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Termino de alinhar o meu vestido, cor de sangue em frente ao grande espelho, hoje é dia do casal Sallow voltarem para sua Vila. Theo e Mandy, por outro lado ficaram mais algum tempo de modo a se aprofundarem em seus interesses: Theo com os soldados e Mandy com magia. Ray diz que ela tem uma boa luz dentro de si, o que eu não entendo. Ray sempre demonstrou ter herdado algumas habilidades de nossos antepassados. Assim que abro a porta para sair pelo corredor dou de cara com Zerek. Ele desvia o olhar para o chão e se curva em comprimento. Há semanas que esse é o único contato que ele tem comigo, sinto um aperto em meu peito todas às vezes em que ele se mostra distante.

— Como você está essa tarde, Zerek? — minha tentativa de manter qualquer contato com ele sempre é falha.

— Muito bem! Senhorita… — seu tom de voz é um pouco mais elevado que um sussurro.

— Certo… — meus ombros se encolhem com outra resposta curta de sua parte.

Andamos em silêncio até a sala de jantar, mas assim que viramos o corredor, consigo ouvir grunhidos raivosos e vozes alteradas. Zerek e eu trocamos um olhar desconfiado e rapidamente estamos abrindo as grandes portas. Genevieve está caminhando furiosamente de um lado para o outro, enquanto Griff está sentado sem se importar com o comportamento de sua esposa, Mandy está de cabeça baixa possivelmente envergonhada. Theo tenta acalmar sua mãe, meu pai me lança um olhar preocupado assim que me vê, e Ray… bem, Ray parece culpado.

— Você… — Genevieve aponta para Zerek ao meu lado — Foi você que roubou meu filho.

Um suspiro me escapa, quase que instantâneo, me coloco à frente de Zerek, meus olhos encontram Theo, ele balança a cabeça em negação enquanto passa a mão em seu rosto.

— Não diga bobagens, mãe. — o loiro resmunga impaciente. — Você não tem provas, não pode acusar alguém assim. Além do mais, era só um medalhão velho.

Rosno encontrando o olhar de Ray, que desvia no mesmo momento.

"— O que eu te disse, Rayleigh? Olha a bagunça que você fez. Conserte isso. Agora.” — os berros que dou em sua mente faz com que ele coloque a mão na cabeça.

— Eu… eu não roubei nada, senhora. — Zerek murmura saindo de trás de mim, Genevieve o olha com nojo e isso faz meu estômago se revirar.

— Não fale comigo… aberração. — arregalo meus olhos e antes que eu possa fazer algo, um estrondo nos chama atenção.

Meu pai tem os dois punhos na mesa, ou parte do que restou dela, seus olhos brilham com raiva, as presas que ele raramente mostra, estão para fora nesse momento.

— Exijo respeito, respeite as pessoas dentro destes muros. Todas elas. — Ronan rosna fazendo a mulher dar um passo para trás.

— Mas… — meu pai interrompe Genevieve ao se levantar, parece que ele está alguns centímetros mais alto. — Peço… perdão, meu rei.

— Não é para mim que deve pedir perdão… senhora. — o desdém escorre como veneno pelos lábios de meu pai.

Genevieve parece se sentir humilhada, ela se vira lentamente para Zerek que ainda está atordoado. A mulher se curva com um pedido de desculpa, ao se endireitar, Zerek acena com a cabeça.

— Agora, vamos resolver isso da maneira correta. — Ronan se senta novamente enquanto massageia suas têmporas, ele lança um olhar afiado para Ray. — Rayleigh, você gostaria de nos dizer alguma coisa?

Arqueio a sobrancelha e cruzo os braços, meu irmão ajeita o colarinho de sua roupa antes de limpar a garganta.

— Achei um medalhão nos corredores, como não sabia a quem pertenciam vendi no centro do vilarejo e doei para uma pequena escola. — estreito os olhos, Theo encara meu irmão, ele claramente não acredita no fato de meu irmão ter por acaso encontrado o medalhão no chão.

— Tudo bem, tenho certeza que o ouro foi bem aproveitado por quem precisa. — Theo sorri minimamente, o tom sincero em sua voz causa surpresa em sua mãe e meu irmão. — Mas quando você encontrar outro medalhão por aí que seja meu… ficarei grato se você pedir permissão para vendê-lo.

Ray sorri agradecido e aliviado ao mesmo tempo. Eu pego duas taças de sangue na mesa e saio da sala arrastando Zerek comigo sem dizer nada a ninguém.

— Sinto muito por tudo isso. — entrego a taça para ele enquanto caminhamos até a parte de fora do castelo, o sol está se pondo e nos sentamos em um dos bancos onde os últimos raios de luz não alcançam.

— Não sinta, você não tem culpa. — ele da, um pequeno gole antes de suspirar. — Cresci cercado de todo esse preconceito, é algo… triste, mas me acostumei.

— Não devia, jamais! — ele me encara confuso. — Se acostumar, não pode simplesmente aceitar e se conformar com isso.

Zerek sorri fraco e volta seus olhos para o por do sol, ele deixa sua bebida de lado e pega a minha mão. Choques de eletricidade percorrem as minhas veias, céus… como eu senti falta do seu toque quente em minha pele fria.

— Não disse que me conformei com tudo isso. — seu olhar está distante. — Até porquê, minha irmã foi morta pelo preconceito e ignorância dos humanos.

— Como ela era? — sinto a curiosidade tomando conta de mim, pelo modo carinhoso do qual ele sempre usa para falar dela.

— O nome dela era Satilla, corajosa, inteligente, carinhosa… — Zerek desvia o olhar para o meu rosto, vejo a emoção brilhando pelo dourado do seu olho. — Ela era a minha família, tudo o que eu tinha.

Sem pensar, puxo seu corpo para junto do meu em um forte abraço, seus músculos estão tensos sob o meu toque repentino, mas logo ele começa a relaxar. Sua respiração faz cócegas no meu pescoço, o ar quente me causa arrepios estranhos.

— Você tem uma nova família aqui, Zerek. — murmuro fazendo movimentos circulares com os dedos em seu cabelo escuro. — Você tem à mim agora.

Sinto seus lábios macios na curva do meu pescoço, ele deposita leves beijos até que sinto as pontas se suas presas raspando na minha pele sensível e um pequeno gemido escapa dos meus lábios.

— Sua pele é tão macia. — seu sussurro contra a minha pele me faz afastar um pouco para olhar seu rosto, suas bochechas estão coradas e o dourado de seu olho está ficando alaranjado.

— Zerek… você está bem? — ele sorri de um jeito sombrio, então pelo canto dos olhos, noto a lua vermelha. Oh! Merda.

Blood (Sangue)Onde histórias criam vida. Descubra agora