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Com os olhos ainda fechados espero pelo seu ataque, pela dor e pelos meus gritos. Mas nada acontece, ao contrário sinto seu hálito quente próximo a mim, lentamente abaixo os braços e abro os olhos, Zerek está a pouco mais de cinco centímetros de mim, seu rosto se aproxima ainda mais do meu quando meus braços já estão baixos. Sinto à presença de Ray, ele está parado na porta, sem se mover.

— Áurea — uma voz grossa e animalesca, sussurra no meu ouvido, oh! Céus. Ele se lembrou. Zerek passa seu rosto no meu, logo depois funga o meu pescoço e então, algo que eu nunca imaginei acontece. Zerek se senta no chão com as pernas cruzadas como um animalzinho dócil.

— Julgo que ele gosta de você — Ray diz com certo deboche, mas o ignoro. Levanto minhas mãos e levo até os cabelos bagunçados de Zerek, ele ressona com o pequeno carinho até seus braços irem ao redor da minha cintura, ele abraça meu corpo e aos poucos vai voltando a sua forma normal porém, adormecido.

— Deixe que coloco ele de volta na cama. — Ray segura Zerek pelo tronco de seu corpo sem dificuldades, ele se vira para por Zerek na cama, mas para. — Certo, não tem mais cama.

Olho em volta e vejo o colchão jogado próximo ao biombo, aponto para o meu irmão e ele deposita o corpo desacordado de Zerek. Tudo está uma verdadeira bagunça.

— Vá se deitar, vou arrumar o máximo que conseguir dessa bagunça. — Ray se aproxima de mim, mas nego com a cabeça.

— Vou lhe ajudar. — nós dois conseguimos limpar tudo, mais rápido do que o esperado. — Nosso pai sabe?

Ray deixa a porta encostada na parede e me chama para o corredor, em silêncio ele me guia até seus aposentos.

— Ele sabe mas não disse nada, por enquanto. — Ray me responde enquanto anda de um lado para o outro. — Você julga que ele representa algum risco para nós?

— É do Zerek que estamos falando, claro que não. — brado e ele me lança um olhar sugestivo.

— O mestiço que acabou com três vilarejos… — meu irmão coloca às duas mãos na cabeça. — Irmã, confio nele. Mas não confio na fera dele.

— A fera não fez nada contra nós, ele podia, mas não fez. — em um rápido movimento, Ray está tão próximo de mim quanto Zerek estava momento atrás.

— Ele ficou isso aqui. — Ray aponta com o dedo para nossa pouca distância. — Longe de fazer algo contra você.

— Mas não fez. — sussurro sentindo minha respiração pesada.

— Mas ia… e céus. Você sabe o que eu iria fazer com ele se tivesse ferido você. — Ray rosna se afastando de mim.

— Ele não teria tal intenção.

— E como você pode saber? — o berro que Ray deu agora, me fez dar um passo para trás.

— Ele é seu amigo, Rayleigh. — berro de volta.

— E você é minha irmã, droga. — ele soca a parede, sua mão atravessa as grossas pedras negras, fazendo com que sua pele queime pelo sol que está do lado de fora, me assusto, mas ele parece não se importar com a dor — Prometi que cuidaria de você, então não espere que eu vá perdoar ou ter misericórdia com alguém que lhe machucar.

— Zerek nunca irá me machucar. — digo com toda a certeza que percorre pelas minhas veias. Ray se vira para me olhar nos olhos.

— Espero, Áurea. Eu não gostaria de ter que matar um amigo. — com isso ele se retira rapidamente, me deixando sozinha vendo a pouca luz que entra naquele enorme escuro. Fecho os olhos tentando me acalmar.

— Ele tem razão. — me assusto ao ouvir a voz de Zerek, como eu não percebi que ele estava aqui? — Deixe-me ir, sou perigoso, Áurea.

Me viro rapidamente vendo ele encolhido ao lado de fora do corredor, seu olhar está cravado no chão, seus braços estão ao redor de si mesmo.

— Ray só está nervoso, não de ouvido para o que ele disse. — murmuro caminhando em sua direção.

— Eu jamais me perdoaria se lhe ferisse, entendo os sentimentos do vosso irmão. — fico em silêncio e me sento no chão ao seu lado.

— O que houve para você perder o controle hoje?

— Pesadelos. — murmura escondendo a cabeça entre os joelhos. — São sempre os malditos pesadelos.

— Quer me dizer o que acontece neles? — Zerek timidamente encosta sua cabeça em meu ombro, quase prendo a minha respiração.

— Hoje, não. — sussurra cansado.

— Você me assustou. — murmuro, me lembrando dos acontecimentos. Zerek tenciona os músculos, ficando quase imóvel. — Pensei que perderia você para aquela fera.

Aos poucos ele vai relaxando, em silêncio ele levanta sua cabeça e sua mão vai para o meu rosto, seu toque quente me causa arrepios e sensações estranhas das quais nunca senti antes. Lentamente ele vira o meu rosto em sua direção ficando tão próximo de mim, quase sinto sua respiração contra a minha pele. Com o seu polegar ele faz pequenos carinhos enquanto se aproxima ainda mais de mim. Zerek abre a boca várias vezes, mas não diz nada, por fim, ele suspira pesadamente.

— Você não vai me perder tão facilmente. — sussurra tão baixo que se não estivéssemos tão próximos eu não teria entendido.

Concordo com a cabeça, imediatamente. Sem me afastar levo a minha mão para o seu rosto, sinto sua pele e o couro que protege seu olho. Sem conseguir me conter puxo ele ainda mais para mim, colocando os meus lábios nos dele.

Blood (Sangue)Onde histórias criam vida. Descubra agora