Capítulo dois: Magnólias (Lan Xichen)

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Às cinco da manhã, Lan Xichen estava em pé como era costumeiro de sua seita.

A brisa gélida adentrava o cômodo onde se encontrava, preparando-se para meditar um pouco. Muito havia acontecido em um curto período de tempo. Sentia-se perdido na escuridão.

Havia perdido seus melhores – e únicos – amigos. Seu irmão havia ido embora com mestre Wei e seu tio estava cuidando da seita em seu lugar. Sentia-se um tremendo covarde.

No entanto, não havia aprendido a lidar muito bem com a dor, ainda que com tantos anos de convivência com ela.

A perda era algo que assustava o Lan de forma absurda, ainda que não deixasse transparecer e pudesse encobrir facilmente com um sorriso.

Abriu as portas interiores de madeira cuidadosamente, observando o pequeno jardim de magnólias que sua mãe costumava cultivar naquele local. Lembrou-se então, das palavras que lhe foram ditas quando era apenas um pequeno rapaz.

"A flor magnólia representa perseverança, doçura e simpatia. Você, meu pequeno, tem uma natureza gentil. Lembre-se disso. Você e seu irmão são as magnólias mais belas de meu jardim, Lan Huan."

Um pequeno sorriso surgiu no canto do seus lábios ao lembrar da voz de sua querida matriarca, suspirando baixo ao rodear o olhar por aquele local que ela costumava ficar.

Desejava que ela pudesse saber o que era o amor de seu pai.

Ao que aparentava, os Lan não tinham um bom processo amoroso, e felizmente Wangji fora uma excessão. Estava feliz por seu irmão finalmente ter encontrado a felicidade ao lado de quem amava.

No entanto, Xichen temia a solidão.

E no fundo, sabia que seu coração não iria pertencer a alguém novamente.

"Os Lan só amam uma vez", eles diziam.

E seu antigo amado jamais iria voltar. Era sua maior dor, e sua maior certeza.

Nas flores e natureza ao redor, ele encontrava paz.

No aroma delicado do incenso a queimar e nos pergaminhos que havia lido e relido.

Seu coração encontraria paz, apesar de tudo isso? Poderia ser feliz e superar a solidão?

Seus pensamentos foram quebrados ao ouvir o bater da porta da frente. Provavelmente um mensageiro.

Era curioso, de fato, a presença dele no local, já que o Lan estava recluso...

Em silêncio por um longo tempo, pôde ouvir passos. O homem havia ido embora. Quando chegou ao suposto destino e reabriu as portas principais da casa, apanhou uma pequena carta no chão, voltando aos seus aposentos.

"Mas o que será isso?", Pensou.

Sua curiosidade aumentou ainda mais ao ver quem havia lhe enviado a mesma.

"Líder de YunmengJiang."

— Há tempos desde que não o vejo... O que o levou a me enviar algo? – Pensou alto enquanto retirava a folha do envelope, abrindo-a em sua mão.

Logo que começou a ler a carta, um sorriso singelo surgiu em sua face, continuando a leitura.

"Caro líder Lan,

Não pense que estou te mandando esta carta apenas para o incomodar ou coisa assim. Na verdade, nem há motivo específico.

Enquanto estava com Jin Ling, ele me perguntou sobre você, por causa daquele... Homem baixinho que ele chamava de tio, sabemos de quem estou falando.

Eu decidi falar sobre você e seu cargo na seita GusuLan, e acabei por me lembrar que você está recluso. Mal faço idéia se essa carta chegará em algum momento até suas mãos, mas caso chegue... Desejo-lhe melhoras, e sinto muito por todo o ocorrido.

Jin Ling pediu para que você se cuidasse e perguntou se poderia visitá-lo em algum momento. Eu, obviamente, o apreendi. Mas é sem importância! Ele deveria saber que não se deve visitar cultivadores em reclusão. De qualquer maneira, é isso. Cuide-se, Zewu-Jun.

Espero que possa aparecer na conferência de líderes quando se sentir melhor, aqueles tagarelas só falam de você.

Sem mais para o momento, Sandu ShengShou."

Um riso soprado lhe escapou após finalizar a carta, colocando-a com cuidado sobre a mesa.

Ficara surpreso inicialmente por ter recebido a carta. Sabia que o famoso Jiang Cheng era ocupado e esforçado. Havia visto com seus próprios olhos.

Pegando um tinteiro e um pincel, puxou uma folha nova, pensando no que iria escrever de volta, afinal, o homem fora atencioso consigo, não poderia deixar a primeira carta que recebia – tanto de outrem quanto em sua reclusão. – de lado.

— Vamos começar, então. – Falava sozinho quando se fazia necessário, geralmente, em momentos de confusão ou tranquilidade, pois queria que sua mãe ouvisse, onde quer que estivesse. – Caro líder Jiang...

Proferiu baixinho enquanto escrevia os caractéres rústicos em mandarim com movimentos delicados.

Esperava que Jiang Cheng pudesse receber a resposta quanto antes possível.

Dor, se flor. || XICHENGOnde histórias criam vida. Descubra agora