Capítulo 2: Um pouco de Noelle-Neumann para você!

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O dia não estava tão frio, por que em LA o inverno não era tão rigoroso, e mesmo no início de dezembro, as baixas temperaturas ainda não tinham dado as caras, mas o sol brilhava, como se fosse um belo dia de verão, apenas o vento frio que vinha do mar o contrariava. Por isso wu vestia um casaco preto, calça jeans e sapatilha, e Thomas completou seu visual de blusa branca e jeans com um casaco de couro preto, boné e óculos escuros, e me aconselhou que o acompanhasse no estilo, mas eu usava um chapéu de aba curta e óculos escuros.

- Não parece uma prisão ou condicional isso tudo? – Pergunto curiosa.

- Um pouco, mas você com um tempo aprende estes truques, que prolongam sua paz em público, até algum garçom, atendente ou pedestre que é fonte de alguém ligar e avisar. – Fala ele calmamente, com as mãos no bolso enquanto caminhavam pela calçada da praia de Santa Monica.

- Eles possuem fontes? – Pergunto surpresa. – Se é que pode se chamar de fontes. Pensei que só os jornalistas sérios, aqueles de verdade tinham fontes.

- Sim, eles têm fontes. E elas contam sobre o que ouviu da conversa, sobre localização de alguém. Algumas fazem pelo dinheiro, outras apenas pelo prazer de saber que ele deu aquela informação. No início eu achei aquilo tudo muito maluco, mas depois aceitei por que é o risco da profissão, para fazer o que ama você paga certos preços. Você perde muitas festas importantes, não tem vida pessoal por que o trabalho a consome, eu sou quase a mesma coisa, sempre tenho que tomar cuidado com o que faço. Hoje, por exemplo, estou sendo irresponsável por estar aqui com você, por que depois das notícias isso pode se transformar numa bela fofoca e eu vou te trazer para esse furacão sem ter consultado. Na verdade... – ele dá um longo suspiro cansado. – Eles nunca te consultam.

- Não se preocupe. Amanhã estas notícias bobas estarão embrulhando objetos de mudança e os bites serão esquecidos em algum canto da rede. – Sorri otimista.

- É a primeira jornalista que acha que notícia se esquece.

- E quem disse que acredito nisso, apenas estou tentando ser otimista. – Rio enquanto caminhávamos para o Pier Santa Monica.

Ali passamos a manhã, brincando entre os brinquedos, rindo. Para mim era tão normal estar ali, se divertindo, aproveitando o dia, mas para ele era tudo muito novo, fazia muito tempo que ele não andava sem seguranças, sem assessores, sem tudo cronometrado e orquestrado, uma vida planejada. Ele era um homem que naquele dia deixava um pouco a alma jovem para aproveitar aquele dia, como um cara comum, um cara que ele não era desde os 17 anos, quando afundou naquele mundo. Era quase 17 anos de prisão, ou seja, metade da sua vida.

Para mim eram apenas 26 anos de liberdade, de vitórias, de todas as apostas dando certo. E a maior liberdade foi quando vim para LA, não precisei dar satisfação para os meus pais e sempre fui muito correta. Na verdade a minha prisão eram as minhas neuroses, medo de errar, medo de dar um passo em falso, isso fazia com que fugisse das relações, fosse cuidadosa ao escolher os amigos, tentando calcular tudo para não errar. Mas naquele fim de semana, naquela cidade, eu estava me permitindo quebrar um pouco as regras, aproveitar o dia com alguém que repugnaria no passado por ser a receita da confusão. Talvez Los Angeles estivesse me libertando outra vez.

Ambos estávamos livres ao seu modo, ele me fazia rir, e eu o fazia dizer coisas bobas, ele se esforçava para ganhar um urso no tiro-alvo só para presenteá-la, e ela se esforçava para ver um homem comum, mas acabava vendo um rapaz que se encantava com a liberdade como um menino que pela primeira vez podia sair sem os pais. Nos divertíamos com algumas pessoas, que olhavam um pouco para ele, com aquela impressão que o conhecia de algum lugar, mas depois desistiam.

O saldo do passeio foi um belo urso de pelúcia branco, presente de Thomas, que ganhou sem trapaças no tiro ao alvo, graças ao treinamento que tinha passado para o novo seriado que ele tinha lançado em setembro. Ainda estava sendo conhecido pelo público, mas muito bem recebido pela crítica, onde Declan vivia um detetive todo certinho que sempre solucionava os homicídios de Nova York, e tinha uma quedinha por outra detetive, que era interpretada pela atriz queridinha do momento, Molly Evans. Os poucos fãs que a série já tinha, torciam pelo envolvimento dos dois. Mas adianto logo que só saberia disso bem depois, quando fosse revirar o Google, mas isso não é assunto para agora.

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