Um pedido de casamento atrasado

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Fito de média distância, os lábios macios recebendo a borda da taça de vinho com destreza. Jungkook engole uma porção pequena do líquido que mancha, adicionando uma cintilância vermelha impecável que apenas realça o volume dos convidativos lábios do homem. Mesmo não fazendo questão de reparar em pequenos detalhes lentos como aquele, o silêncio obrigou-me. Meu coração está fechado demais para se deslumbrar, porém os meus olhos ainda gostam de se entregar a beleza de Jeon.

- Eu sinto muito pelo que houve com o Jimin. Sei como é difícil. - por segundos, Jungkook baixa a crista do orgulho entregando um olhar mais sincero, ao passo que também é distante por se referir as lembranças de Margot. Pelo visto, ele ainda a ama.

- É... Muito difícil. Mas, eu fico mais tranquila de saber que o Jimin está vivo e acho que, está sendo atendido por bons médicos. - falo vaga, com um peso no peito, porém aliviada e otimista até certo ponto.

- Como assim "Acha"? - indaga, não entendendo a minha incerteza.

- O senhor Park não me deixa visitar o Jimin enquanto ele está internado. - aperto os lábios para segurar a tristeza que brota, derrubando toda a confiança e autocontrole que demorei para construir.

- Ele é tão ridículo... - Jungkook levanta um sorriso de desprezo. - Me diz em que hospital ele está? - estranhamente, o homem pega o celular do bolso, conferindo algo ou esperando a minha resposta. Digo então a localização do mesmo.

- Mas, pra quê quer saber? - suspeito de seu repentino interesse.

- O bom de ser advogado é ter muitos contatos. - sorri e guarda o iPhone caro no lugar de onde o tirou.

- Jura que faria isso? - mesmo relutando, transpareço uma grande animação com a possibilidade. Mas, que eu trato de conter com um pigarro.

- Não custa nada e também não leve isso como uma tentativa de marcar pontos com você. Eu entendo esse momento, de certa forma já estive no seu lugar mais de uma vez. - mais sensível, Jungkook deixa a pose de advogado inabalável de lado por instantes, demonstrando uma preocupação comigo.

Acho que ele sempre quis agir assim desde que nos reencontramos, mas eu estava magoada demais para dar alguma abertura e acabei abrindo um leque de provocações e apontamentos infantis. Faz tanto tempo que perdemos a habilidade de nos comunicar com clareza, maturidade.

- Obrigada por isso. - sorrio minimamente. - Mas, não pense que vamos nos tornar amigos por causa disso. - alerto. Todavia, é notável que o único motivo para eu colocar essa cláusula é porque eu continuo sentindo uma puta e enorme atração por ele. O ressentimento é uma das minhas máscaras prediletas pra afastá-lo e considerá-lo um suspeito, outra. No fundo, eu sei por mais dúvidas que tenha em relação à esses dois fatores.

- Eu também não estou mendigando afeto, Abigail. - escapa-lhe um olhar confiante, orgulhoso.

- Que seja... Bem, sobre a filial, eu preciso que leve alguns papéis para o cartório e cuide dos trâmites legais e essa parte que você conhece. - explico de forma extremamente preguiçosa e desinteressada, logo pegando um copo contendo whisky para aliviar a tensão que sinto.

- Eu vou cuidar de tudo e eu espero que nós dois possamos cuidar da ONG sem tantas brigas. - busca um sinal positivo em mim, mas eu mantenho a postura fechada.

- Acho que já somos adultos e sabemos separar as coisas.- Jungkook usa o encaixe do dedo mindinho e do auxiliar para balançar o vinho circularmente, ao passo que não tira seus olhos profundos dos meus.

Após uma leva descarregada no ar, aproveito para cortar a minha presença do jantar que é servido para ir até o banheiro. Uma das moças que trabalha ali, me direciona para o rumo que devo pegar e é de grande ajuda já que a cobertura é espaçosa. Aproveito para retocar o batom e pensar um pouco.

Sem Medo de Amar - Jeon Jungkook  [Segundo livro]Onde histórias criam vida. Descubra agora