Kim Yugyeom

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A briga pela manhã havia sido um tanto quanto assustadora, já que eu não esperava que Chris fosse ficar tão perto de perder o controle. Minho e eu estamos preocupados, sabemos que há muitas outras bombas para serem explodidas e nem todas elas vamos conseguir minimizar os estragos. Eu havia dito para Minho priorizar os seus ômegas, sabendo que os feromônios exaltados do casal o deixaram muito mais abalado do que ele estava demonstrando, assim como ele exalava preocupação com os seus meninos. Claro que eu estava preocupado com os mais novos, principalmente com Jeongin, contudo, tinha que ficar e tentar atrasar a segunda explosão.

Eu não tinha dúvidas de que Felix é a alma gêmea do lobo de Chris, isso é evidenciado a cada explosão de brutalidade vindo do alfa quando alguém fica mais próximo do que o aceitável pelo lobo. Porém me intrigava o fato de o Bang estar tão perdido em si mesmo, em seus motivos para se manter longe, que não consegue frear o próprio lobo como havia feito outras vezes.

Changbin puxou o ar e o soltou lentamente, buscando acalmar a si mesmo, após Minho nos deixar dizendo que conversaria com o loiro mais tarde. O australiano estava sentado no chão, com o rosto escondido entre os braços que repousavam sobre os joelhos, se escondendo do que poderia vir a lhe atingir. Fiz um sinal para Changbin, sabendo que precisava afastá-lo para que o loiro se sentisse melhor para conversar sobre Felix. O moreno não discutiu, mordeu o lábio inferior e fechou as mãos em punho antes de se afastar, porque sim, Changbin sabia que Chris se recusava a falar sobre Felix em sua presença. Eu sabia bem como era isso, essa frustração de ser mantido no escuro, havia passado por esse tipo de situação quando Binnie surgiu na vida dele e Chris tinha medo de me machucar falando sobre o alfa mais baixo. Eu também sei que isso só piora a situação que já é delicada. Sentei-me ao lado do loiro e fiz um carinho em seus cachos.

— Por que continua cometendo os mesmo erros? — Questionei, com a voz baixa e calma, não querendo assustá-lo ou repreendê-lo mais do que ele já estava fazendo consigo mesmo. Ele levantou o rosto, olhando para mim, e eu pude notar as lágrimas escorrendo pelas bochechas. — Não falar com o Changbin vai só machucar vocês dois, como nos machucou, como machucou aquele garoto há anos atrás.

— Eu não sei, eu só não consigo começar o assunto e pensar que ele pode me odiar por isso. — A voz do alfa evidenciou o quão quebrado ele estava.

— Você precisa falar, com os dois, sobre o que sente. Fugir disso não vai resolver nada e só vai te deixar mais fraco para segurar o seu lobo. — O loiro mordeu o próprio lábio inferior com força, contendo um soluço que vinha por conta do choro. — Channie...

— Ele me odeia agora. — Os lábios se moldaram em um sorriso triste e eu entendi que ele não estava falando do namorado. — Assim como o garotinho.

— Ele não te odeia, você não precisa se martirizar por isso. — Suspirei, brincando com os fios cacheados do mais novo. — Felix tem o coração puro demais para odiar alguém. Ele perdoou o Seungmin, pode te perdoar por ser um idiota também.

Ele deu uma risada baixa, sem vida e eu sentia que estavam pisando em meu coração.

— Meus tios não o criaram para guardar rancor, Channie, e é bem possível que ele nem odeie os caras que o jogaram na piscina. — Notei a expressão do Bang mudar e entendi, ele se incomodava com algo ali. E esse algo era o fato de Felix ser meu primo. Segurei no queixo dele quando o notei virar o rosto para fugir do assunto, o forçando a me encarar e, principalmente, encarar os fatos. — Ele ser meu primo, em hipótese alguma, significa que você não pode se declarar para ele. Eu não vou ficar chateado, não vou tomar uma decisão por vocês e principalmente eu não vou opinar em nada sem ouvir os dois lados da história, como eu sempre fiz.

— Nada mudaria entre nós dois? — Sorri, negando com a cabeça ao notar o medo no olhar dele.

— Não mudou desde que nos conhecemos, Channie, a única diferença é que quando namorávamos eu te dava uns beijos e te arrastava pra minha cama. — Provoquei, vendo as bochechas dele se tornarem rubras e ele tentar esconder o rosto novamente. — Ainda seríamos nós três contra o mundo, protegendo nossos meninos. Minho e eu não te deixaríamos sozinho com essas crianças e principalmente, Minho não deixaria o herói dele desamparado.

— Seungmin ainda ta na sua casa? — Mudou de assunto e eu ri nasalmente. Tão a cara dele ficar envergonhado com coisas de teor mais sexual, ainda que na brincadeira, e com elogios mais sentimentais, como a maneira com Minho se sente com ele.

— Sim e eu não acho que ele vá voltar para casa depois de ter se acertado com o Felix. A mãe dele meio que não facilita também, um grita com o outro toda vez que ela liga. — Contei, sabendo que Seungmin é como um filho para nós dois, assim como Jeongin. — Você tem que se desculpar com ele e com o Jeongin, pelo menos umas duas vezes.

— Certo, vou me desculpar com o Minnie por quase ter dado um soco na cara dele quando vi ele com o Lix na piscina e vou me desculpar com o Innie pelo o que aconteceu hoje. — Revirei os olhos e dei um tapa leve na cabeça dele, vendo-o resmungar e passar a mão pelo local atingido. — O que? Eu vou pedir desculpas!

— Peça desculpas pelo seu surto de mãe maluca quando achou que Jeongin estava namorando e principalmente, tem que pedir desculpas aos dois pelo surto de mãe traída quando descobriu que Jeongin nunca namorou e só estava tentando fazer Seungmin ir falar comigo sobre o Felix. — Bronqueei notando Chris sorrir meio sem graça e secar as lágrimas que ainda insistiam em cair, mesmo com a mudança de assunto. Nunca foi segredo para mim e para Minho o quanto o garoto australiano se cobra por tudo desde que foi obrigado a sair da Austrália. Chan, apesar de andar meio brigão, nunca gostou de conflitos e odeia decepcionar as pessoas, principalmente os pais e os amigos, aqueles que ele ama. Ter de quebrar uma promessa ainda o machuca muito e ele tenta compensar isso com Minho, Jisung, Jeongin e agora, Felix, só que ele fica perdido com tanta coisa em sua própria cabeça que age por instinto e, bem, Jisung e Felix tem uma bagagem e uma tendência a desgostar de atitudes por instinto. No fim, o loiro assentiu, prometendo que iria pedir desculpas à eles por sua atitude de mãe superprotetora.

Após um bom tempo em silêncio, com o australiano pensativo e de olhos marejados, o puxei para o meu colo, vendo-o deitar a cabeça em minha coxa e sorrir com o carinho que passei a fazer em seus cachinhos. Sabia que tinha muito mais coisas naquela cabecinha teimosa que o impediam de ir até o australiano mais novo e dizer o que sente e provavelmente é o mesmo conjunto de motivos que o impedem de dizer a Changbin como se sente.

— Precisa falar com eles sobre seus sentimentos, Channie. — Murmurei e o loiro se encolheu um pouco. O aperto em meu peito era sufocante, minha visão ficou embaçada e minha voz embargou. — Não quero te ver sofrendo de novo. Fale com o Binnie pelo menos.

Senti as lágrimas escorrerem por minhas bochechas e Chris se assustou, rapidamente sentando-se em minhas coxas e usando os polegares para secar as gotas salgadas e grossas, ainda que ele não estivesse muito diferente de mim.

— Por favor, Channie! — Implorei, abraçando a cintura dele e sentindo-o encostar nossas testas. Eu não sei se eu conseguiria aguentar ver ele naquela situação de novo, quebrado e perdido, e sabendo que Binnie ficaria tão ruim quanto. E Minho sofreria junto com o loiro, como foi da outra vez. — Por favor! Eu não suportaria te ver quebrado de novo!

— Tudo bem, coquerinho, eu prometo que vou falar com ele. — A voz do alfa puro soou suave, ainda que nós dois estivéssemos envolvidos por toda aquela aura triste, Chris tentava se manter forte para me acalmar, como sempre fizemos. Quando um precisava chorar, o outro segurava as pontas, para que assim, os dois se aliviassem um pouco. Contudo, nunca o fazíamos perto dos mais novos, pois temos de ser o refúgio deles.

Seríamos sempre os pilares dos meninos, independente dos nossos relacionamentos amorosos, independente da maneira como nós amamos um ao outro e acima disso, seríamos sempre o pilar um do outro.

2402: A Era AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora