Capítulo 6: Encontrando você - Parte 1

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Fluke estava olhando para a mensagem de Sammy há 33 minutos. Pelo menos, era isso que o aplicativo de mensagens indicava. Quanto a ele mesmo, já havia perdido a noção do tempo. A dúvida que o consumia o impedia de pensar em detalhes triviais como o fato de que ele ainda não havia almoçado naquele dia e seu estômago reclamava de fome.

Queria poder dizer que as borboletas que sentia na barriga eram suficientes para espantar o seu apetite, mas a realidade estava distante disso. Parece que elas faziam sua fome aumentar junto da ansiedade crescente que sentia.

Se fosse pensar claramente, não tinha o que temer. Milhares de pessoas mandam mensagens para outras todos os dias e as convidam para um café. Não é nenhuma Ciência Exata ou algo do gênero, apenas casualidade. Mas todas as vezes em que Fluke começava a digitar a mensagem, apagava por se sentir bobo ou achar que não estava se expressando direito. Era apenas um café! Qual a dificuldade, afinal?!

Ah, certo! Tinha este pequeno detalhe trivial de que Ohm pudesse considerá-lo um stalker maluco por ter conseguido o seus dados pessoais ao trocar favores com P'Kao, o professor assistente. Na verdade, Fluke quase se assustou em como havia sido fácil convencer o sênior. Parece que ele gosta mesmo daquele garoto, o tal Earth. "Acho que tem gosto para tudo nessa vida!", ele pensou quando foi interrompido.

Alguém bateu à sua porta e ele olhou confuso na direção do barulho sem entender quem poderia procurá-lo àquela hora. Não que fosse estranho um estudante ter amigos que o chamassem para sair no sábado à tarde, mas a questão é que ele sabia muito bem que seus poucos amigos estavam ocupados naquele momento e ele não era do tipo que chamavam para sair, tendo sempre preferido ficar em casa e ver um filme, ler um livro ou até estudar.

Mesmo assim, decidiu atender a porta, já que as batidas se tornaram insistentes. "Essa pessoa não conhece o interfone?", reclamou mentalmente enquanto abria a porta e se deparava com um homem pouca coisa mais alto que ele e cabelo no coconut style. O Phi à sua frente parecia muito simpático, tendo aberto um sorriso de dentinhos miúdos cobertos pelo aparelho ortodôntico, com isso, aumentando o volume de suas bochechas dando a ele a aparência similar ao Baymax de Big Hero 6, devido à sua fofura.

Mas Fluke não teve muito tempo para prosseguir na sua descrição mental, já que o homem à sua frente executou o comportamento mais aleatório do universo: abaixando-se um pouco e colocando os braços à frente do corpo, ele de repente gritou: 

─ DO IT! JUST DO IT!

Logo assim que terminou a sua peculiar apresentação, caiu na risada e pediu desculpas, explicando que era um desafio que fora obrigado a cumprir por ter perdido no jogo contra seus amigos que espiavam e filmavam a cena toda 2 dormitórios à esquerda.

Fluke ficou sem graça, mas não havia nada que pudesse fazer naquela situação. Mas algo que havia chamado a sua atenção foi que o sênior, antes de ir embora, disse algo intrigante. "Então, seja lá o que estiver pensando, apenas faça! Desculpa, mas o Nong parece estar preocupado com algo já que tem essa ruga imensa entre os olhos!", o vizinho comentou e se afastou na direção do próprio quarto, entrando lá e sendo recebido por gritos e risadas dos amigos que o esperavam. 

Voltando ele próprio para dentro se seu dormitório, Fluke aceitou aquela cena estranha como uma forma do universo dizer "Mande a mensagem logo!" e foi isso que ele fez. 

"Oi, eu sou o P'Fluke."

Depois de 2 segundos decidiu que deveria explicar um pouco mais sobre quem era, para o caso de Ohm não saber de quem se tratava.

"Nós nos vimos na Biblioteca. E depois no banheiro da festa do P'Kao. Também conversamos um pouco em frente à sua sala de aula!"

Ok, "conversar" era forçar um pouco, mas ele se sentia pressionado o suficiente naquele momento e disse tudo que tinha em mente antes de esperar Ohm responder qualquer coisa.

"Eu sou veterano da Faculdade de História da Arte. Amigo da Sammy! Cabelo castanho, 1,75 m de altura!"

Quando pensava no que mais escrever que pudesse ajudar Ohm a reconhecê-lo, notou que ele começava a digitar uma resposta e decidiu aguardar.

"1,75 m, Phi?" Ohm respondeu seguido de um adesivo de um gatinho rindo com o texto "55555" em fonte colorida ao seu redor.

Fluke achou graça de que dentre todos os dados da avalanche de informações que ele havia passado nas mensagens anteriores, justamente a pequena mentira sobre a sua altura foi o que chamou a atenção de Ohm. Porém, decidiu deixar isso de lado para que pudesse se concentrar no próximo passo.

Não teve tempo de elaborar uma frase decente na qual sugerisse que eles devessem tomar um café, mas Ohm decidiu mandar outra mensagem antes que ele pudesse se decidir sobre o que escrever.

"Desculpa, Phi! Por favor, não me leve a mal! Sei quem é, sim! Apesar de não saber como você conseguiu meu contato? Está tudo bem? Tem algo em que eu possa ajudar?"

"Que fofo!", Fluke pensou e digitou o seguinte: "Preciso fazer uma pesquisa esta noite na Biblioteca e estava pensando se o Nong tem tempo para tomar um café?".

"Tomar café à noite? Desse jeito vamos virar a noite acordados!", Ohm comentou e enviou um adesivo de um coelho de olhos arregalados e correndo com um relógio na mão.

"Olha, nem era a minha intenção passar a noite acordado contigo, mas já que você insiste de forma tão natural…", Fluke queria ser capaz de digitar, mas mal conseguiu controlar os dedos para fazer mais do que concordar e marcar o local e horário em que deveriam se encontrar.

A verdade é que Fluke não tinha nada para pesquisar na Biblioteca, mas já que estava lá, decidiu pegar um livro aleatório para ler enquanto esperava o horário de encontrar Ohm no Café perto da Universidade. Acabou sendo absorvido pela leitura e quando deu por si, já estava atrasado e precisou sair correndo. Sem olhar direito por onde ia, acabou esbarrando em alguém depois de atravessar a rua e já ia pedindo desculpas quando viu o rosto da sua vítima: era Ohm.

─ Dessa vez, invertemos os papéis! A propósito, oi! ─ Fluke disse com um sorriso largo que quase fechava seus olhos.

─ Parece que sim! Oi, Phi! ─ Ohm respondeu sem olhar diretamente para ele, o que achou estranho, mas decidiu não comentar.

Entraram no Café e foram fazer o pedido no balcão, quando Fluke notou que a atendente estava quase babando ao ouvir Ohm fazendo o pedido. "É, irmã, eu entendo sua situação!", pensou enquanto o Nong repetia o pedido para a funcionária distraída.

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