquerda, as paredes eram castanhas, assim como parte do chão, já a metade próxima a saída era de pedras.
–Eu sou vou...– Shigeki foi interrompido pelo abrir da porta corrida de cor branca.
Um asiático magro e alto de, aproximadamente, dois metros de altura adentrou o aposento, o cabelo negro ia até os joelhos por estar preso num rabo-de-cavalo alto com uma fita vermelha, os olhos, que pareciam ter a cor de sangue, possuíam um delineado vermelho ao redor e as unhas roxo-escuro pareciam pequenas garras, quase se mesclando ao quimono negro que ele usava.
–O que você pensa que está fazendo?– Ele perguntou, a voz rouca parecia um rosnado.
–Dai-Daisuke-dono, me perdoe– Respondeu o loiro, ajoelhando-se e encostando a cabeça no chão.
–Dai, não brigue com o pobre garoto– Pediu uma voz masculina serena, cujo dono era um idoso tão pequeno quanto Amaya, a pele dele era um tanto enrugada, o cabelo grisalho estava penteado para trás e pequenos olhos eram cinzentos, ele vestia um quimono branco que o fazia parecer uma espécie de santo. –Peço desculpas pelo Daisuke, eu me chamo Hiroshi e sou o sacerdote desse templo xintoísta.
–Prazer, meu nome é Hayato, e essa é a minha irmãzinha, Amaya– O artista sorriu e estendeu a mão para o idoso.
Hiroshi se aproximou dos hóspedes, que o cumprimentaram, sorrindo e agradecendo a gentileza, o sacerdote pediu à Daisuke que avisasse à "Mi-chan" que ela deveria cuidar de Amaya, o homem de quimono negro saiu e, em segundos, uma jovem asiática apareceu, ela era alguns centímetros mais alta que Hayato e tinha um corpo esbelto, a pele quase translúcida destacava o cabelo negro preso num coque, os olhos verdes e o nariz fino lhe dava feições reptilianas, ela usava um quimono de sacerdotisa (uma blusa branca de mangas compridas e largas, sendo presa com a fita vermelha que era da própria calça, que também era larga).
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Longe de ser uma Sacerdotisa [DEGUSTAÇÃO]
Romance"Juramentos foram feitos há séculos, são promessas que nem o tempo pode destruir" Amaya pensou que se hospedaria num templo xintoísta por uma noite, mas uma discussão expõe uma assustadora verdade: seu irmão mais velho e os servos daquele santuário...