(dois)

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– Sirius –


– Ela podia, pelo menos, ter deixado a luz acesa – murmurei, depois do que pareceu uma eternidade em silêncio.

Afinal, a nossa noção de tempo estava um pouco avariada. Eu conseguia lembrar com clareza dos nossos últimos momentos em vida. O caminhão vindo na nossa direção, o barulho do parabrisa estilhaçando. Como era possível que haviam se passado sete anos desde o nosso acidente?

– Não é como se a gente precisasse da luz – resmungou James.

Era verdade. Nossa visão tinha ficado um pouco melhor, no escuro. Não era uma visão noturna propriamente dita, mas eu conseguia vê-los bem. Os traços perfeitinhos de Remus e a cara de bunda que James estava fazendo.

– É sempre bom ver que mesmo na morte você manteve seu humor igualzinho, Potter – rebati.

– Parem vocês dois – disse Remus, com a voz tremendo novamente. – Isso é sério! Nós estamos mortos! O que vamos fazer?

Cruzei os braços.

– Não acho que a gente possa fazer alguma coisa... – murmurei.

James assentiu.

– A gente pode invadir casas de famosos – ele sugeriu. – Talvez a gente consiga brincar com a gata da Taylor Swift.

O encarei.

– Essa foi sua primeira ideia? – perguntei. – Ninguém consegue nos ver e você quer brincar com a gata da Taylor Swift?

James deu de ombros.

– Só foi um exemplo – ele disse. – Podemos visitar algum famoso que tenha cachorros também.

Remus deu risada, mas respirou.

– A gente precisa conversar, sério – ele disse.

Senti um frio na barriga. Aquela não era minha frase favorita em nenhum contexto.

– Até agora, nós sabemos que estamos mortos há sete anos – ele continuou. – James, seus pais se mudaram de casa e deixaram nossos instrumentos aqui.

Assenti.

– É tudo o que sabemos – murmurei.

– O que será que meus pais fizeram? E os seus, Six? – ele continuou divagando. – E Peter?

– Peter provavelmente virou um contador ou algo do tipo – grunhi. – Não é como se ele fosse conseguir ser alguém na música sozinho.

James engoliu a risada, enquanto Remus revirava os olhos.

– Você é malvado, Black – ele murmurou.

Sorri para ele.

– Ele está vivo e eu estou morto, Lupin – rebati. – Não é como se eu ainda tivesse alguma vantagem.

James deu de ombros.

– Não sei, acho que eu preferiria morrer a ser contador.

Gargalhei.

Remus cruzou os braços.

– Certo, Lupin – murmurei. – O que você quer fazer?

Ele suspirou.

– Eu não sei – ele deu de ombros –, mas acho que a nova dona do galpão não ficou muito feliz em conhecer a gente.

Mordi o lábio, tentando segurar a piada.

The Edge of GreatOnde histórias criam vida. Descubra agora