Capítulo 4

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Presentinho para vocês! Em comemoração ao dia mundial do escritor, estou publicando o capítulo 4 ❤ O capítulo 5 sai na quinta-feira ❤

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Marina

Tenho duas irmãs: uma de sangue, outra de coração. Fabiana Barreto, a camaleoa mais doidinha de Paraisópolis, é a irmãzinha que a vida me deu. Não me lembro mais se ela é loira, morena ou ruiva (nem a própria deve se lembrar). Fabi muda a cor dos cabelos mês sim, mês não, desde os dez anos de idade, não é exagero. Tudo começou quando a maluca estava no quinto ano do ensino fundamental (fiquei chocadíssima no dia em que soube dessa história), se escondeu no banheiro de sua casa e usou o tubo de tinta vermelha da mãe. Depois de um mês de castigo, sem TV e doces, ela tingiu as madeixas de preto.

Sua mãe faleceu há cinco anos dias antes do meu padrasto (e isso nos uniu mais) devido a complicações causadas pela dengue. Ela e Elielton, seu irmão gêmeo, jamais conheceram o pai (que abandonou a namorada grávida e sumiu no mundo). Eles moram com uma tia, que é diarista, duas priminhas (de três e cinco anos) e um tio, zelador de um prédio no Morumbi, numa casinha tão humilde quanto a minha (Fabi, inclusive, divide a cama com as crianças).

Nós nos conhecemos na adolescência. Eu tinha dezesseis anos; ela, quinze. Nessa época, eu trabalhava numa papelaria da comunidade (minha família estava passando por um período complicado, pois meu padrasto tinha quebrado o braço e não podia pegar serviços de construção, então, como não podíamos contar com Marlon que só queria saber de vida fácil e minha mãe ganhava pouco no salão de cabelereiro, passei a me dividir entre os estudos e o meu primeiro emprego).

Posso não me lembrar de qual é a cor real dos cabelos da minha melhor amiga (aliás, neste momento, eles estão alaranjados, num corte chanel), mas me lembro perfeitamente do nosso primeiro encontro. Fabi entrou correndo na papelaria, fugindo de um cachorro (ela morre de medo de cachorros), e caiu por cima de um mostruário de produtos, forrando o chão da loja com lápis e canetas. Em pânico, a ajudei a se levantar e, sorrindo, ela disse: "Veja pelo lado bom: esta podia ser uma loja de 1,99, eu poderia ter caído em cima de uma prateleira de enfeites bregas e ter que trabalhar o resto da minha vida para pagá-los."

Passamos mais de uma hora recolhendo as mercadorias espalhadas por todos os cantos da papelaria. Meu medo era minha patroa aparecer e surtar com a bagunça. Felizmente, dona Guaraci chegou quando tínhamos organizado tudo e estávamos, eu e Fabiana, conversando como se já fôssemos velhas amigas.

A Fabi trouxe leveza para minha vida. Seu jeito desencanado de ver o mundo ameniza um pouco minha personalidade séria e inflexível. Ela me faz reconhecer que, apesar de todo sofrimento, toda dificuldade que enfrentamos diariamente na periferia de São Paulo, ainda é possível ver o lado bom das coisas e nos sentirmos gratas.

Talvez ela seja a pessoa que mais sabe sobre mim. Compartilhamos tantos acontecimentos! Foi para a minha baixinha (Fabiana é ainda menor do que a Maya tem 1,56m) que corri contar quando aceitei o pedido de namoro de Xandinho, após dar meu primeiro beijo. Foi ela também quem soube em primeira mão que eu havia perdido a virgindade com Alex, aos dezoito anos, num ato sexual mecânico, sem romantismo. E foi minha irmãzinha do coração que me abraçou em todas as vezes que quebrei a cara com os homens, depositando expectativas demais.

Guinada do Destino [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora