04 Pelo sangue e pela vida

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Laylah

Abro meus olhos e percebo que estou em um local cheio de poeira, coisas abandonadas, teias de aranha, manchas de infiltrações e um odor podre que irrita meu nariz. Sinto náuseas. Reparo que estou com vários cortes no corpo. Eles foram feitos para que eu perdesse muito sangue e ficasse mais fraca que o normal. Tive sorte foi de ter me alimentado um pouco pela manhã ou estaria ainda mais ferrada do que estou. A picada que eu tinha sentido, antes de ficar inconsciente, foi uma injeção aplicada em meu pescoço. A pessoa que me pegou foi esperta, ela sabia que, ficando contra o vento, atrapalharia qualquer possibilidade de tentar localizá-la.

Sinto meu corpo todo dolorido, mas tenho que manter o controle para não apagar novamente. Uso todos os meus sentidos para ter uma mínima ideia de onde estou. Usando meu olfato, sinto um cheiro característico de maresia, com isso tenho quase certeza de que estou no cais da cidade. Escuto uma porta se abrindo e vejo minha captora entrando, e o pior, ela não está sozinha.

— Ora, ora, se não é a puta que eu venho caçando há muito tempo. — Firenze fala e sorri diabolicamente.

— Você pode matá-la quando eu tiver o Sorah pra mim! — Sabrina lhe lembra com uma voz esganiçada e doentia. Ela é linda, mas seus olhos refletem uma alma atormentada, e ela não parece bem.

— Como vocês se conheceram? — não consigo segurar minha língua e acabo perguntando.

— Com ciúmes, minha flor? — pergunta Firenze.

— A única coisa que sinto por você, é nojo! — declaro isso cuspindo no chão. Lentamente eu reúno forças para me sentar.

— Uma flor tão linda não deveria tratar assim seu futuro companheiro. — ele continua com seu sarcasmo doentio.

— Firenze, vê se entende: EU NUNCA FICAREI COM VOCÊ! Eu te disse isso, quando você causou a morte dos meus pais e de Sebastian, e repito agora: EU NUNCA SEREI SUA! — a raiva começou a tomar conta de mim, ele caminha em minha direção e desfere um tapa no meu rosto.

Firenze é o que se pode chamar de nobreza vampiresca, seu sangue não possui nenhuma gota humana em toda sua ascendência. Da mesma forma que eu. Nós nascemos de pais vampiros e crescemos normalmente até a puberdade, depois disso nossas habilidades e as necessidade por sangue começam a aparecer, até termos maturidade e finalmente ser um vampiro completo. Existem poucos como a gente e apenas nós possuímos cem por cento da capacidade de transformar humanos em vampiros de classe mais baixa. Os outros (os que não são puros) podem tentar fazer a transformação, porém as chances são mínimas e a maioria dos humanos morrem na transição. Por sermos poucos, ele se intitulou meu noivo e me perseguiu. Meus pais não o aceitavam, e com ódio Firenze os matou.

Séculos depois, eu conheci o Sebastian e acabei me apaixonando, mas ele possuía uma doença e se eu tentasse transformar ele, poderia causar sua morte. Se aproveitando disso, Firenze nos caçou, até que um dia ele encontrou onde estávamos e se aproveitou que eu não estava, para matar meu primeiro amor. Quando retornei, encontrei uma cena horrível e que até hoje me causa pesadelos. Por isso, a única coisa que sinto por Firenze é raiva. E tenho certeza que ele se aproveitou da instabilidade emocional da Sabrina para montar uma armadilha para o Sorah, pois ele cuida de mim desde a morte dos meus pais, quando eu tinha dez anos de idade - e depois da morte de Sebastian, me ajudou a fugir e me esconder durante tanto tempo. Firenze tem um corpo com a aparência de um homem com quarenta anos, embora ele exista há muito mais tempo.

— Ele chegou! — Sabrina dá pulinhos de felicidade enquanto abre um sorriso olhando para longe, e assim entendo exatamente como conseguiu me pegar: Firenze a colocou como escrava de sangue. É um ritual no qual o humano é embebedado com sangue de vampiro. Isso faz a pessoa ter seus sentidos mais apurados, só que a torna um escravo, quase um dependente químico, ele se vicia e não consegue mais ficar sem o sangue.

Bela como a NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora