Capítulo 3 - Ensaio Sobre Ela

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Passado o período de Lockdown e com a data para apresentação de seu TCC marcada, Bakugou precisava sair para o supermercado para comprar algumas comidas. Muito ocupado, surtando sobre a roupa que deveria usar e se valia a pena aumentar seu plano de internet só para a ocasião, sabendo que depois para voltar ao valor normal seria um inferno, ele não queria sair de casa.

Nesse momento, sua recente e surpreendente amizade com Kirishima veio a calhar, então, muito contrariado ele pediu (mandou) que o ruivo comprasse suas coisas junto com as dele, o mais educadamente que ele conseguia no momento. O ruivo, o belo raio de sol que era, se dispôs de forma muito gentil, até porque não era nada muito diferente de sua própria lista de compras.

Como diabos, Bakugou se perguntava, isso evoluiu para seu vizinho sentado em seu sofá colocando Enrolados para assistir em sua TV?

Ele lembrava de o outro ter falado algo assim que chegou com suas sacolas, que Bakugou assentiu sem prestar muita atenção, muitos pensamentos ansiosos em sua mente, concordando com tudo, e logo depois ir higienizar os produtos para guardar em seu armário, fazendo uma nota mental para agradecer adequadamente mais tarde.

Porém, alguns minutos depois, Eijirou chegou em sua casa, claramente depois de tomar banho, e entrou antes mesmo de ser convidado. Katsuki tinha uma leve desconfiança de que essa atitude tinha a ver com o que ele falara quando lhe entregou as compras, mas ele não se lembrava de uma palavra sequer.

Sentado em seu sofá, a mão em seu controle, pausando o filme Enrolados para dar a Katsuki a oportunidade de escolher outro, estava um Eijirou com um sorriso no rosto e olhando-o com expectativa.

Antes que Bakugou pudesse expulsá-lo para fora de sua casa, ele falou:

-Fico feliz que me deixou vir pra cá. Eu tava enlouquecendo dentro de casa. Eu sei que é meio perigoso eu aqui, mas eu juro que cumpri tudo direitinho e não to com nenhum sintoma. Ce quiser a gente pode ficar bem distante, eu só preciso muito de companhia. Não consigo ficar 100% sozinho muito tempo. - Eijirou falou, sorrindo sem graça.

Bakugou quis muito ficar com raiva e mandá-lo para fora mesmo assim, mas não conseguia parar de pensar que Eijirou era apenas tão ansioso quanto ele, eles só tinham formas diferentes de lidar com isso e funcionava bem diferente para os dois. E, de qualquer forma, era apenas uma aglomeração de duas pessoas, numa casa um tanto espaçosa e ventilada. Ele podia lidar com isso.

Sem dizer nada, preparou duas pipocas no microondas (remanescentes de seu costume de comer algo rápido nos últimos tempos) e entregou uma a Eijirou, se sentando meio afastado dele no sofá.

-Um filme. Só isso. - Bakugou falou, como uma ameaça.

Eijirou concordou, sorrindo.

Horas mais tarde, quando Eijirou já assistia As branquelas e Katsuki fazia jantar para os dois na cozinha, ele não tinha ideia de como aquele dia tinha acabado daquela forma. Só sabia que, de uma forma ou de outra, Eijirou o ajudou a se distrair e esquecer um pouco do TCC.

-Qual era a música que cê tocou no dia que me chamou pra almoçar? - Bakugou perguntou, curioso.

Ele colocou as duas tigelas quentes de comida na mesinha de centro e deu os talheres a Eijirou, que fez careta quando Katsuki sentou perto dele no sofá.

-Meio tarde pra isso, cê não acha? Tá na minha casa, comendo minha comida e foi no meu banheiro, tocou tanto no controle da minha tv e se agarrou tanto nessa almofada pra rir que nem se eu encharcasse de álcool em gel eu tirava o coronavírus que ce deixou ai. - Katsuki acusou, franzindo o cenho.

-Eu não tenho corona. Ou pelo menos não tenho sintoma. - Eijirou falou, o tom ficando mais baixo no meio da frase e uma careta confusa tomando seu rosto. - Meu deus, será que eu to com corona e sou assintomático?! - Ele se perguntou baixinho, entrando em pânico com a possibilidade.

-Garoto, calma...- Katsuki tentou começar a falar, mas se interrompeu ao notar que falara "Calma" ao mesmo tempo que Terry Crews, ainda no filme As branquelas, ao falar "Calma, chocolate branco, eu não quero que você...derreta".

Eijirou riu, notando a coincidência, já distraído de seu pânico anterior. Como ele havia se acalmado, ele deixou por isso mesmo.

-Você ouviu minha pergunta antes ou tá surdo mesmo?

Eijirou franziu o cenho primeiro, mas depois pareceu entender e respondeu:

-Ensaio sobre ela, do Cícero. É uma música bem gayzinha, sabe? Eu fico todo boiolinha quando escuto. Se eu me apaixonar mesmo por alguém um dia, certeza que me declaro com ela. E é bem fácil de tocar, então aprendi ela rápido.

— Parece mesmo seu estilo.

— Por que? Por ser de boiola? Com certeza! — Eijirou falou tudo junto e riu da própria piada, atropelando Bakugou. — Sou muito gay.

— É, eu notei. E eu ia falar que é seu estilo por ser bem calminha, nesse estilo MPB, parece ser algo que cê gosta.

— Ah, eu gosto muito, mas sou bem eclético, sabe? Escuto de tudo mesmo, MPB, jazz, brega, funk, kpop. Até rock, de vez em quando. E você?

— Sei lá, música clássica? Tem uma playlist de música romântica que eu escuto pra cozinhar. Não sei, não sou tão ligado em música, conheço as mais famosas e coisa assim. — Bakugou disse, indiferente.

— Como não gosta de música?! Meu deus, que crime. Vai escutar música sim, nem que eu tenha que vir eu mesmo com o caixinha de som te educar, pelo amor de deus! — Eijirou exclamou, como se Katsuki tivesse acabado de dar um tapa na cara da avó dele.

— Pelo visto vai, né? Quer passar a quarentena aqui, é? — Katsuki perguntou, debochado e irônico, irritado consigo mesmo por ter passado quase o dia inteiro com Eijirou e ainda ter feito o jantar.

— Posso?! — Eijirou perguntou, genuinamente entusiasmado com a ideia.

Katsuki franziu o cenho, incapaz de entender como ele poderia ter tomado sua ironia por uma proposta legítima.

— Quer dizer, eu adoraria passar a quarentena com meu crush. — Eijirou falou, corando, mas sem demonstrar demasiada timidez em seus olhos.

Katsuki corou intensamente.

— Quê?

— Eu sinceramente não sei o que mais tenho que fazer para tu perceber que eu to dando em cima de ti. Vou ter que te beijar na marra? — Eijirou falou, bufando ao final da frase como se falasse a coisa mais óbvia do mundo.

Não que isso não tivesse passado na cabeça de Katsuki quando recebeu o convite pro almoço, mas pensou que sua personalidade nada gentil tinha sido o suficiente para afastar o raio de sol que era Kirishima já enquanto comiam. Ele não imaginava que ele ainda estivesse tentando. Era incapaz de assimilar essa informação, assim, como um idiota, só pôde perguntar de novo:

— Quê?

Eijirou revirou os olhos, sorrindo, e beijou Katsuki. 

And they were quarantined   (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora