Bela como a Noite

01 Sangue Agridoce

Viver em Paraíso é bom. No início, era apenas um local calmo e tranquilo, como uma típica cidade do interior, então o tempo foi passando, as coisas evoluíram e a pacata e portuária Paraíso cresceu. O centro, que antigamente era composto por pequenas lojas, hoje possui vários prédios, apartamentos, e até mesmo um bairro onde funcionam vários escritórios e empresas. Como eu disse, a cidade cresceu e é quase uma metrópole, porém seus moradores mais antigos gostam de manter uma parte histórica. Esse é o lugar onde eu moro, uma linda cidade, com clubes, lojas, prédios, algumas casas e um cais que não é mais utilizado — alguns jovens gostam de ir nessa parte, mesmo sendo um local abandonado.

Enfim, tudo normal, exceto que existe uma parte da cidade que é mantida em segredo da maioria das pessoas e que funciona como um refúgio, os humanos não sabem que existimos, que estamos em todos os lugares, que temos nossos líderes e que eles controlam toda a cidade. Eles são os Caçadores Noturnos, ditam as regras, fazem a "limpeza" (muitas vezes, isso quer dizer sumir com os corpos sem deixar vestígios), castigam ou simplesmente eliminam quem não obedece, mas, acima de tudo, eles fazem o controle do número populacional da nossa raça — alguns de nós têm a capacidade de transformar humanos. Meu amigo, o Sorah, faz parte deles, ele é gentil, companheiro e protetor, já viveu muito e por isso ganhou o respeito do nosso povo. Seu chefe é conhecido como "o Implacável", um vampiro muito sedutor e, ao mesmo tempo, assustador. Poucas pessoas o conhecem pessoalmente, e as que conhecem, não falam muito a seu respeito.

Estou caminhando pela calçada e sinto minha fome aumentando a cada segundo. Os cheiros enchem minha boca de saliva; doces, salgados, amargos, e meu preferido: o agridoce.

Olho pra frente e vejo uma senhora de uns sessenta anos, o meu sabor favorito vem dela. Com isso, tenho meu alvo localizado. Antigamente, o simples ato de salivar pelo cheiro de sangue me atormentava, agora é algo normal. Ela vira na esquina e, nesse momento, tenho minha oportunidade. Coloco-a contra a parede e finco minhas presas em seu pulso. Prefiro essa parte do corpo, é mais fácil esconder a marca. Não a mato, isso vai contra meu código de Sanguessuga Noturno. Apago esse pequeno encontro de sua mente e a ajudo a entrar em um táxi para sua casa. Sim, eu sou um monstro boazinha.

***

Hoje à noite, decido sair para dançar. Normalmente, fico em casa lendo ou assistindo a séries, mas, meu sistema biológico me impele a satisfazer determinadas necessidades. Chego à boate e começo a selecionar possíveis alvos. Tem para todos os gostos, mas, no meu caso, escolho baseado nos cheiros.

Estou na pista dançando quando eu sinto; começo a procurar a pessoa dona desse perfume e então o avisto. Ele é lindo e sei que estou encrencada, pois ele me lembra alguém do meu passado. Sem pensar, ando em sua direção, abro um sorriso e me sento ao seu lado. Ele me olha e percebo que ele acompanha cada movimento meu. Quando me preparo para levantar, sinto sua mão em meu ombro.

— Oi, sou o Alex, como se chama? — ele me aborda com um sorriso meio torto, charmoso.

Dou um risinho.

— Hoje pode me chamar de Angel.

— Entendo. Você vem sempre aqui? E antes que pense que estou passando uma cantada, já digo que essa é minha primeira semana na cidade e minha primeira saída. Claro que te achei bonita, mas acredito que seja do tipo esperta e que esse tipo de joguinho não vá funcionar.

Fico impressionada! Além de aparentar ter mais que 1,80 m de altura, cabelos castanhos acobreados, olhos verdes e uma boca bonita, ele também não é bobo.