SEIS

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The path that I'm walkin', I must go alone
I must take the baby steps 'til I'm full grown, full grown
Fairy tales don't always have a happy ending, do they?
And I foresee the dark ahead if I stay

(Big girls don't cry - Fergie)


ANY GABRIELLY 

- Oi - é a primeira coisa que ouço quando consigo finalmente abrir meus olhos. Pisco preguiçosamente e os aperto para tentar focar em algo. Viro meu rosto na direção da voz que falou comigo e encontro um par de olhos verdes brilhantes e, sobretudo, assustados - vou chamar o médico  - ele sussurra e aperta minha mão antes de sair de perto de mim quase correndo.

Antes que eu pudesse raciocinar e entender tudo que tinha acontecido, Ethan já está de volta  com um enfermeiro ao seu alcance.

- Oi, bonitinha, como vocês estão? - diz carinhoso e com um sorriso gentil. Olho confusa para Ethan que sorri nervoso - papai já te contou a novidade?
- Que novidade? - enrugo o nariz e olho novamente para Ethan. O que diabos estava acontecendo? - papai?
- Oh - arregala os olhos surpresos - você está grávida,  meu bem. Achei que seu namorado já tinha te contado quando foi me buscar.

Agora é minha vez de arregalar os olhos. Sinto meu peito apertar pela provável falta de ar, e meus olhos encherem de água.  O que estava acontecendo? Por que isso veio acontecer logo agora? O que eu tinha feito para merecer isso? Eu precisaria voltar com Felipe? Merda, o Felipe... Abraço minha barriga de modo protetor e sinto uma mão afagar meu ombro.

- Vocês precisam de um tempo? - o enfermeiro de traços asiático pergunta ao perceber a tensão no quarto. Afirmo com a cabeça,  tentando não deixar que o choro saia. Ele olha para o Ethan, provavelmente preocupado com minha já vermelhidão,  mas meu chefe apenas assente, ratificando o meu pedido.
- Você está bem? - o loiro pergunta um tanto receoso. 

Eu não respondo nada.

O que tinha pra responder? Que eu estou feliz por saber que estou grávida e sozinha? Eu não tenho nem uma casa própria, moro com uma amiga, não tenho família, tenho um ex maluco que é pai do meu bebê e o meu emprego extremamente corrido... o que eu deveria fazer? Como eu deveria me portar? Eu deveria ficar feliz, saber de quantas semanas estou e procurar descobrir tudo que posso ou não fazer a partir de agora? Eu deveria voltar com Felipe? Fingir que nada aconteceu e seguir com tudo para uma melhor vida do meu bebê? Afinal eu vivi na pele e sabia o que era crescer sem uma figura paterna. Eu deveria permitir que esse ser humano que se formava em meu ventre me tivesse como mãe? Eu seria capaz disso?

Minha mente metralhava diversas formas de como eu deveria reagir, mas contrariando todas elas, eu apenas comecei a chorar. Chorei por mim e pela vida que eu estava perdendo a partir de agora. Chorei pela vida que estava ganhando, por eu ser fraca e não ter coragem de abortar. Chorei pela possibilidade de eu não sentir o afeto que deveria, por eu não conseguir ficar eufórica,  por ter a certeza que seria uma péssima  mãe.

Encosto minha cabeça no travesseiro e tento esconder meu rosto embaixo do lençol que me cobria quando senti que os soluços começariam. Entretanto, contrariando minhas expectativas,  Ethan me puxou pela mão e me aninhou em seus braços,  apertando-me forte e pedindo para eu me acalmar porque eu não estava sozinha. Eu sabia que nada era tão simples quanto ele parecia querer passar em seus acalentos, mas  me embalei na ilusão momentânea e me deixei acreditar  que tudo realmente ficaria bem.

*

- Como assim você tá pensando na possibilidade de voltar com o pau no cu do Felipe, Any Gabrielly? - Sabina pergunta com sua voz um tom acima do considerado normal, indicando o tanto que estava brava com aquela conversa.

DAYLIGHT • Any GabriellyOnde histórias criam vida. Descubra agora