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Rayleigh.

Estúpido. Como você pode ser tão estúpido, Ray? Mais uma vez você caiu nos encantos da sua irmã mais nova. E olha só no que vocês se meteram: perdidos na floresta, sem poder saírem do lugar por conta do cheiro de sangue mestiço.
De longe consigo observar como Áurea cuida de Zerek, suas emoções estão cada vez mais afloradas, não gosto disso, não gosto de saber o que ela sente, isso é uma completa invasão de privacidade. Quem foi o maldito que teve a brilhante ideia de criar laços tão fortes com os gêmeos? Argh! Não consigo ficar parado aqui vendo e sentindo tudo isso de uma vez.

— Vou dar uma volta no perímetro para garantir que estamos seguros. — nem sequer dei tempo para minha irmã responder aos meus resmungos.

Para minha surpresa, o cachorro decidiu me seguir. Ele pensa que me engana com essa cara peluda e rabo balançando. Estreito os olhos para ele, mas ele simplesmente ergue a cabeça e continua caminhando como uma realeza me ignorando totalmente.

— Você não me engana, cachorro. — rosno baixinho e ele me olha de canto.

Ele continua em silêncio e andamos cerca de 3 km em círculos ao redor de onde minha irmã está com Zerek.

— Áurea é tão teimosa. — um suspiro me escapa e desabo sentando no chão de terra escura, o lobo se deita ao meu lado sem tirar os olhos curiosos de mim. — Sabe cachorro, avisei para ela que isso era uma péssima ideia, sabia que iria se apaixonar. Agora olha só onde estamos… sem contar que temos pouco menos de 10 meses com Zerek, sei que ela vai desmoronar quando a sentença dele for cumprida, é por isso que tenho que fazer alguma coisa.

Eu só posso estar louco, estou desabafando com um animal. Reviro os olhos enquanto encosto minha cabeça no tronco da árvore, analiso o lobo que está com seu olhar fixo em mim como se entendesse tudo o que acabei de dizer. No fundo, sei que ele entendeu perfeitamente.

— Você gostou dela, não foi? — sorrio de lado quando ele inclina a cabeça desviando os olhos de mim. — É claro que gostou, ela é encantadora.

Um pequeno rosnado vibra em seu peito me fazendo arquear as sobrancelhas. Quando percebo o motivo não consigo controlar a gargalhada. — Está com ciúmes? Eu não posso acreditar, esqueça cachorro, ela já tem um amor. — posso jurar que vi ele revirando os olhos azuis.

Fecho os olhos tentando focar nos meus sentidos; o vento sopra cada vez mais frio, os animais se acolhem em suas casas, o dia começando a se transformar em noite, o cheiro de terra molhada, das flores, cheiro da Áurea misturado com o de Zerek, o sangue forte dele. Mas nada fora do comum, isso é bom. Abro os olhos e vejo o lobo em pé na minha frente, seus olhos me examinam com cuidado. Cachorro idiota.

— O que foi? — resmungo e ele vira as costas para mim se sentando como se estivesse se colocando de guarda. — Você com certeza é o animal mais estranho que eu já vi; isso é, se você for mesmo um ani…

Não consigo terminar a frase, sinto uma dor terrível em meu peito, um desespero incontrolável, tristeza, angústia, culpa, dor... Áurea. Arregalo os olhos me colocando de pé começando a correr em sua direção. Sinto o seu estado de pânico, tento captar qualquer movimento fora do comum, um cheiro, barulho, qualquer coisa. Mas não há nada. Quando chego aonde deixei minha irmã com o Zerek, vejo seus corpos agarrados um ao outro, estão dormindo. Então? O que é isso que estou sentindo?
O lobo se apressa na direção da Áurea, ele passa seu focinho na mão dela e me encara com um olhar suplicante, eu não entendo até ver que ela está com uma feição dolorosa.

— É um pesadelo. — sussurro chegando perto deles, tomo cuidado para tirar ela dos braços de Zerek que parece tremer sem o contato dela, ou pelo vento frio. O cachorro percebe e se deita ao lado dele, pego minha irmã no colo como um bebê, balanço seu pequeno corpo contra meu peito enquanto sussurro em seu ouvido. — Está tudo bem, estou bem aqui com você, não tenha medo minha garota boba.

Aos poucos os sentimentos sufocantes vão sumindo e ela se encolhe no meu colo, respiro aliviado. Retiro minha capa com uma mão e jogo por cima de Zerek. Minha irmã já lhe cobriu com a dela, mas com o vendo frio ao nosso redor, uma não será o suficiente para mantê-lo aquecido. Por sorte, o frio não faz nem mesmo cócegas em nós vampiros.

— Que bela visão... — sinto todos os pelos do meu corpo arrepiar com a voz forte e fria atrás de nós. Como eu não percebi a sua chegada?

— P-pai? — olho por cima do ombro encontrado, dois olhos vermelhos brilhando em chamas. — Posso explicar.

Ele não está sozinho, toda a guarda real se colocou em nossa volta como um grande círculo de proteção. Engulo em seco me amaldiçoando por ser o único acordado.

— Oh! Eu sei que pode, pequenino. — reprimo a vontade de revirar os olhos, odeio o modo como meu pai se dirige a nós como se ainda fôssemos crianças. Mas espera...

— Você não está bravo? — o espanto em minha voz é notável para qualquer um.

— Há estou, você não tem ideia do quanto quero arrancar a sua cabeça agora, Rayleigh. — encolho os ombros apertando ainda mais Áurea em meu colo, seus olhos vão para a garota dormindo e se voltam para mim. — Mas eu também estou aliviado por vocês estarem bem e por você ter mantido sua promessa cuidando de sua irmã. Sei que você só fez a vontade dela vindo até Zerek, mesmo que isso fosse errado e perigoso, estou orgulhoso de você.

Pisco algumas vezes voltando a olhar para o rosto pálido de Áurea, estreito os olhos quando vejo o pequeno sorriso em seus lábios, somente eu posso ver, já que seu rosto está fora do campo de visão do meu pai.

"— Também estou orgulhosa de você." — seu sussurro em minha me faz sorrir.

"— Garota boba."

Blood (Sangue)Onde histórias criam vida. Descubra agora