Hospital

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– É sério?! – indaguei um pouco alto, me deixando constrangida quando a mulher em minha frente ficou desconfortável.

– Sim, senhorita. Iremos lhe receitar alguns remédios, mas precisa tomar cuidado com sua alimentação, evite alimentos ácidos demais e tomar muito café. Fique tranquila, iremos lhe orientar melhor depois. Por ora, descanse um pouco. – a médica sorria simpática, apesar de anunciar que tenho uma úlcera gigantesca.

– Eu não posso ir agora? Estou me sentindo muito melhor. – tentei soar confiante, mas a mulher não parecia muito afim de ceder.

– Ficará em observação por hoje, Senhorita Beaufay. Será liberada no primeiro horário da manhã, caso não tenha nenhuma complicação em seu quadro. – já na porta, a mulher comunicou, antes de sair nem dizer adeus.

– Inacreditável, Juliet. – Harry exclamou, fazendo minha atenção voltar a ele.

– Eu sei, eu sei. Já não basta o sermão que vou levar de Nathan...

– E ele não está errado. Você precisar cuidar de sua saúde. – advertiu, mas não parecia agressivo.

Além de anemia, uma úlcera gigantesca apareceu nos exames, o que explicava muita coisa, afinal, estava com um mal-estar horrível há semanas, mas não achei que seria algo tão sério. Harry, no entanto, ficou ao meu lado o tempo todo, mesmo que isso significasse sua indignação. Estava sentado na poltrona ao lado da cama que, honestamente, parecia extremamente desconfortável para alguém do seu tamanho e vez ou outra podia sentir seu olhar sob mim, mas não me atrevi a corresponder em momento algum. Estávamos sozinhos no quarto, e minha ansiedade só crescia.

– Seus pais são fãs de Shakespeare? – indagou, se mexendo na poltrona.

– Não de Shakespeare, mas da história. Eles se identificam com ela, por isso decidiram me dar esse nome. – expliquei, como sempre fazia. Meu nome sempre foi o que mais chamou a atenção de outras pessoas.

Eu não achava que combinava comigo, de fato. Mas também não o odiara, era simples, clássico e bonito. Não queria ser como a Juliet da história, na verdade, estava certa que nunca seria. Apenas queria ser eu mesma.

– É um belo nome. – assentiu com a cabeça.

– Não tão bonito quanto o seu. – a afirmação escapou de meus lábios de forma involuntária. Quando me dei conta, corei.

– O que é um nome? Aquilo que chamamos de rosa terá o mesmo aroma doce com qualquer outro nome. – citou, sorrindo sem mostrar os dentes.

– É fã?

– Do livro. Um clássico, certamente. Confesso que estava curioso para lhe perguntar isso desde que te conheci.

– Poderia ter sanado sua dúvida antes, Harry. – deitei na cama, tentando não mexer muito o braço por conta dos acessos em minha veia.

– Acho que começamos errado, Juliet. – virei para o encarar, curiosa com o resto da sentença, que não veio.

– Eu também acho. Na verdade, se estivesse em seu lugar, eu também me odiaria. – ele pareceu não gostar muito, franzindo o cenho.

– Eu não te odeio. Eu não tenho motivos para lhe odiar.

– Eu sei que sim, não precisa esconder. Eu lhe atrapalhei de tantas formas que me sinto envergonhada... mas precisamos lidar com isso, Harry. Mal se passou um mês, temos onze pela frente. – suspirei.

– Juliet, eu sou o único que lhe devo desculpas. Não seja tão cuidadosa comigo, não estou acostumado. – riu sem humor – Vamos começar novamente, tudo bem?

– Você está disposto, Harry? – o encarei – Eu não sei lidar com suas repentinas mudanças de humor.

– Harry, Harry Styles. – estendeu a mão, ignorando tudo que havia dito. – É um prazer.

– Juliet. Juliet Beaufay. – receosa, segurei sua mão, sentindo-a quente e macia. Diferente do que havia pensado, ele sorriu para mim. – Serei liberada apenas de manhã, você não quer voltar para casa?

– Não vou lhe deixar sozinha aqui, acho que Nathan me mataria.

– Mas ele nem sabe que estamos aqui.

– Ele sabe... e o resto do mundo. Viramos notícia, senhorita Beaufay. – puxou o celular, desbloqueando-o.

– Desculpe?

– É, digamos que não pensei muito quando te vi desmaiada no banco de trás do meu carro. – coçou a cabeça, um pouco nervoso – Temos algumas fotos rodando por aí, aposto que Ludevik e Wayne estão rodopiando de felicidade.

– Pode me passar o celular? – pedi.

Ele pegou minha bolsa e me entregou, rapidamente peguei o celular e abri no primeiro portal de fofocas, onde mil especulações ocorriam: estava grávida? Tinha sido agredida por Harry? Namoro falso? Oh, nada bom. Suspirei pesadamente e abaixei mais um pouco, vendo as fotos publicadas.

Harry estava de costas, segurando-me em seu colo, entrava no hospital. Me sentia grata, muito grata. Abri o twitter e preferi não abrir as notificações, meus dedos digitaram com tanta dificuldade que mal me reconheci, mas era necessário.

@juliethejuliet: estou bem, galera! Foi apenas um mal estar, hoje mesmo estou liberadíssima! Triste e sem café por um tempo D:

Bloqueei o celular e me senti mole: os remédios realmente começaram a fazer efeito, meus olhos pesavam e joguei o aparelho na bolsa.

– Harry, vá para casa, essa poltrona deve ser muito desconfortável. – supliquei, colocando a bolsa preta na mesa ao lado da cama.

– Não vou lhe deixar aqui sozinha. Durma um pouco, vai te fazer bem. – pegou um controle e diminuiu a intensidade da luz. Pude ver que encostou a cabeça no estofado e se acomodou, entrelaçando suas mãos no colo e fechando os olhos.

– Você é realmente teimoso. – sussurrei, deitando na cama e puxando o cobertor.

– Você é mais legal do que imaginava. – confessou.

– Realmente não imaginava ouvir isso de você. – respondi, já de olhos fechados.

– Eu sou uma bagunça, Juliet.

Ele não precisava saber que eu também era, não agora. Eu apenas precisava o entender mais, precisava lhe escutar e parar de alimentar minhas paranoias. A respiração de Harry se tornou regular e percebi que já dormia, parecia exausto.

Talvez amanhã ele me tratasse totalmente diferente, e poderia tanto ser bom quanto ruim: Harry era imprevisível. Preferi não pensar mais nisso, mas involuntariamente meus pensamentos se voltavam a ele, me atormentando.

Não sei exatamente quando, mas me rendi, o sono se tornou mais presente e acabei embarcando nele, sem sonhos. E exatamente por isso sabia que ele havia segurado minha mão e verbalizado palavras com tanta dor e arrependimento que me deixaram confusas.

– Me desculpe, Juliet.

Juliet [H.S/PT.BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora