Contract

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Apesar da reunião ter sido marcada excepcionalmente às 17h de uma nublada quinta-feira, pouco passava das 16h quando cheguei. Sentada de frente para uma enorme sala de reunião, procurei qualquer coisa para me distrair — e quem sabe amenizar a queimação em meu estômago, com a maldita ansiedade me comendo. Ninguém queria dizer em voz alta que aquilo era quase uma faca de dois gumes, mas não é como se alguém se importasse suficiente comigo.

Só queriam dinheiro.

— Você já o conheceu antes? — Nathan perguntou, puxando o celular do bolso.

— Não. O vi de relance numa festa, mas nunca fomos apresentados. — Cruzei os braços na altura do peito, negando com a cabeça. — Achei que esse tipo de coisa só acontecia em filmes e livros.

— Bem vinda a vida de uma estrela, Juliet.

— Como se eu fosse uma. — Revirei os olhos, levando as mãos até os cabelos e os puxando da raiz. — No que fui me meter... oh, quero voltar pro colo da minha mãe.

— Vai ser, Juliet. Você vai ser uma estrela. Mesmo que Harry não parecesse muito feliz com a ideia e...

— Ninguém está feliz. — Rebati ríspida. — Mas como Ludevick mesmo disse, é para o bem de todos. Estou fodida, Nathan. Completamente fodida.

— Você vai ficar bem, Julie.

Mesmo achando que o meu bem ficaria por último, me via encurralada: Ludevick, o empresário de Harry e conhecidíssimo no mundo do entretenimento fez a proposta para Wayne, calhando ser meu empresário e seu amigo de longa data. Um relacionamento de fachada com Harry Styles? Oh, sim, na cabeça dos dois lunáticos, era o melhor a se fazer.

A proposta veio rápido e sem qualquer chance de escapar: ou eu assino, ou eu perco meu contrato.

Contrato este que custou meu sangue, noites sem dormir, o árduo trabalho e esforço dos meus pais, minha formação, meu suor e toda a minha vida: nasci num teatro e não conseguia me ver fora do ramo. Um ramo sujo e muitas vezes cruel, ainda mais para uma atriz fora da mídia como eu.

E aquele era o pote de ouro.

Mesmo sem plena certeza se ia conseguir aguentar aquele mundo, dei as caras e suspirei pesadamente duas vezes, tentando controlar as pernas trêmulas e, com certeza, a merda do relógio não ajudava. Troquei poucas palavras com Nathan, que procurava informações ao meu respeito no twitter e tentava me animar.

Aquele contrato podia foder a vida pessoal de Harry. E o simples pensamento me fazia entrar em parafusos.

Estava em seu território, amedrontada. Como um cachorro perdido, tinha vontade de correr dali o mais rápido possível.

Mas pontualmente, às 17h, passos altos chamaram minha atenção. Com uma camiseta preta e calça da mesma cor, os olhos verdes percorreram o ambiente até pararem em mim. Como uma idiota, me levantei, reparando nas bochechas avermelhadas pelo frio e olhos um tanto sem vida. Acompanhado do manager, parou na minha frente sem dizer absolutamente nada.

— Boa tarde. — Cumprimentei, dando um sorriso pequeno. — Sou Juliet Beaufay, é um prazer.

— Boa tarde, Juliet. — Soou ríspido e sagaz, sentando na poltrona ao lado de Nathan.

— Olá, Juliet! Sou Elias, manager de Harry. É um prazer te conhecer. — Tentou reverter a situação, pelo menos temos alguém que ao menos finge ter um pouco de educação. — Sou muito fã da sua série!

— O prazer é meu, Elias. Obrigada, de coração! Fico feliz que goste! — Fui sincera. Elias parecia pouco passar da casa dos trinta, seus cabelos castanhos estavam desgrenhados e moldavam seu rosto. Os olhos escuros contrastavam com sua pele pálida, era alto, mas não como Harry.

Eu não era famosa, na verdade, sentia que estava longe disso: um papel relativamente bom na série teen Behind Your Eyes, onde dava vida a irmã do personagem principal. Com críticas boas, o diretor estava animado para uma segunda temporada.

E eu não trocaria meu papel que conquistei com tanto carinho por nada.

Nos sentamos e o clima horrível durou por mais exatos doze minutos, quando Ludevick e Wayne, acompanhados de pessoas com roupas sociais e enormes pastas apareceram no campo de visão.

— Estamos todos? — Wayne perguntou após uma calorosa sessão de cumprimentos.

— Sim. — Respondi mais rápido que previa.

Num piscar de olhos, estávamos sentados numa mesa redonda quase como uma cúpula. Batuquei o mármore frio e controlei a respiração quando Ludevick começou a falar.

— Obrigado pela presença de todos. Como já conversado, estamos aqui para a assinatura do contrato e esclarecimento de dúvidas. — Começou, retirando um bolo de folhas de uma pasta vermelha. A palavra 'confidencial' escrita num vermelho vivo me fez querer chorar. — Juliet, por favor. — Caminhou até mim, entregando-o. — Harry. — Fez o mesmo.

— Juliet é um ótimo nome, não? Harry agora é o Romeu dela. — Wayne brincou.

— Gostaria que o profissionalismo fosse mantido. Acredito que a senhora Beaufay, assim como eu, ainda tem assuntos pendentes hoje. Vamos direto ao assunto. — Cortou Harry.

Ouch. Ainda bem que estava quieta.

— Continuando... — Ludevick fuzilou-o com o olhar. — O contrato é extremamente confidencial e tem duração mínima de um ano. Nele, as partes Juliet Beaufay e Harry Edward Styles cumprirão obrigações públicas como demonstrações de afeto e qualquer outro meio que evidencie uma relação amorosa de ambos. Temos dois advogados à disposição para esclarecimento de dúvidas. A multa por quebra do contrato é de cinco milhões de dólares, vocês podem solicitar a qualquer momento, ciente das consequências. O contrato é extremamente confidencial e ninguém mais além dos presentes nesta sala podem saber, vocês entendem?

— Sim. — Minha voz saiu baixa como uma súplica. Se para Harry esse dinheiro era troco de pão, isso tinha tantos zeros que nem conseguia imaginar o valor na minha conta bancária.

Naquele maldito papel tinha minha mudança de vida. Ao assinar aquilo, me comprometeria a ser a suposta namorada de ninguém menos que Harry Styles. Um absurdo.

Mais ainda por ele estar agindo como um babaca e sequer fazendo esforço para melhorar a situação grotesca.

Li, reli e quase chorei. Um de confidencialidade, outro com termos sublinhados e absurdos. A sessão durou quase duas horas e os advogados explicaram termo por termo, lendo o contrato em voz alta quase cinco vezes e, por mais que a voz da mulher fossa absurdamente gostosa, só conseguia pensar no fundo do poço que eu iria chegar caso aquilo desse errado.

— Vamos tentar ajudar vocês, tudo bem? Se programarmos viagens e outros programas, vocês terão de comparecer. O único intuito é deixar isso o mais fiel possível e...

— Não acha que isso é um pouco exagerado? — Murmurei, não contanto que Ludevick fosse ouvir.

— Juliet. — Wayne chamou, e me assustei. — Vocês estão tentando enganar o mundo inteiro. Você não conhece as fãs do Harry? O mundo vai virar os olhos pra você agora, precisam ser o mais convincente possível.

— As vias originais estão aqui. — Ludevick chamou, nem mesmo dando tempo para rebater. — Por favor.

De má vontade, Harry se levantou primeiro e o segui, quase caminhando para minha forca em passos lentos sabendo que ele sequer dirigia o olhar, quem dirá trocar alguma palavra.

Quando sua assinatura numa tinta preta foi depositada naquele papel, sabia que nada seria igual. Respirei fundo e me abaixei, percebendo o quão infantil minha assinatura era e que, definitivamente, precisaria treinar a noite toda. Harry mantinha uma expressão séria, seu maxilar travado e olhos atentos eram indecifráveis, mas se pudesse, com certeza ele estava amaldiçoando até a quinta geração de minha família.

Ele não estava contente, eu também não estava.

— Não tem mais volta — disse para mim mesma, colocando a tampa na caneta.

— Eu odeio isso tanto quanto você — seu tom de voz me arrepiou, e não de uma forma boa — espero que seja uma ótima atriz.

— Eu vou te surpreender, Harry. Não duvide disso.

Juliet [H.S/PT.BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora