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– Lily –


Joguei a última caixa de papelão na pilha de lixo.

Suspirei aliviada. Mais um dia arrumando aquela mudança interminável e eu provavelmente surtaria.

É claro que aquele não seria o único motivo do meu surto. Era o pacote de mãe morta, crise de identidade e a mudança. Minha psicóloga foi quem sugeriu a mudança para o meu pai. Ela disse que eu precisava de uma mudança de ambiente. Ela estava apenas parcialmente certa, ela deveria saber que eu não tinha força de vontade para redecorar uma casa.

Outro motivo para o meu surto era que Petúnia estava ouvindo o último álbum daquele cantor insuportável que ela era apaixonada. Eu ficava impressionada em como ele conseguia pegar letras e melodias tão delicadas e colocar uma batida tão ruim, transformando-as em canções completamente pobres, musicalmente falando.

De qualquer forma, não era como se eu fosse esperar um ótimo gosto musical de uma adolescente de treze anos.

Meu celular apitou mais uma vez.

Provavelmente era mais um email da universidade, sobre o prazo final do meu trancamento de curso. Eu precisava decidir logo se voltaria a estudar ou se trancaria por mais um ano e ficaria deitada na minha cama encarando o teto.

Honestamente, eu estava mais inclinada a trancar novamente, mas eu sabia como meu pai ficaria chateado com isso.

Não que ele me culpasse, mas ele estava fazendo de tudo para que eu ficasse bem novamente. Consultas com a psicóloga, mudança de casa... Faltava pouco para que o homem me presenteasse com um pônei ou um urso panda.

Ouvi uma batida na minha porta.

Me virei e vi meu pai.

Ele parecia estar orgulhoso.

– Uau, ficou incrível, filha – ele disse, admirando a decoração do quarto.

Sorri.

– Valeu, pai – murmurei.

– Petúnia ainda não arrumou nem metade das coisas dela – ele grunhiu.

Dei uma risadinha.

– Você esperava algo diferente de Petúnia?

Ele riu, ao mesmo tempo em que cruzava os braços.

– Não seja tão dura com Túnia – ele disse. – Ela perdeu a mãe também.

E foi o fim do clima descontraído.

– Eu sei – murmurei.

Ele assentiu.

– Eu vim aqui porque eu tenho um favor para te pedir... – ele começou.

Mordi o lábio.

– Eu sei que você acabou de arrumar todo o quarto agora, e você me ajudou muito com a sala e a cozinha...

Franzi o nariz.

Eu sabia o que estava por vir.

– Eu pensei que talvez você poderia arrumar o galpão também.

Arregalei o olhos, pronta para surtar.

– Me deixe explicar – ele disse, rapidamente. – O galpão era do filho dos antigo donos da casa. Eles se mudaram daqui pelo mesmo motivo que nós nos mudamos, na verdade. Uma tragédia aconteceu com ele.

Cruzei os braços.

– Mas o que eu queria te dizer é que o filho deles tinha uma banda. Então, o galpão tem isolamento acústico e acho que eles deixaram alguns instrumentos também – ele disse. – Você pode ficar com tudo, se quiser.

The Edge of GreatOnde histórias criam vida. Descubra agora