Marina
Minhas costas doem. Meus pés estão cheios de bolhas. Todo meu corpo está moído de cansaço. Doze horas andando por São Paulo, indo de empresa em empresa, com uma pasta cheia de currículos embaixo do braço, e recebendo a resposta padrão: "Não estamos contratando."
Ninguém está contratando há três malditos meses!
Seria fácil colocar a culpa na crise econômica que assola o Brasil. Aliás, quando este país não está em crise? Pelo menos, para nós, pobres, essa é uma realidade imutável. Porém, eu sei que os principais motivos pelos quais minha peregrinação em busca de emprego não é bem-sucedida são: sou negra, moradora da favela e irmã de um assassino cujo rosto esteve estampado em todos os meios de comunicação.
Nos últimos noventa dias, conto nos dedos de uma única mão quantas vezes fui chamada para uma entrevista de emprego e não passei na seleção. Ledo engano acreditar que minha trajetória meteórica na Padronelo e minha graduação em secretariado executivo me proporcionariam uma recolocação em tempo recorde. Todos os recrutadores que me entrevistaram estavam mais interessados em revirarem do avesso a minha vida pessoal (preocupadíssimos com o fato de eu ser de Paraisópolis) do que analisar minhas competências profissionais. E é claro que acabavam descobrindo o meu parentesco com Marlon Pereira Fargas.
Meu irmão me ferrou pra caramba!
Ele ferrou toda a minha família.
Avanço pela rua estreita, abarrotada de gente e comércio, em Paraisópolis. Desvio de algumas pessoas e cumprimento seu Miro, o dono da pizzaria mais movimentada da comunidade. Ele faz um aceno discreto de cabeça, entrando, em seguida, no estabelecimento.
Assim tem sido nossa vida — minha, da minha mãe e de Maya. A maioria das pessoas passou a ter receio de falar conosco desde que a notícia de que o Marlon do Beco assassinou um empresário do Morumbi se espalhou. Foram poucos os moradores que não mudaram seus comportamentos. Mas eu os entendo. O crime foi brutal. Causou choque, tristeza, revolta nos brasileiros.
Meu irmão matou a sangue frio, com um tiro na cabeça, um homem de quarenta anos, na frente da esposa e dos três filhos — crianças entre quatro e dez anos (como isso destruiu meu coração!) —, porque o empresário não se lembrava da senha do cofre de seu quarto.
Marlon nasceu ganancioso e cruel. Dinheiro e frieza sempre estiveram no topo de sua lista. Começou furtando objetos na adolescência; depois passou para assalto à mão armada; então, veio sua entrada no tráfico de drogas. Eu deveria ter previsto que não havia limite para seus atos criminosos. Seu ódio contra os ricos e seu inconformismo por ter nascido numa das maiores favelas do Brasil, mais cedo ou mais tarde, o levariam a invadir o reduto da classe social que tanto detestava.
No entanto, ninguém descobriu a tempo que o menino que brincava de pega-pega comigo pelas ruas da comunidade e passava horas falando sobre seu projeto de enriquecer tinha um plano muito bem elaborado. Marlon se envolveu com uma das funcionárias de Caio Sanchez, um empresário da construção civil, a convenceu a colocá-lo dentro da mansão e, com arma em punho, surpreendeu a família Sanchez durante o jantar.
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Guinada do Destino [DEGUSTAÇÃO]
RomanceRodrigo Eu tinha dois heróis: meu pai e meu irmão. E uma certeza: meu pai e meu irmão estariam sempre à frente dos negócios da família, comandando uma das maiores indústrias alimentícias do país. Dividindo-me entre o Brasil e a Itália, país onde nas...