Paixão Excessiva

Vinte e Quatro

Depois que saímos do pomar, Trevor me deu um tempo para juntar as minhas coisas na casa da minha mãe que, acredite ou não, já tinha ido juntamente com o meu pai para a suposta viagem. Tudo o que eles deixaram, além de um até qualquer dia, foi uma carta resumindo que se precipitaram em ir me ver e acharam que eu seria uma boa filha em ajudar na necessidade que tinham para irem ao Egito. Não deixaram um "Eu te amo" e nem um "Adeus". Foi frustrante, mas nada do que eu não pudesse ter esperado, então só peguei minhas coisas, deixei a chave em baixo do vaso de plantas e subi na moto de Trevor.

Não imaginei que estaria de volta tão rápido. Tampouco imaginei que teria voltado com ele. Acontece que o destino tinha disso. Ele era completamente imprevisível e eu sempre caía em suas artimanhas.

Trevor subiu comigo, ambos em silêncio, quando chegamos no apartamento. Ele parou na porta depois que eu a abri. Reparei que o apartamento estava vazio, não cheguei a avisar Jessica que eu estava de volta. Tirei o tênis e o deixei ao lado da porta, juntamente com a minha pequena bagagem. Suspirei, percebendo que ele ainda estava ali, imóvel.

—Não vai entrar? —Perguntei, depois de pensar por um momento se seria algo inteligente a se fazer.

Seus olhos me analisaram por alguns segundos antes dele assentir.

—Sim, vou. 

De repente, percebi que meu coração estava freneticamente rápido. Absurdo que só sua presença me causasse isso. Mesmo assim, o clima entre nós estava seco. Era como se tivéssemos voltado a nos falar depois de anos. Estranho e confuso.

—Quer alguma coisa? Está com fome?

Reparei quando ele enfiou as mãos nos bolsos da calça e deu de ombros.

—Eu posso cozinhar algo para nós, se preferir tomar um banho.

Assenti. Eu precisava mesmo de um tempo sozinha para limpar a cabeça. Um banho parecia a coisa mais sensata no momento.

—Não devo demorar. —Falei, antes de pegar a bolsa e leva-la até minha cama. Depois peguei uma roupa quente e fui para o banheiro.

Me encarei no espelho. Meus olhos estavam levemente inchados e um circulo roxo estava presente em cada um deles. Respirei fundo. Eu estava com uma aparência de alguém que não dormia a semanas. 

Não aguentava mais chorar. Não aguentava mais lutar. Acho que eu só precisava de um pouco de paz e... sei lá. Ser feliz?

Liguei o chuveiro enquanto tirava as roupas. Me enfiei embaixo dele de uma só vez, deixando que a agua levasse aquele cansaço emocional pelo ralo. Mas eu duvidava que fosse tão simples assim.
Estar ali embaixo daquela ducha me deu um tempo para pensar. Minha decisão não foi a mais inteligente, eu vi de perto como Trevor Baker era capaz de manipular uma pessoa. Mas era só isso. Uma decisão. E eu saberia logo se essa foi a melhor.

Desliguei o chuveiro e me sequei rapidamente, enrolando os cabelos na toalha e me vestindo. Olhei outra vez meu rosto exausto no espelho. Passei a mão nele, uma vez que estava embaçado por causa da água quente.

—Burrinha. —Sussurrei para meu reflexo.

Tentei ensaiar um sorriso, mas falhei. Não tinha como mudar essa situação, só o tempo era capaz de vencer o sentimento ruim que ainda estava presente em mim.

Abri a porta depois de algum tempo com o olhar fixo nela. O cheiro de comida inundou o ambiente. Era maravilhoso, só assim entendi o quanto estava faminta.

Dei uma olhada rápida em Trevor antes de ir para o quarto, ele mexia algo dentro da frigideira e estava de costas para mim. Arrumei os cabelos rapidamente e usei uma loção pós banho que Jéssica sempre me emprestava.

Quando voltei para a cozinha, os pratos já estavam sobre o balcão e duas xícaras também.

—Eu achei um vinho na geladeira, mas me lembrei que não tem taças então...

Caminhei até a bancada e me sentei.

Trevor serviu nossos pratos com um arroz recheado e bife mau passado. Aquilo estava com um cheiro incrível.

—Você cozinhou rápido.

—O arroz já estava pronto, eu só reetemperei ele juntamente com a cebolinha e algumas coisas que encontrei.

Peguei o vinho que ele havia deixado sobre o balcão e servi nossas xícaras. Me lembrei de quando tomamos vinho pela primeira vez, sentados na sala enquanto saboreavamos uma pizza e assistíamos. Suspirei. Ali foi onde eu comecei a me perder.

Trevor deixou as panelas sobre a pia e deu a volta na bancada, sentando-se ao meu lado. Senti a tensão em cada gesto que ele fazia. Pelo visto não era só eu, então.

—Espero que esteja com fome.

—Estou faminta.

Ele sorriu de lado, como se tivesse contente com a resposta, então começamos a comer.

Nem poderia descrever como aquela comida estava espetacular. Era difícil encontrar algo em que Trevor Baker fosse ruim.

Quando terminamos ele retirou os pratos e os colocou na pia junto com as panelas, depois voltou a se sentar ao meu lado e completou nossas xícaras com vinho.

Bebi como se fosse água. Acho que no fundo eu estava esperando que o álcool fosse me deixar mais relaxada. Só que até agora, na minha quarta xícara, eu ainda estava bem tensa. Mal nos falamos desde que saímos daquele pomar. Era como se nossa relação tivesse sido abalada. Na verdade, era exatamente oque tinha acontecido.

O som da ligação no celular de Trevor quebrou aquele silêncio terrível. Automaticamente levei os olhos até a tela e vi que era seu pai. Ele suspirou, enquanto ainda encarava.

—Não vai atender? —Perguntei.

Eu só queria que aquilo tudo não fosse tão cansativo.

Trevor me olhou por um segundo e respirou fundo.

—Só me dê um minuto. —Ele respondeu, antes de se levantar e ir até a sala.

Não queria, mais era inevitável ouvir sua conversa. A cozinha era americana então não tinha uma parede capaz de abafar algum som.

—Richard. Não importa. E você acha que eu não sei?. Não. Não. Eu não sei! Talvez eu possa passar por aí, mas não vou garantir nada. Sim. Não. Não. Ok, Richard.

Eu não sabia do que se tratava aquela conversa, mas quando o silêncio voltou a tomar conta do lugar, eu pude ouvir uma respiração profunda de Trevor. Ele me pareceu frustrado, ou incomodado com algo. Em seguida, ouvi seus passos.

—Qual a possibilidade de você vir comigo até a casa dos Baker?

Rapidamente me lembrei do que ele havia dito sobre aquela situação toda ter sido culpa de Barbara e sinceramente eu não sabia se já era hora de vê-la, de estar no mesmo ambiente, de poder me esbarrar com ela. Tudo de ruim, se Trevor tinha dito a verdade, havia sido por culpa dela. Eu não acho que seria uma ideia inteligente ir até lá, assim como todas as que tive até agora.

Como se sentisse minha hesitação, Trevor passou os braços ao meu redor. Suas mãos acariciaram meus braços levemente. Fechei os olhos quando senti seus lábios próximos.

—Você é tudo na minha vida, Angel. Eu quero te fazer sentir isso. Quero que todos saibam por quem eu me apaixonei, quero que todos vejam. Não vou mais fugir disso.

Eu também achava exatamente a mesma coisa e estava cansada de não conseguir que algo na minha vida desse certo. Talvez, só por isso, eu sucumbi.

—Nem eu. Tô cansada de fugir.

Trevor se endireitou e virou minha cadeira de modo que eu estivesse sentada olhando ele de pé. Seus olhos eram fixos nos meus. Suas mãos seguraram as minhas e ele disse sem hesitação:

—Então namore comigo, Blair White.