Não posso mais negar

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Jimin passara quase toda a madrugada pensando, suas olheiras já eram aparentes. Ele nunca esteve tão confuso sobre si, e paradoxalmente, as coisas nunca fizeram tanto sentido. O fato de que ele não tinha interesse em mulheres, de que não  sentia aquele desejo insaciável que seus amigos falavam tanto. Melhor dizendo, Jimin não era um puritano, ele sentia sim, desejos, só não era muito bom em compreendê-los, então simplesmente achava melhor suprimí-los. Um dia, quando seu corpo resolvera se encher de excitação após alguns goles de champanhe, o Park tentou imaginar uma mulher sobre si, nua, tocando-o e se esfregando em sua pele. Ele não sentiu nada, nada do que supostamente devia sentir. Agora, quando imaginava Jungkook, no entanto, beijando-o, tocando-o com suas mãos grandes, era como jogar uma faísca diretamente em seu corpo inundado por gasolina. Suas bochechas queimavam com esse pensamento. E ele sentia vontade de sorrir e chorar ao mesmo tempo, porque não fazia muito sentido, para si, sentir desejo por um homem, mas àquele ponto, Jimin percebeu que já não se importava tanto. Durante toda a sua vida, ele se questionou. Seguiu todas as normas, tudo o que devia fazer, mesmo com aquela sensação constante e irritante de que as coisas não se encaixavam. Ele foi tudo o que diziam que um homem devia ser, e isso não lhe trouxe nenhuma felicidade, apenas angústias e incertezas. Então, ele pensou que para ser feliz, talvez devesse seguir o que consideravam errado.
     
Jimin encarou o céu, sentado na cadeira que tinha ali, e observou o sol dando sinais de seu nascer. Mais uma vez, Jungkook veio à sua mente, e seu estômago borbulhou. Talvez, ele pensou, eu devesse parar de matutar tanto. Jimin se assustou, quando, de repente, a porta que levava à varanda se abriu, mostrando uma mulher mais velha segurando itens de limpeza. Ela se surpreendeu ao vê-lo ali, sozinho e tão cedo, e pediu mil desculpas. Ele, constrangido, murmurou um "tudo bem" e entrou correndo na casa. Tinha que falar com Jungkook, mas não sabia como.

...

Quando o café da manhã chegou, o clima estava um pouco estranho para Jimin e Jungkook. O nervosismo dos dois era tanto que Jungkook até mesmo se esquecera da pequena discussão com seu pai na noite passada.
    
 - Tem algo de errado com a comida? - Mingyu perguntou, vendo que os dois mal tocaram no prato de torradas amanteigadas  e frutas caramelizadas. Se Mingyu e Nayeon fossem mais atentos, teriam notado os olhares entre os homens à sua frente. Teriam notado a forma como eles pareciam corados, e como suas expressões estavam receosas, como as de um garoto que foi pego aprontando.
       
- Ah, não! - Jimin negou, envergonhado por parecer estar fazendo desfeita. Ele pensou que, se sua mãe o visse nesse momento, puxaria sua orelha com muita força - Está uma delícia. Eu só... comi muito no jantar de ontem.
     
- E eu estou com um pouco de azia - Jungkook mentiu, com um sorriso amarelo.
   
- Ah, tenho um pouco de sal de frutas no meu quarto - Nayeon se pronunciou, já se levantando. Jungkook protestou, fazendo -a  se sentar novamente, com uma expressão confusa no rosto. E assim, o silêncio na mesa voltou, e os quatro não souberam quebrá-lo.
     
Quando, para o alívio de Jimin, o café da manhã terminou, Mingyu os convidou para aproveitar o dia tomando chá perto do lago. Nayeon, empolgada, foi rapidamente colocar seu vestido de verão. Mingyu, então, pediu aos criados que levassem pães doces junto ao chá para o lado de fora. O Park e os Jeon se puseram a sentar às mesas de madeira que ficavam do lado de fora, cobertas por enormes sombrinhas de um tecido fino, e começaram a conversar.
      
Jungkook tomou a decisão de se sentar ao lado de Jimin, pois não aguentava mais aquela tensão entre eles. Precisava conversar.
     
- Jimin? - Ele chamou baixinho, tentando não se sobressair às vozes de Nayeon e Mingyu, que falavam alguma coisa sobre o clima.
   
- Por favor, Jeon, não vamos falar sobre isso agora. Sua família está aqui do lado.
      
       
Embora chateado pela resposta, Jungkook não pôde evitar de pensar que seu sobrenome soava extremamente sexy na boca do outro. Ele respirou fundo, se repreendendo por ser tão pervertido.
     
Jimin notou sua expressão murcha e se sentiu culpado. Não queria que Jungkook pensasse que ele estava zangado ou algo do tipo

- Ei - Ele chamou - Seu pai disse que do outro lado do lago tem peixinhos dourados...
    
Jungkook o olhou, um pouco confuso.
     
- Tem sim.
     
- Eu posso ver? - Jimin perguntou, sem olhá-lo nos olhos. A reação de Jungkook, no entanto, fez com que ele quisesse se parabenizar por propor aquilo: ele abriu um daqueles sorrisos que derretia Jimin por dentro. Sinceramente, o Park achava que se Jungkook pedisse qualquer coisa com aquele sorriso, ele cederia.
     
- Claro! Podemos ir depois do almoço.

...

 - Jungkook, eu não tô vendo nada - Jimin resmungou, frustrado. Ele encarava as águas rasas do lago, translúcidas o suficiente para ver o fundo de terra e algumas plantinhas aquáticas. Mas nenhum peixinho dourado, como Jimin queria. Eles estavam ali fazia poucas horas, havia sido difícil driblar Mingyu, que queria que Jimin passasse aquele tempo livre com sua filha.
      
- Chegue mais perto - Jungkook disse, com uma expressão muito estranha em seu rosto. Ele se aproximou, tocando a cintura do mais baixo, deixando-o rígido e arrepiado.
      
Quando Jimin pensou que ele fosse tomar alguma atitude romântica, sentiu-se empurrado na água morna. Quando emergiu, ensopado e incrédulo, viu Jungkook quase rolando de rir. Isso, ele pensou, não vai ficar assim.
    
Jungkook mal raciocinou quando suas pernas foram puxadas para dentro do lago, juntando-se a Jimin. Os dois, então, começaram uma brincadeira infantil de se empurrar e jogar água um no outro, rindo até sentirem a barriga doer.
      
- Você é ridículo - Jimin disse de forma quase carinhosa. Sorriu, observando a luz do sol, que já se atenuava, tocar o rosto de Jungkook, evidenciando cada aspecto dele que Jimin achava perfeito: os olhos redondos e brilhosos, o nariz avantajado, o sorriso intenso e a covinha que aparecia de vez em quando. Ele tinha certeza de que, se seu coração batesse um pouquinho mais rápido, sairia pela sua garganta - Arruinou minhas roupas.
       
- Só estão um pouco úmidas  - Jungkook riu, sarcástico. Ele também não estava muito diferente; não conseguia tirar os olhos do homem à sua frente. Jungkook teve certeza, ao olhar o rosto delicado e salpicado de gotinhas d'água de Jimin, que já estava completa e irremediavelmente apaixonado. Sem conseguir se segurar por mais nenhum segundo, se aproximou do rosto alheio devagar e tocou seus narizes, sentindo que nada no mundo lhe traria tanta paz quanto sentir a respiração calma de Jimin junto à sua.
       
Jimin, por sua vez, não aguentava mais ver os lábios de Jungkook tão perto de si. Ele precisava sentí-los mais uma vez. Com esse pensamento em mente, colocou suas mãos nos ombros fortes do Jeon, e o beijou. Sendo rapidamente correspondido, teve sua cintura, que estava parcialmente imersa na água, segurada com carinho. Por vários minutos, eles se beijaram e trocaram várias carícias, até caírem num silêncio acolhedor.
    
- Ei - Jungkook sussurrou, de repente - Os peixinhos estão aqui.
    
Jimin saiu de sua bolha de paixão e olhou a água, constatando, animado, que havia vários peixinhos nadando aos seus pés. Ele estava tão feliz que podia ficar ali para sempre, mas o pôr do sol já avisava que eles precisavam voltar para a casa de lago. Para a realidade onde Jimin tinha um compromisso com Nayeon. Quando olhou para Jungkook, viu em sua expressão desanimada que ele pensava o mesmo.
     
 - Vem - Park segurou sua mão, puxando-o da água sem muito ânimo - Sua família deve estar esperando.

....

Ceninha clichê? Sim. Foi meio que inspirada num filme adolescente dos anos 2000 da Disney? Sim

O errado é o certoOnde histórias criam vida. Descubra agora