Prologue.

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Heyoon.

Mais um dia passava-se, cantando no coral da igreja, todos estavam muito felizes, mais exageradamente do que em dias comuns. As freiras nos pediram para cantar uma canção especial hoje, algo relacionado a um "grande dia", antes e depois de cantarmos, podíamos ouvir sussurros como
"Obrigada Deus, por um dia como este! Finalmente nos libertamos. " "Céus, ele não é um padre, é um anjo escolhido a dedo pelo Senhor."

Coisas do tipo, não entendi ao certo o porquê daquela celebração toda, mas como meu pai sempre diz "não questione os planos do Senhor!"

Me assentei no banco ao lado de uma freira — que sempre me encarava com um olhar fuzilante, talvez estivesse me julgando. Logo meu pai assumiu o altar, falando sobre um dia de glória e mais algumas coisas que infelizmente não consegui entender, por ficar encarando de volta a tal mulher.

Ao final da missa, subi as escadas que ficavam acima do púlpito, onde existia quase uma passagem secreta com acesso para meu quarto. Estava cansada, havia passado horas ensaiando — aquilo parecia um desperdício de tempo. Joguei me com força em cima de minha cama e acabei por cochilar.

Eu estava em um lugar escuro, parecia-se com uma mansão um tanto antiga, corria sem parar — procurando algo, chamando algo, esperando algo, mas o que? — Corria como se não houvesse amanhã, uma sensação de estar sendo perseguida me ocorreu quando cheguei ao final de um corredor, me deparei com uma porta; coincidentemente trancada.

Me virei para procurar outra saída daquele local, quando vejo um rosto feminino, do nariz para baixo, encaro aquele ser, que se aproximava cada vez mais, ficando a poucos centímetros de mim. Fechei meus olhos e pude ouvir algumas risadas de diferentes timbres, pisquei e mais quatro pessoas apareceram, da mesma maneira que a primeira apareceu. Não consegui enxergar seus globos oculares.

  De repente, senti algo, como mordidas? Eu estava sendo mordida por aquelas pessoas, aqueles "monstros", estavam me machucando, eu implorava para que aquelas pessoas pararem, foi quando escutei a primeira voz "você quer mais?"

~

Senti meu corpo sendo tocado, me sacudindo um pouco, era meu pai — Não pude deixar de notar sua agitação pelo ato, que não era comum. Não deveria ter deixado a porta aberta. Levantei meu tronco, ficando sentada na cama, de frente para o mais velho, esperando que se dirigisse a palavra.

— Heyoon, uma vez me disse que gostaria de morar em outro país. — Quebrou o silêncio entre nós, me encarando diretamente nos olhos. — Aquilo foi tão de repente, nunca pensei na possibilidade de tocar neste assunto novamente. — Sim, meu pai. Entretanto não temos condições financeiras para isso, e o senhor retrucou quando eu contei, dizendo que eu acabaria me perdendo nos caminhos mundanos.

— Ir para o Reino Unido seria bom pra você. — Ah, céus! — Respirou fundo, passando a mão nos cabelos grisalhos, não esperou minha resposta e completou — Semana que vem você irá para Londres Heyoon. Trate de arrumar suas coisas.

— O senhor não deveria fazer este tipo de brincadeira, eu realmente gostaria de ir para lá. — Dei uma pequena risada entre minha fala.

— Heyoon, não estou brincando. — Não vou repetir, arrume suas coisas. — Seu timbre mudou junto de seu semblante, que agora estava sério. Levantou se da cama, fixando seu olhar em mim — um calafrio percorreu minha coluna quando me dei por conta o que estava acontecendo.

***

Seis dias desde aquela conversa estranha, amanhã eu finalmente iria para Londres. Por mais que tivesse desejado sair dessa jaula durante toda minha vida, aquilo foi tão inesperado que não sabia nem o que dizer. Pessoas da minha idade com toda certeza do mundo chamariam de "clichê" como é demonstrado nos meus livros — Infelizmente por a maioria abortar temas religiosos, não pude me infiltrar na cultura mundana.
Enfim sairia daquele coral, a qual era obrigada a cantar com todo tipo de pessoa, inclusive aqueles sem nenhum propósito, talvez eu seja um deles... não, é mais complexo do que isso, eu era um deles.

  Pelo fato de estudar em casa não pude conviver com outras crianças, ou seja, fui protegida por toda minha vida para focar no estudo religioso, e enfim me tornar uma freira. Meu pai nunca quis que eu tivesse contato com pessoas comuns, para que não apodrecesse minha essência.

Minhas coisas estavam todas arrumadas, mas eu precisava me despedir de meus amigos, peguei meu terço e o pendurei em meu pescoço, ajeitei meu cabelo e desci as escadas. Logo de cara encontrei um diácono, muito amigo meu, conversando com um frei, fui em direção a eles.

— DoHyun, meu querido, espero não estar atrapalhando... podemos conversar?
— HeYoon, querida - me abraçou - como está? - completou.
— Estou bem, certamente você também está, mas podemos conversar agora... nesse exato momento? — abaixei a cabeça, falando com a voz um tanto falha. Não queria incomodar.
— Claro, continuamos nossa conversa depois Frei Myung?

O frei que estava apenas observando assentiu e retirou-se, nos deixando a sós.

— Sobre o que queria conversar? - disse, fixando seu olhar em mim.
— Você já está sabendo da minha ida?
— Ida? Você vai para onde?
— Londres, Reino Unido. Pensei que já soubesse.
— Ah! Sim. Fiquei sabendo, você vai daqui a 1 mês, certo?
— Dohyun, viajo amanhã. - Não foi muita surpresa saber que ele estava um pouco atrasado nas informações, já que ele é sempre lerdo com esse tipo de coisa.
— Santo Cristo! Amanhã? Você ao menos arrumou suas coisas, nem se despediu...
— Tudo está pronto, só vim me despedir de algumas pessoas, irei às 6h em ponto.

Passei muito tempo conversando com DoHyun, honestamente, sentiria muita falta dele, tentei me despedir de todos — Mas nem todos quiseram ou ousaram falar comigo — como sempre, sendo extremamente querida ao olhar dos fiéis.

Subi as escadas em direção ao púlpito, já sem esperança de permanecer aqui, vivendo minha apática vida, com esses olhares. É automático, é apenas o que eles fazem.

Devia eu, choramingar em um lugar onde tudo é forjado? Espere... o que estou pensando!? Minha fé é o que importa, não possa perde-la de vista. Não importa lugar, continuarei a mesma, não serei Eve, prometo não abandonar o jardim, não desfrutarei do pecado. Oh, Céus! De repente tudo virou uma bagunça.

𝐇𝐞𝐫'𝐬 𝐁𝐥𝐨𝐨𝐝 | SiyoonOnde histórias criam vida. Descubra agora