Trinta

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Em algum momento da viagem eu acabei cochilando, sentido a mão do mais velho sempre voltar a minha coxa após trocar a marcha do veículo. Acordei quando o alfa parou o carro na frente da minha casa e deixou beijinhos em minha bochecha para chamar minha atenção. Para ser sincero, tive medo de olhar pela janela ao imaginar que meus pais estariam na porta, talvez junto aos meninos.

Respirei fundo, sorrindo docemente para ele e fechei os olhos novamente. Contei, mentalmente, até dez e meu sorriso doce se tornou falso, amargo, abri meus olhos.

— Estou pronto. — Disse com uma confiança que nem sabia que tinha, vendo-o negar e suspirar em resposta. Abri a porta do carro e saí do automóvel, notando um dos meus pais abrir a porta, com os olhos em lágrimas. Myung-Dae sempre foi mais sensível, então não me surpreendi ao vê-lo naquelas condições, assim como não foi surpresa notar que não havia nem sinal de Bae Hyeon. Provavelmente está no hospital, cumprindo um turno.

O híbrido mais velho não disse nada, apenas me puxou para um abraço forte, deixando as gotas salgadas molharem minha roupa. Eu não retribui, apenas esperei pelo momento que o mais alto me soltaria.

— Suas orelhinhas estão quase imperceptíveis com esse tom no seu cabelo. — Ele finalmente se pronunciou e eu apenas mantive o olhar e o sorriso amargo. — Não vai te trazer problemas deixar ela tão exposta assim na rua?

Revirei os olhos e me afastei de seus braços, impedindo que sua mão chegasse ao meu cabelo.

— Não tenho vergonha de ser o que sou. O mundo que lute. — Respondi em um tom levemente arrogante. — Não vai ser um bando de ridículos, igual a Yoona, que vai me fazer ficar trancado e me escondendo do mundo ou precisar de um dono para poder andar nas ruas sem medo.

— Oh! Você conheceu ela... — O mais velho murchou e eu pude ouvir a porta do carro ser fechada, anunciando que Christopher havia saído do veículo, mas pela ausência do som de seus passos entendi que ele se mantinha encostado no automóvel.

— Não graças a vocês e infelizmente Chris me impediu de rasgar a cara dela todinha. — Disse, colocando as mãos dentro do bolso da bermuda. Eu estava até mesmo com o rabo livre, pouco me importando com as normas sociais.

— Filho... — Ele suspirou derrotado, se afastando um pouco mais. — Vamos conversar quando Bae chegar, okay?

Dei de ombros e me virei para Chris, mordendo meu lábio inferior e perguntando com o olhar se ele ficaria ali. Ele se aproximou, fazendo um carinho em minha bochecha com sua canhota e eu fechei os olhos em deleite.

— Eu preciso ir pra minha casa, me resolver com o meu pai e preciso ver os meninos. — O alfa sussurrou e eu grunhi em descontentamento. — Qualquer coisa me liga e eu volto para você, tudo bem?

Soltei o ar lentamente, abrindo os olhos quase choroso, assentindo com um movimento leve. Antes que ele pudesse se afastar, juntei nossos lábios em um selinho delicado, possivelmente o último já que ele vai voltar para Changbin. Pelo menos, essa é a opção mais lógica para mim. Ao contrário do que eu esperava, o loiro não brigou comigo pela investida, nem me fez pensar novamente em toda a questão dos sentimentos que envolvem a situação. O Bang sorriu triste, depositou um beijo em minha testa e voltou para o carro.

Eu tive que engolir o bolo que se formou em minha garganta com a crescente vontade de me enfiar dentro do veículo e evitar tudo o que virá. Voltei a sorrir amargo ao ver o automóvel se afastando, pegando minha pequena mala — com as coisas que compramos com o dinheiro do Sr. Bang — que o alfa havia deixado ali e entrei na casa, passando direto pelo meu pai, sem trocar olhares nem nada.

2402: A Era AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora