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O silêncio tomou conta do local, sendo quebrado apenas quando meu irmão volta a comer fazendo os talheres baterem contra a porcelana do prato. Seus olhos estão na comida, mas seus ouvidos estão atentos e seus pensamentos estão agitados, tenho medo só de pensar em mexer em toda a sua bagunça agora.

"— Essa mulher está louca se pensa que vai conseguir algo com sua bajulação.” — Ray não consegue controlar os seus berros por toda a nossa linha de contato, faço uma careta pelos seus gritos. Quem o observa, imagina que está alheio a tudo.

— Creio que não, senhora. Áurea ainda é só uma garota descobrindo os prazeres da imortalidade. — suspiros de alívio são ouvidos, e uma pequena risada foi camuflada por tosse, Zerek tenta esconder suas emoções, claramente falhando.

— Bem, mas em algum momento ela irá precisar dividir sua imortalidade com alguém… — Rayleigh deixa os talheres caírem no prato propositalmente.

— Posso lhe garantir, Sra.Genevieve, que minha irmã terá alguém para lhe fazer companhia por toda a sua eternidade, não que seja alguém agradável aos olhos dela. — Ray pisca para mim enquanto se refere a ele mesmo. Ridículo. O restante do jantar foi seguindo com meu pai se esquivando de todas as indiretas de Genevieve para certos compromissos.

Depois do jantar eu e Ray fomos acompanhar Theo e Mandy até seus aposentos. Zerek disse não se sentir bem e pediu licença para se recolher. Não o julgo, acabou de sair de um lugar horrível e deve estar exausto, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Ray caminha ao meu lado, sua postura está ereta, os braços para trás, os irmãos Sallow nos seguem poucos passos atrás.

"— Você viu a medalha de ouro que Theo carrega?" — Olho de lado para Ray que continua inabalável, sem demonstrar nenhuma emoção. Mas os seus pensamentos são tão devassos nesse momento.

"— Você tem dezenas dessas Rayleigh, fique fora de problemas." — há uma sombra de sorriso em seus lábios. Ele não vai me ouvir, como sempre. Ray tem compulsão por perigo e travessuras, ele vai pegar a medalha somente por pura diversão, se ninguém descobrir que foi ele, Ray venderá e dará para os mais pobres do nosso reino. É o que ele faz, com todas as suas coisas e com as dos outros. As poucas coisas de valor que ele ainda tem, são presentes que eu lhe dei.

— Então… — pela décima vez me arrepio ao ouvir a voz de Theo. — O que vocês costumam fazer para passarem o tempo?

— Gosto muito da biblioteca. — digo sem olhar para trás. — Ray gosta de passar o seu tempo cortejando as nossas moças.

— Há algo melhor para se fazer? — Ray sorri de lado e reviro os olhos. — Você irá adorar as moças do reino, Theo, ou os moços.

Empurro Ray pelo ombro e ele ri alto, Theo ri junto, mas sua risada é visivelmente forçada. Mandy continua calada, ela parece não ser do tipo que gosta de se comunicar.

— Não tenho dúvidas de que me encantarei com as moças. — sinto que estou sendo observada e olho por cima do ombro. Theo está com seus olhos vermelhos fixos em mim.

"— Você está caindo nos truques dele, irmã"

Volto a olhar para frente, ainda atordoada, Ray tem razão. Há muitas outras coisas com que devo me ocupar.

— E você Mandy, o que gosta de fazer? — pergunto tentando não pensar em nada constrangedor.

— Mandy pensa que é bruxa. — Theo diz com uma risada.

— É mesmo, Mandy? — meu irmão enfatiza o nome dela sem dar espaço para o Theo responder em seu lugar.

— Só gosto de experimentos, descobrir novas coisas com a ciência. — Ray sorri de lado e pisca para ela que abaixa a cabeça.

"— Penso que temos alguém com quem você poderá dividir seus experimentos, irmão" — Rayleigh sorri abertamente para si mesmo enquanto vira o corredor.

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Depois de deixar os irmãos Sallow em seus devidos aposentos, Ray e eu fomos em direção aos nossos, porém, antes mesmo de chegarmos ao nosso corredor, alguns uivos são ouvidos, olho desesperada para Ray que me devolve o mesmo olhar.

"— Lycans." — dizemos em uníssono, mas os uivos não estão vindos do lado de fora, está vindo dos corredores. Então, como em um estalo, minha mente vai diretamente para o garoto de olho dourado.

— Zerek. — digo alto antes de começar a correr em direção aos uivos, são dolorosos, como se ele estivesse sofrendo. Em frente a sua porta, tem alguns soldados armados, prontos para entrarem. — Não se movam.

Todos viram para mim e Ray, antes que alguém diga algo, um estrondo é ouvido do outro lado da porta de Zerek. Sem pensar duas vezes, derrubo a porta com o pé. Um grande conjunto de suspiros é ouvido quando a porta vai ao encontro do chão.

— Tire todos daqui, Ray. — sussurro, mas ele me olha como se eu fosse louca. — Por favor?

Ray concorda com a cabeça e começa a tirar os soldados dali, quando estamos a sós, eu e ele, começo a me aproximar com cautela desviando dos destroços espalhados pelo cômodo. Em minha frente está Zerek, mas não como normalmente, ele está transformado, sua altura quase dobrou, o corpo magro, agora tem músculos com poucos pelos, muito menos do que um Lycan normalmente tem. Suas garras são enormes, e sua presas… Não sei como, mas são maiores que deveria, porém, seu rosto, ainda é o dele, não há quase nenhuma mutação em suas feições, a não ser pelas orelhas pontudas e o nariz um pouco achatado. É diferente de tudo o que eu já vi. Seu olho brilha como a lua de sangue.

— Zerek… — sussurro chamando sua atenção, em seu olho vejo que ele não me reconhece, um rosnado vibra em seu peito enquanto ele toma postura de defesa, ou seria de ataque? — Zerek, sou eu, Áurea, se lembra?

Outro rugido ainda mais forte, as paredes quase tremem, sinto o cheiro de Ray muito próximo, as orelhas de Zerek se movem, ele também sentiu uma aproximação, seu olho nunca deixa os meus e ele avança em minha direção como um raio, rápido demais para que eu raciocine, a única coisa que posso fazer agora é colocar os braços em frente ao meu rosto.

Blood (Sangue)Onde histórias criam vida. Descubra agora