CAPÍTULO XVI

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No dia seguinte, ela para de respirar pesado. Ainda deitada no chão, espero pelos sons do acordar dela. O espreguiçar, o respirar fundo e os pequenos resmungos.

- Lauren — ela diz meio sonolenta.

- Sim? — Respondo.

- Eles estão certo, sabia? — Ela me diz.

- Quem? — Indago.

- Os esqueletos. Vi as fotos que eles mostraram. Eles estão certos sobre o que provavelmente vai acontecer.

- Quando seu grupo atacou, minha amiga Normani se escondeu embaixo de uma mesa e viu você me capturar. O pessoal da Segurança pode demorar um pouco até descobrir pra que colmeia vocês me levaram, mas vão acabar descobrindo, e meu pai virá aqui. E vai matar você.

- Já estou... morta — respondo.

- Não está não! — ela fala e se senta em sua poltrona. - É óbvio que não está.

Penso naquilo um pouco.

- Você quer... ir pra casa.

- Não — ela diz parecendo chocada.

- Quer dizer, sim, claro que quero, mas. Ela solta um suspiro de frustração.

- Ah, Deus, isso não importa. Sim, tenho que ir. Senão eles virão e acabarão com você. Com todos vocês.

Fico em silêncio de novo.

- Não quero ser a responsável por isso, entende?

Ela parece estar ponderando algo enquanto fala. A voz dela sai firme, mas confusa.

- Sempre me ensinaram que os zumbis eram cadáveres que andavam e que deviam ser descartados, mas... olha só você! Você é muito mais que isso, certo? E se tiver outros como você?

Meu rosto permanece inflexível.

Camila suspira.

- Lauren talvez você seja ingênua o bastante pra achar que se sacrificar é romântico, mas e o resto das pessoas aqui?

- Tem razão. — Digo. -Você precisa... partir.

Ela assente com a cabeça em silêncio.

- Mas vou... com você.

Ela ri alto.

- Para o Estádio? Você ficou louca, Lauren?

Faço que não com a cabeça.

- Certo, então vamos falar sobre isso. Você é uma zumbi. Bem preservada, linda, é verdade, mas ainda assim uma zumbi. E adivinha o que todos lá no Estádio fazem com zumbis?

Não falo nada.

- Matam zumbis. Então, se é que ainda não ficou claro, você não pode ir comigo, senão eles vão te matar!

Estralo a mandíbula.

- E daí?

Ela deita a cabeça e seu sarcasmo se dissolve. A voz dela se torna provocativa.

- Como assim "e daí?" Você quer morrer? De verdade?

Dou de ombros por reflexo, pois isso foi minha resposta para tudo durante muito tempo. Mas enquanto estou ali, deitada no chão, com os olhos dela me olhando cheios de preocupação, me lembro da sensação que me invadiu no momento que acordei ontem, uma sensação de "Não!" e "Sim!". Aquela sensação contra o dar de ombros.

- Não — eu falo para o teto. - Não quero morrer ainda.

E enquanto digo isso, percebo que quebrei meu recorde de sílabas.

Camila assente.

- Que bom.

Respiro fundo e fico em pé.

- Preciso... pensar — falo, evitando olhar nos olhos dela.

- Volto... logo. Tranque a...porta. Saio do avião e os olhos dela me seguem.

Minha namorada é uma zumbiOnde histórias criam vida. Descubra agora